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Celular, toalha, pet, migalhas: lençol e colchão são depósitos de germes

A cama não serve apenas para passar as horas diárias de sono. Costumamos nos sentar ou nos deitar para usar o computador ou celular, ver séries e filmes, ou mesmo para trabalhar, ouvir música, ler. E é aí que depositamos nela mais do que o nosso corpo. A lista vai de células mortas da pele, saliva, suor, caspa até restos de alimentos.

Quem nunca tomou café da manhã na cama ou comeu pipoca vendo um filme?

A múltipla função da cama a torna um local perfeito para a proliferação de uma variedade de germes, bactérias, fungos, vírus, pragas, ácaros e até insetos. Esse grupo de micro-organismos e parasitas pode provocar doenças, como alergias, rinite, asma e diversas lesões na pele. Mas como se dá o processo de formação desses seres microscópicos na roupa de cama, travesseiros e no colchão?

Os micro-organismos se alimentam de matérias orgânicas —e se reproduzem— em lugares quentes e úmidos, ou seja, a roupa de cama, os travesseiros e o colchão são ambientes propícios para o crescimento de germes e parasitas. Por isso, nada de colocar toalha molhada, celular, calçados, roupa suja, bolsa, entre outros objetos sobre o local onde dormimos.

Trocar de roupa e evitar pets

Uma dica é não se sentar na cama com a roupa que chegar da rua. Imagine a quantidade de bactérias encontradas em um assento de transporte público, de um hospital ou de uma praça. Não as leve para dentro do ambiente em que você descansa. O ideal é se vestir com peças limpas antes de esticar o corpo, a fim de evitar a colonização do leito e a exposição a micro-organismos desnecessários.

Deixar o animal de estimação subir ou dormir na cama é outra questão a evitar. Não é perigoso ao ponto de transmitir doenças, mas passa longe de ser higiênico. O que, na visão do dono, seria uma manifestação de carinho e afeto pode trazer problemas, pois cães e gatos circulam por ambientes não controlados repletos de sujeira. Além disso, eles podem ter dermatite, infecções ou parasitoses que trazem riscos.

Cada espécie, seja humana ou animal, tem uma flora bacteriana específica. Nossa boca, por exemplo, é repleta de bactérias, que são diferentes das presentes na flora dos cães, que por sua vez são diferentes da dos gatos. Contato íntimo com outras espécies, seja dormindo na cama ou lambendo, pode nos colocar em contato com bactérias habituais para nossos pets, mas não para nós.
Sumire Sakabe, infectologista do hospital Nove de Julho de São Paulo

Mas não há motivo para alarde se a higienização é feita com frequência e de forma adequada, pois simplesmente tudo, inclusive o nosso corpo, é colonizado por bactérias, que não são necessariamente patogênicas (capazes de causar doenças).

“As bactérias e os fungos estão presentes em todo lugar, seja nas pessoas, plantas, superfícies e objetos. Somos preparados para viver juntos”, diz Sumire Sakabe. “No entanto, o desequilíbrio pode causar problemas à saúde, seja por excesso dos agentes [bactérias e fungos] ou por dificuldade do hospedeiro [pessoas, plantas, animais] em manter este equilíbrio, ou ainda pelo contato com bactérias ou fungos causadores de doença”, explica.

Manifestações e riscos

A depender de cada agente e hospedeiro, entre as manifestações mais comuns causadas pela presença de fungos e ácaros na roupa de cama, travesseiros e colchão não higienizados de forma adequada estão os sintomas respiratórios, como rinite, espirros e agravamento de asma, além de micoses.

Já os vírus que podem ser eliminados são os da gripe, covid e mpox. Porém, eles não duram muito tempo fora do hospedeiro e geralmente não são contaminantes habituais neste contexto, pois dependem de outros organismos para se reproduzir e viver, dizem os especialistas.

Há ainda as doenças ocasionadas pela presença das bactérias do gênero estafilococos.

Elas geralmente colonizam o nosso organismo, mas em algumas ocasiões podem causar impetigo nas crianças, celulites, foliculite e outras diversas lesões na pele em um ambiente com população [de germes] maior do que o devido.
Guilherme Lima, infectologista do Hospital Nossa Senhora da Neves, em João Pessoa

Em relação a doenças infecciosas, Lima cita o vírus da hepatite C como o mais relevante em termos de contaminação de superfície. Entretanto, ele ressalta que não se trata de um mecanismo provável e nem comum, já que exigiria o contato do sangue na roupa de cama ou no colchão de alguém que está infectado com outra pessoa com algum ferimento ou lesão aberta na pele. Neste caso, o local passaria a ser um possível foco de contágio.

Se você está entre aqueles que gostam de se deitar desnudo, atenção ao recado da infectologista Sumire Sakabe. “No caso da mpox, que é uma doença viral transmitida pelo contato próximo entre pessoas, mesmo sem sexo, mas que é mais frequente entre parceiros sexuais, pois o contato de pele com pele é maior durante o ato sexual, dormir nu em lençol onde outra pessoa com mpox dorme pode ser suficiente para a transmissão.”

Infestações por pragas

No caso das pragas, a cama mal higienizada e mal utilizada pode ser foco de proliferação de pulga, percevejo, formiga, carrapato e piolho.

A pulga e o percevejo, por exemplo, causam coceira e lesões de pele ao sugar o sangue, atrapalhando o sono de qualquer dorminhoco. Portanto, atente à higiene e ao uso adequado da cama.

Eles podem ser transportados por meio de roupas, objetos pessoais e malas após uma viagem, e se alojam nos colchões.
Giovanna Marssola, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz de São Paulo

Diante da onipresença do enorme grupo de micro-organismos e pragas em lençóis, fronhas, cobertores, travesseiros e colchões é preciso caprichar na limpeza. Este é o principal recurso para evitar a proliferação de doenças.

Para matar os micro-organismos e insetos presentes nos lençóis, recomenda-se lavá-los com água e sabão, com a água em temperatura alta. “É imprescindível secar bem essas roupas para que a umidade não seja um atrativo para esses germes”, diz Giovanna Marssola.

A frequência da troca deve ser imediata em caso de restos alimentares, sujeiras visíveis ou umidade, de acordo com a infectologista. Caso contrário, a sugestão é trocar uma vez por semana e deixar o quarto iluminado e arejado.

Já o colchão, que geralmente tem vida útil de até 10 anos, deve ser higienizado a cada 6 a 12 meses, caso a cama não seja utilizada como espaço para comer e jogar roupas molhadas e sujas. Outra dica é usar capas protetoras antiácaros e lavar e aspirar os travesseiros com regularidade.

Vinagre, álcool líquido e bicarbonato de sódio são produtos frequentemente citados em receitas caseiras como solução para matar germes existentes no colchão. No entanto, tome cuidado para que não se tornem mais um atrativo para micro-organismos ao deixar umidade residual, alerta Giovanna. “Pode-se aspirar e passar pano úmido com desinfetante, desde que deixe secar por completo em ambiente arejado e iluminado.”

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