Lançada em 2018, a sonda Parker Solar Probe vem se aproximando da atmosfera do Sol para estudá-lo bem de pertinho, com o objetivo de analisar como a energia e calor se movem pela coroa solar e o que impulsiona o vento solar. Enquanto estava a caminho, a sonda registrou imagens espetaculares de Vênus durante um sobrevoo que fez em julho de 2020, mostrando a maior região montanhosa do planeta e até um brilho na atmosfera venusiana.
A sonda e seus instrumentos são protegidos do calor solar por um escudo de carbono, que precisa aguentar temperaturas acima de 1.000 °C. E, apesar de o foco da missão ser o Sol, Vênus tem papel essencial para a sonda se aproximar da estrela. É que, durante os sobrevoos pelo planeta, a Parker Solar consegue impulso gravitacional para ajustar sua trajetória e se aproximar mais da nossa estrela. Estes sobrevoos resultam em visões únicas do Sistema Solar interno, como este feito em julho de 2020; ali, o instrumento Wide-field Imager for Parker Solar Probe (WISPR) capturou uma imagem incrível do lado noturno de Vênus, a 12 mil km de distância.
O instrumento conseguiu registrar um brilho próximo do planeta, que pode ser causado pela luz emitida por átomos de oxigênio em grandes altitudes na atmosfera que se recombinam em moléculas no lado noturno de Vênus. Já a formação escura que aparece é Aphrodite Terra, a maior região de montanhas de Vênus. Ela aparenta ser mais escura por ter temperatura de cerca de 30 °C, que a torna bem mais fria que as formações em seus arredores. Na verdade, o WISPR foi criado para produzir imagens da coroa solar e da heliosfera interna na luz visível, além de produzir imagens do vento solar e sua estrutura conforme se aproxima e passa pela nave.
A equipe ficou bastante surpresa com a imagem produzida: “o WISPR é produzido e testado para observações da luz visível e nós esperávamos ver nuvens, mas a câmera conseguiu imagens da superfície”, disse Angelos Vourlidas, cientista de projeto do WISPR. Outro aspecto inesperado foi o instrumento ter registrado emissões térmicas da superfície venusiana, o que levou os cientistas ao laboratório para medir a sensibilidade do instrumento à luz infravermelha. Se o WISPR realmente conseguir captar comprimentos de onda próximos do infravermelho, talvez seja possível estudar a poeira ao redor do Sol e no interior do Sistema Solar.
Contudo, mesmo que não seja possível captar este outros comprimentos de onda, a imagem da assinatura das formações na superfície de Vênus pode ter revelado uma possível “janela” aberta através da atmosfera do planeta. Agora, para investigar melhor os segredos do planeta, a equipe do WISPR planejou novas observações do lado noturno em um novo sobrevoo, feito em 20 de fevereiro de 2021, cujos dados deverão ser recebidos e processados até o fim de abril. Javier Peralta, cientista planetário da equipe da sonda Akatsuki, comenta que a expectativa é grande para essas novas imagens: “se o WISPR conseguir captar a emissão térmica da superfície de Vênus e o brilho noturno, provavelmente causado por oxigênio, teremos contribuições valiosas para estudos da superfície venusiana”, finaliza.