De tempos em tempos, o assunto armas nucleares volta à pauta e coloca o mundo em estado de alerta. É pouco provável que um confronto nuclear de fato aconteça, mas, se houver, pode resultar em uma catástrofe sem precedentes, dependendo do tipo de armamento utilizado e da frequência. E, mesmo se acontecesse a uma distância significativa do Brasil, como no do leste europeu, onde temos uma guerra acontecendo, aqui sofreríamos as consequências.
Segundo especialistas, chegariam até aqui os efeitos secundários das explosões. Mas, com armas nucleares superpotentes, até mesmo os impactos indiretos poderiam levar a uma catástrofe e um choque em cadeia, do meio-ambiente ao comércio e à alimentação:
A explosão de armas nucleares potentes em grande quantidade seria capaz de jogar um alto volume de poeira, fuligem e partículas na atmosfera.
Isso bloquearia a luz do sol por uma quantidade de tempo suficiente para que algumas plantas morram.
Além disso, um ataque do tipo pode levar ao esfriamento da superfície da Terra devido à falta de luz — o que causaria impactos também no Brasil.
Tecnologia mais potente que Hiroshima
Em caso de intervenção dos Estados Unidos em um eventual ataque nuclear da Rússia, por exemplo, as consequências podem ser ainda mais catastróficas.
As armas nucleares dos dois países são mais potentes do que as lançadas em Hiroshima e Nagasaki no fim da Segunda Guerra Mundial. As explosões atômicas nas cidades japonesas mataram instantaneamente 150 mil pessoas.
Tanto a Rússia quanto os EUA, hoje, possuem em seu arsenal bombas termonucleares, ou bomba de hidrogênio, que são mais poderosas do que as bombas nucleares lançadas no fim da Segunda Guerra Mundial. A principal diferença entre os dois tipos de bombas é o princípio físico utilizado para extrair a energia atômica.
Desta forma, uma possível guerra nuclear, hoje, poderia levar a humanidade quase à extinção, considerando que apenas os países do hemisfério norte fossem atingidos.
Bombas da potência da Tsar, que já foram testadas pela Rússia, têm energia equivalente a cerca de 57 milhões de toneladas de TNT e são 3 mil vezes mais potentes do que a bomba de Hiroshima.
Além do bloqueio da luz do sol por fuligem devido à força das explosões, prejudicando a produção de alimentos, o risco de contaminação em larga escala por radiação e a perda de equipamentos tecnológicos por interferência radioativa também estão entre as consequências. Todos esses processos são conhecidos como holocausto nuclear.
Com relação à queda brusca de temperatura, simulações mostram que poderia ter uma diminuição de até 20ºC em algumas regiões. Apenas isso bastaria para afetar plantações e colheitas mais sensíveis a variações climáticas.
Já a camada de ozônio na região onde ocorresse a explosão poderia ser parcialmente destruída, o que tornaria a luz solar perigosa, causando queimaduras e aumento de câncer de pele.
Fome e escassez
Essas consequências dependem, claro, do tamanho e potência do arsenal usado. E, mesmo que não ocorra uma destruição ampla do planeta, o uso de armamentos desse tipo também pode desestabilizar as relações entre os países e provocar consequências no comércio e acesso a alimentos. O Brasil, por exemplos, sofreria o aumento da inflação de produtos como grãos e a escassez de importados.
Ucrânia, Rússia e Brasil estão entre os maiores produtores de milho do mundo. Com a produção e transportes afetados por uma guerra nuclear, a exportação de milho do Brasil poderia aumentar, mas dificilmente isso aconteceria sem diminuir a oferta do grão em território nacional. Isso afetaria o abastecimento, tornando mais caro o consumo de carnes, por exemplo, já que os animais têm como fonte principal o milho. Também subiria o preço dos combustíveis, que o Brasil importa, causando impacto no transporte dos grãos.
Todo esse tipo de conflito provoca um choque no comércio, na cadeia de distribuição do mundo. Abalaria o comércio mundial de maneiras não tão previsíveis. Isso sem contar o risco de contaminação dos produtos por armamentos desse modelo.
Fontes: Guilherme Bruneri, físico e mestrando em Física de Partículas pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica); Renato Dellova, advogado, presidente da Comissão de Relações Internacionais da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em Campinas e professor de direito da USF (Universidade de São Francisco); Vitor Barletta Machad, cientista político da faculdade de Ciências Sociais da PUC Campinas.