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“Rápida analogia sobre o amor e o café”, escreve Hellen Lirtêz

Tão doce e amargo quanto um café contido na circunferência de uma cerâmica bonita é o amor. Quando o filósofo Zygmunt Bauman escreveu sobre “A fragilidade dos laços humanos”, ele já havia sentado à mesa e provado sua misturada aguada e pouco adocicada.

O café e o amor são dois sujeitos mundialmente conhecidos por causar insônia, ansiedade, vício, arritmia e até elevação da pressão. Esses são apenas alguns efeitos colaterais que, por vezes, surgem como um consumo natural. Existem variedades dessa composição, que são comercializadas em todos os tipos de embalagens e intensidades. Tradicional, forte ou extra forte. Há café para todos os gostos.

Sempre fica a critério do comprador saber qual marca, aroma e sabor vai fazer parte de seu cotidiano, o grão colhido e exportado pela Europa ou a produção familiar do território nacional, o do mercado da esquina ou o da cafeteria cara do centro. Antes de ir parar na xícara de alguém, essas escolhas são tomadas com afinco ou despretensiosamente.

O século XXI é a sociedade líquida que está derramando o café sobre as mesas, e saindo sem limpar a própria sujeira e nem pagar a conta. Quando os jovens se apaixonam, os velhos que já se afogaram nesse jeito de amar e logo gritam a eles que isso leva ao bar e não à cafeteria aos sábados à noite, e que a paixão é coisa da idade e não do coração.

O amor tem muito mais a ver com quem prepara do que com o produto em si, a xícara é apenas a receptora dessa mistura. Se levada à boca com pressa demais, queima, se é esquecida no canto, causa azia; por isso, as garrafas de café precisam estar sempre bem fechadas. Não se pode deixar esfriar algo que o calor incrementa o sabor.

O maior erro de um garçom, ao servir um cliente em uma cafeteria, seria esquecer-se de pôr açúcar na bebida de seu cliente ou exagerar na mesma. Não importa, qualquer falta ou excesso poderiam iniciar uma revolução. Nessa ambígua situação, algumas vezes esperamos que o café dance sob as bordas de nossa vontade à medida que cai, entretanto, em certos momentos desta vida, não somos clientes e sim garçons prontos para servir de mesa em mesa.

Como você gosta do café? Alguns clientes gostam do café sem açúcar, para que seu sabor seja genuinamente natural, outros gostam de generosas colheradas de açúcar para sentir o doce nos lábios. A grande verdade é que ninguém resiste ao equilíbrio entre o amargo e o doce, pois no paladar a impressão que se passa é de que é assim que deve ser. A forma como você gosta do café diz muito sobre como você ama.

Sendo assim, toda vez que um café é desperdiçado ou deixado pela metade, alguém deixou de amar, toda vez que esquecem o açúcar do café, alguém se sentiu sozinho, e quando uma mulher morre nas mãos de um homem “por amor”, alguém exagerou no açúcar.

Quando o amor surge, borbulha como um café recém-preparado no bule, expressando seu calor através da fumaça, e é assim que se pode queimar a língua. Ao coar, vai-se o líquido e o que fica preso no filtro são os sólidos grãos moídos, e desse pó é preciso filtrar o melhor, e a esta hora talvez alguém tenha dado sorte e bebido.

Hellen lirtêz é assessora de imprensa da Fundação de Cultura Elias Mansour – FEM, integrante da Academia de Letras Juvenil-AJAL, graduanda em jornalismo pela Universidade Federal do Estado do Acre.

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