Dos 5.297 municípios brasileiros que enviaram os registros de covid-19 para o Ministério da Saúde, 2.552 (48,2%) enfrentaram na semana passada, encerrada em 17 de dezembro, alta incidência da doença. São localidades que tiveram mais de 100 casos da doença por 100 mil habitantes em uma semana. Nesses municípios vivem 47% da população brasileira, e seus moradores estão expostos a elevados níveis de transmissão viral. As análises são do Instituto Todos pela Saúde (ITpS), com dados do Ministério da Saúde. Para este relatório, que observa a situação epidemiológica da covid-19 no Brasil e no mundo e as variantes em circulação, o ITpS também utilizou dados da Universidade Johns Hopkins e do banco internacional Gisaid.
Quando são observados os estados (gráfico abaixo, à direita), apenas São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pará, Amazonas, Maranhão e Piauí não apresentam altas taxas de casos. No Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e no Distrito Federal, os registros são superiores a 300 casos por 100 mil habitantes por semana – e acima de 500 em algumas localidades.
O ITpS também fez o recorte por macrorregiões de saúde (mapa de calor acima, à esquerda), que dividem o país em 118 localidades, agrupando municípios. O número de macrorregiões com alta incidência de covid-19 passou de 2 (1,7% do total), para 40 (33,9%) e agora está em 83 (70,3%).
Em relação à positividade dos testes para covid-19, o percentual segue alto para todas as faixas etárias desde o início de novembro. Há seis semanas, a taxa é superior a 30% a partir de 19 anos. Veja abaixo os índices para todas as faixas etárias. A partir deste relatório, o ITpS passa a analisar também dados do laboratório Sabin, além de Dasa, DB Molecular e HLAGyn.
Por causa da alta circulação do SARS-CoV-2, o risco de infecção no período de festas de fim de ano é alto e requer atenção. “As pessoas mais vulneráveis, em especial idosos, imunossuprimidos e não vacinados, devem utilizar máscara em locais fechados e/ou cheios”, alerta o imunologista Jorge Kalil, diretor-presidente do ITpS. Quem tiver sintomas gripais deve fazer o teste para covid-19 e, em caso de positivo, permanecer isolado. Pessoas que não estão com o esquema vacinal completo contra a covid-19 têm de concluí-lo o mais rápido possível.
Sublinhagens no Brasil
O ITpS também está monitorando as linhagens do SARS-CoV-2. Para analisar os dados do Brasil, o Instituto levantou os dados disponíveis no banco internacional Gisaid, que recebeu de 9 de outubro a 17 de dezembro depósitos de Dasa, Fiocruz, Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacens) de Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul Instituto Butantan, Instituto Adolfo Lutz e HLAGyn, entre outras instituições.
Ao longo de dois meses, as sublinhagens da Ômicron BA.5 foram sendo substituídas por sublinhagens da Ômicron BQ.1, atualmente a principal variante em circulação no país. A BQ.1.1 predomina no Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste do país. No Norte aparece a sublinhagem BE.9.
Ao redor do mundo
Em relação ao cenário internacional, o mapa de calor a seguir destaca a incidência de casos semanais e o gráfico à direita, os países com as maiores incidências nas dez últimas semanas. Na China, os dados são escassos e o cenário é incerto.
Sobre as variantes em circulação ao redor do mundo, as linhagens BA.5 e suas sublinhagens (como BQ.1, BF.5 e BF.7), BA.2.75 e a recombinante XBB são as responsáveis pela maioria dos casos na Ásia, em locais como Taiwan (TWN), Hong Kong (HKG), Coreia do Sul (KOR), Singapura (SGP) e Japão (JPN). Na Europa, em países como Grécia (GRC), França (FRA), Áustria (AUT), Eslovênia (SVN) e Alemanha (DEU), a composição de linhagens circulantes têm participação importante das linhagens BQ.1 (derivadas da BA.5.3), seguidas por BF.7, linhagens BA.5 e BA.2.75.
Nas Américas, além do Brasil, países como Chile (CHL), Bolívia (BOL), Peru (PER), Panamá (PAN) e EUA (USA) enfrentam altas incidências de covid-19 há três semanas, com predomínio das variantes BQ.1, BA.4.6 e sublinhagens da BA.5.
O ITpS considera importante acompanhar o cenário epidemiológico no mundo porque ele pode antecipar padrões relevantes no Brasil.
O Instituto Todos pela Saúde está monitorando a circulação do SARS-CoV-2, de suas variantes e de patógenos respiratórios. Este é um relatório ampliado sobre a situação epidemiológica da covid-19 do Brasil e do mundo. O objetivo é fornecer para o poder público, a imprensa e a sociedade informações com agilidade, para ajudar na tomada de decisões de saúde. Todos os relatórios estão disponíveis na seção Pesquisas do site do ITpS.
A atuação do ITpS
O Instituto Todos pela Saúde (ITpS) é uma entidade sem fins lucrativos criada em fevereiro de 2021 com o objetivo de ajudar o Brasil a articular redes e desenvolver competências que auxiliem no preparo para o enfrentamento das futuras emergências sanitárias, como surtos, epidemias e pandemias.
O ITpS iniciou os trabalhos com um aporte de R$ 200 milhões feito com recursos da iniciativa Todos pela Saúde, criada em 2020 e que teve o Itaú Unibanco como principal doador. São parceiros institucionais a Academia Brasileira de Ciências (ABC), Academia Nacional de Medicina (ANM), a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e a Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês.
O ITpS atua em três frentes:
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- Fortalecimento de redes de vigilância epidemiológica – Articular redes para a obtenção de informações científicas relevantes à saúde pública e cobrir lacunas relacionadas à baixa capacidade de sequenciamento genômico.
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- Análise de dados – Promover análise e integração de bancos de dados para influenciar políticas públicas baseadas em evidências científicas.
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- Formação e informação – Desenvolver profissionais que atuem com vigilância epidemiológica, genômica e análise de dados ligados a doenças infecciosas. Tornar públicos os dados científicos.
À frente do ITpS
Renomados pesquisadores, professores e gestores integram o conselho administrativo, o comitê científico e a direção do ITpS, que tem o imunologista Jorge Kalil como diretor-presidente. Professor titular de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP, Kalil é diretor do serviço de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas de São Paulo e do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor). É membro do Conselho de Gestão de Dados e Segurança, grupo criado pelo governo dos Estados Unidos para supervisionar os testes de vacinas anti-covid-19 no país. Foi presidente do Incor (2006-2008) e diretor do Instituto Butantan (2011-2017).