Com dois filhos, de 2 e de 5 anos, a dona de casa Cleita Fernandes de Souza, de 24 anos, pensou que faria um excelente negócio comprando por dois reais um quilo de farinha de mandioca e um quilo de açúcar. A combinação é muito utilizada na preparação do chibé, prato tradicional da região, que pode ser a única refeição do dia para muitas famílias.
O negócio foi feito no dia 2 de abril de 2016 em Mâncio Lima, no bairro São Francisco. Em 17 de outubro do ano passado, já vivendo em Bujari, a 700 km de distância, Cleita foi condenada a um ano de prisão, pagamento de multa e de indenização no valor de um salário mínimo. Segundo denúncia do Ministério Público do Acre, Cleita tinha conhecimento de que a farinha e o açúcar eram furtados, pois o vendedor, conhecido como Dé, era um usuário de drogas famoso no bairro do São Francisco, palco de todo o conflito. Dé obteve a mesma condenação.
O juiz Hugo Barbosa Torquato Ferreira, da Comarca de Mâncio Lima, converteu a pena de prisão em prestação de serviço ao município vizinho de Cruzeiro do Sul, mas mesmo assim Cleita não tem dinheiro para pagar multa e indenização e tampouco com quem deixar os filhos para prestar serviço em Cruzeiro do Sul.
Por esta razão, ela procurou em Rio Branco o servidor público Janes Peteca, antigo militante do movimento dos trabalhadores rurais sem-terra, que está buscando apoio jurídico visando obter a suspensão da pena ou a substituição do local de prestação de serviços. “Todos nós sabemos que a desigualdade social é um abismo em nossa sociedade, eu mesmo vim lá de baixo, mas quando a gente vê a forma como a Justiça atua nestes conflitos a tristeza só faz aumentar”, comenta Janes.