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“Quem não tem amigo, mas tem um livro, tem uma estrada.” Como sugere a escritora Carolina Maria de Jesus em Quarto de Despejo, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, possui a Rua da Língua, mas ela não é só construída por livros. Há também expressões, poemas, inscrições, propagandas e outros fragmentos verbais que fazem refletir sobre a linguagem. Essa “estrada” poderá ser vista pelo público a partir deste sábado, dia 31, com a reabertura do Museu da Língua Portuguesa, depois de seis anos de reforma, em razão de um incêndio, ocorrido em 2015.

Seis anos após a tragédia, “o museu reabre com um novo projeto de segurança, que dispõe de toda uma série de equipamentos em caso de emergência, com sistemas automatizados de alerta que detectam qualquer anomalia, além de uma brigada treinada para impedir tragédias”, relata Marília Bonas, diretora técnica do Museu da Língua Portuguesa.

O prédio que abriga a Estação da Luz foi reformado, com um investimento de mais de R$ 85 milhões, e no dia 31 receberá convidados para a cerimônia oficial de reinauguração, com transmissão ao vivo pelas redes sociais do museu. A partir do dia seguinte, domingo, 1º de agosto, o público poderá admirar o museu com dia e hora marcados. Os ingressos são vendidos exclusivamente pela internet. Cada visitante receberá chaveiros touchscreen, para evitar o toque nas telas interativas. A capacidade de público está restrita a 40 pessoas a cada 45 minutos e o uso de máscaras será obrigatório. Essas são algumas medidas de combate à covid-19. “A reabertura do museu é uma operação especial. Seguimos os protocolos internacionais de visitação de instituições culturais na pandemia”, ressalta Marília Bonas.

Logo na entrada, os visitantes têm acesso ao Pátio Oeste, ligado à Estação da Luz, onde se encontra a exposição que marca a reinauguração do museu, Língua Solta. A mostra explora as várias perspectivas da língua portuguesa na arte e no cotidiano (leia mais sobre a exposição Língua Solta no texto abaixo).

Já no segundo pavimento, além de percorrer a Rua da Língua, os visitantes se deparam com instalações de longa duração, como Línguas do Mundo, uma espécie de floresta sonora de línguas, realizada em parceria com comunidades de imigrantes de diferentes regiões do Brasil. Nela, é possível ouvir áudios na língua de origem e a mesma frase em português. Essa “floresta” possui 7 mil galhos (o número de línguas faladas no planeta). “Cada uma delas é uma visão de mundo”, destaca Isa Grinspum Ferraz, curadora especial do Museu da Língua Portuguesa.

Outra instalação, Laços de Família, traz um diagrama animado, que reproduz uma “árvore genealógica” da língua portuguesa e suas influências, focada no público infantil.

Ainda no segundo pavimento do museu, uma atração com diversão garantida para crianças e adultos é Palavras Cruzadas. Ali, oito totens interativos explicam como algumas línguas contribuíram para a formação do português do Brasil. O jogo pode ser realizado por meio de palavras, descobrindo sua forma e pronúncia na língua de origem, ou por povos, investigando sua cultura, tradições e sua chegada ao Brasil.

A mistura de tecnologia e diversão está presente também na exposição Beco das Palavras, composta de mesas interativas com sensor de movimento que mostram a origem das palavras da língua portuguesa e os mecanismos secretos com que a língua se renova.

Outra mostra de longa duração é O Português do Brasil, que apresenta uma Linha do Tempo da Língua Portuguesa. Ela começa com o latim, ainda durante o Império Romano, passa pelas influências das línguas indígenas, africanas e de imigrantes e chega aos dias atuais, com a linguagem da internet. Diferentes recursos são utilizados para mostrar a trajetória da língua: vitrines com objetos, textos, depoimentos de especialistas, mapas animados, vídeos históricos e obras literárias. Isa Ferraz comenta que, ao exibir o conteúdo em diálogo com o visitante, o museu oferece diferentes pontos de vista para que ele formule o seu próprio pensamento. “Esperamos que seja um visitante ativo e saia do museu com mais perguntas do que quando entrou”, diz a curadora.

Nós da Língua – outra exposição que os visitantes verão no Museu da Língua Portuguesa – traz uma espécie de caleidoscópio, uma tela que explora cantos, poemas e imagens com base em pesquisas em locais como Moçambique, Angola, Cabo Verde, Portugal e Macau (China), com a consultoria de especialistas e escritores como o angolano José Eduardo Agualusa e o moçambicano Mia Couto, conforme descreve Isa. “Essa exposição trata da presença global do português, falado por 261 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes. Mesmo utilizando o mesmo idioma, cada um desses lugares tem suas especificidades, sotaques e cultura”, reflete a curadora.

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