E é basicamente por este motivo que estamos ampliando sobremaneira os números de vítimas do vírus. E também por isso que estamos forçando a retomada da “vida normal” em muitos lugares.
Nunca foi da cultura brasileira um comportamento social disciplinado, rígido, cartesiano. Somos mundialmente conhecidos por nossa flexibilidade, por termos o nosso famoso “jeitinho” e sermos o povo do samba, ginga, molejo, requebrado, dribles, alegria e ousadia.
Nada de mais. É assim no Brasil. Apenas o retrato do óbvio. Acontece que para um povo com a nossa característica, efusivo, quente, que fala alto, que gesticula, que xinga o amigo (com carinho e afeto), que abraça do vizinho ao segurança da farmácia:
Manter isolamento social não fazia parte de nenhum tipo de ideia que tínhamos. Precisávamos recriar tudo. Da forma de comprar verduras a atender nossos clientes. Cansamos da doença. Muitos de nós adoecemos. Fomos curados. Perdemos amigos, entes queridos, conhecidos que não ouvíamos falar deles há anos.
Vimos o mundo retomando suas atividades e percebemos que continuávamos parados. Calma lá! Aqui é Brasil! A gente nunca para! É carnaval o ano todo! Futebol até segunda feira! Churrasco todo fim de semana! Sai pra lá, Covid, eu vou já pra rua!
E muitos de nós nos apressamos em estar nas ruas na primeira semana. No primeiro mês. Mais de 600 mil já se contaminaram e quase 35 mil pessoas tiveram suas vidas encurtadas em decorrência da doença. Somos o terceiro país no mundo em número totais de óbitos.
“E daí?” Disse uma figura pública bastante conhecida sobre as mortes causadas sobre a doença.
Bem, é mesmo: e daí? Aqui é o Brasil, né? Ninguém liga mesmo pra mortes, violência, corrupção, estupros, abortos, assaltos, acidentes com vítimas fatais, políticos com ficha criminal, magistrados que vendem sentenças, carga tributária abusiva, hiperlucro bancário, cartel estatal de combustível, casta de servidores públicos com super salários acima do teto constitucional, população de rua, mortalidade infantil, controle de natalidade em comunidades abaixo da linha da pobreza, tráfico de pessoas, exploração sexual de menores com fins comerciais em turismo internacional, biopirataria, contrabando, pedofilia etc… dá pra fazer uma lista de mil itens fácil.
É por isso que ninguém no Brasil aguenta mais falar em Covid. A gente tem coisa muito pior pra lidar. A questão é que também não lidamos com essas coisas! A gente também ignorou essas e outras coisas, e estamos em busca de ignorar mais uma! Vamos escrever alguma lei. Imprimir algum aviso. Pendurar um lembrete e será como a proibição de usar a buzina nos arredores de hospitais, talvez alguém lembre de seguir essa regra.
O Brasil vai por fim numa quarentena sem ter sequer iniciado uma. E tudo bem. Desde que eu fique vivo, não é mesmo? Mas se eu morrer, tudo bem também, não é? Afinal: “todo mundo vai morrer um dia” (como disse o excelentíssimo senhor presidente da república, a mesma figura pública que citei anteriormente).
Leve a sério tudo que está acontecendo no nosso país! Tudo mesmo! Não apenas a pandemia, este é apenas mais um assunto que não deve ser ignorado pela sociedade! Ignoramos muitos assuntos por décadas, e o resultado é o que estamos vivendo!
O Brasil tem potencial pra ser líder mundial em diversas áreas, atualmente somos líder no mau exemplo do enfrentamento da pandemia.
E você pode me dizer: ah mas somos o segundo país do mundo em número de recuperados…
Vamos lá: não seria melhor se fôssemos o último? Com apenas uma pessoa curada? Sendo também a única que foi infectada? E digo mais eu adoraria ser essa única pessoa infectada e curada do Brasil e que aqui não tivéssemos tido um único óbito por essa mazela!
Faça sua parte!
*Daniel Ribeiro CEO da D’NEK, associativista, empresário, entusiasta de boas ideias. Diretor de Integração da Confederação Nacional de Jovens Empresários – CONAJE; Líder do Programa PASE VERDE da Federação Iberoamericana de Jovens Empresários – FIJE