Lenda do boxe brasileiro, o ex-peso-pesado José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, 66, morreu nesta quinta-feira (24/10). O ex-atleta foi diagnosticado há 11 anos com encefalopatia traumática crônica (ETC), um tipo de demência que ocorre pela repetição de golpes na cabeça e que acomete especialmente lutadores e atletas de esportes de contato.
A ETC é uma doença neurodegenerativa que não tem cura. Ela é provocada por repetidos traumatismos na cabeça ou no crânio e também é conhecida como demência pugilística: a doença acomete vários atletas conhecidos, como o boxeador Muhammad Ali, o lutador de MMA Chuck Liddell e uma série de atletas do futebol americano.
“No caso do Maguila, ex-lutador de boxe, é provável que sua longa exposição a golpes na cabeça ao longo de sua carreira tenha contribuído para o desenvolvimento de ETC. A doença, muitas vezes, é associada a sintomas neuropsiquiátricos, como alterações de humor, depressão, agressividade, problemas de memória e, em estágios avançados, comprometimento cognitivo severo que pode evoluir para demência”, explica a neurologista Claudia Klein, credenciada à Rede Plus, da Care Plus.
Segundo o Manual MSD, a acontece porque as pancadas características do boxe fazem com que o cérebro se mova bruscamente dentro da caixa craniana, o que pode romper pequenos vasos sanguíneos e causar lesões no órgão. Acumuladas, as lesões levam a um processo de produção de emaranhados tóxicos de proteínas que têm efeitos semelhantes ao Alzheimer e criando um quadro irreversível e progressivo.
“Evidências que apontam que, ao longo dos anos, é possível que esses impactos repetitivos no crânio elevem as chances de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, especialmente entre os jogadores com carreiras mais longas e aqueles que jogam em posições com a maior probabilidade de impacto na cabeça”, explicou o neurocirurgião Feres Chaddad em entrevista anterior ao Metrópoles.
Pessoas com ETC costumam apresentar mudanças súbitas de comportamento, perda de memória e anormalidades motoras, como os tremores essenciais. Não há tratamento específico que não seja o de lidar com a demência, tentando manter o ambiente da casa mais adequado e seguro, com relógios e calendários à vista, para que o paciente se lembre de onde e quando está.
A doença pode atingir a cognição do paciente a ponto de dificultar sua alimentação e hidratação, o que pode ser fatal sem o correto acompanhamento médico. Além disso, como acontece em todas as demências, o paciente em fase terminal pode ter um comprometimento do cérebro tão intenso que fica em coma e acaba, eventualmente, morrendo de infecções generalizadas.