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Artigo de George Pinheiro Presidente da Unecs e da CACB

Há mais de dois meses vivemos em nosso país em um verdadeiro cenário de guerra. Um embate sem armas, mas com um inimigo invisível devastador não apenas para a vida de milhares de brasileiros, mas, também, para a sobrevivência de milhões de empresas brasileiras.

O sistema de saúde de alguns estados brasileiros já entrou em colapso, e é exatamente este o destino da economia brasileira nas próximas semanas, caso não tenhamos, por parte do governo, medidas efetivas de acesso ao crédito para as empresas de pequeno, médio e grande porte, que já não aguentam mais estarem de portas fechadas.

O Ministério da Economia já disponibilizou bilhões de reais em crédito para este segmento, mas a burocracia bancária não permite que estes valores cheguem a quem realmente precisam. Exemplo disso é que apenas 1% (R$ 413,5 milhões) da linha de crédito de R$ 40 bilhões para bancar salários, concedida através de uma medida provisória há um mês, chegou às mãos dos empresários. Um número insignificante para o cenário que estamos vivendo. Isso porque, as regras proíbem a concessão do empréstimo a empresas que não possuem folha de pagamento processada em um banco. Uma realidade que não representa 90% das empresas brasileiras.

Sabendo que os bancos não vão abrir mão da burocracia para concederem crédito, só há duas maneiras de evitarmos um eminente colapso das empresas brasileiras: ou o governo assume os riscos dos empréstimos que serão feitos pelos empreendedores brasileiros, com juros baixos, ou cria um programa semelhante ao auxílio emergencial que concedeu aos cidadãos de baixa renda, em que possamos pegar dinheiro direto e sem burocracia. Se nada disso acontecer, milhões de empresas irão a falência, encerrarão suas atividades e o desemprego vai crescer desenfreadamente antes do segundo semestre de 2020.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo lançou um programa de crédito para capital de giro, chamado Main Street Lending, em que disponibiliza US$ 600 bilhões para capital de giro de pequenas e médias empresas, sem a necessidade de garantias, e com risco de crédito de 95% do governo. Uma outra linha, chamada Paycheck Protection, disponibiliza US$ 349 bilhões para folha de pagamentos de micro e pequenas empresas, com risco de crédito de 100% para o governo.

Em uma recente conferência que participei, o sócio da Kamea Investimentos e ex-vice-presidente executivo do Grupo bancário BNP Paribas, François Legleye, nos informou de que a Suíça conseguiu resolver este problema ao lançar um programa de crédito de cerca de US$ 20 bilhões, com linhas com prazo de cinco anos para pagamento, além de 0% de juros, mas com risco de crédito 100% do governo. Ou seja, se houver inadimplência, o prejuízo é do Estado, não dos bancos.

Por fim, em Portugal, o governo também disponibilizou uma linha de € 4,5 bilhões, com risco para o Estado, para socorrer empresas de todos os setores da economia.

É este o caminho que precisamos seguir. Sem superarmos a burocracia bancária, o colapso das empresas brasileiras é certo e a curto prazo. O governo precisa assumir esses riscos e nos dar o direito de continuar empreendendo no Brasil. A guerra está em curso, e nós não a venceremos sem boas armas nas mãos.

George Pinheiro
Presidente da Unecs e da CACB

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