ONU Brasil
Feijó fica a 363 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre. O Hospital Geral, ligado ao Sistema único de Saúde (SUS), é o único da cidade de mais de 32 mil habitantes, onde mais de mil já contraíram a COVID-19. Ali, Fátima Cordeiro trabalha na recepção da emergência há 34 anos. Ela recebe populações ribeirinhas e indígenas, moradoras e moradores da cidade e quem mais precisar de atendimento urgente na região. É acidente, tiro, ferimento por arma branca, doenças e todo tipo de incidente, segundo ela conta.
No mês de julho, entretanto, Fátima não estava ali para receber as pessoas. Ela explica que o marido, que é diabético e cardíaco, apresentou sintomas do novo coronavírus. “Fraqueza, diarreia, febre, mal-estar, dor no corpo… logo vi que era COVID”, disse, com a experiência de quem trabalha há três décadas na área da saúde.
O exame confirmou a suspeita e, em seguida, Fátima, de 55 anos, os dois filhos e a nora também se sentiram mal. “Tudo que você possa imaginar de coisa ruim”, resume sobre a doença que a deixou 20 dias afastada do trabalho. Fizeram todos os exames e receberam acompanhamento no posto da cidade dedicado à doença.
“Medo foi pouco, eu fiquei foi com pavor”, afirmou ela, que diz já ter visto muita coisa na vida. O receio de piorar foi agravado pelo falecimento do colega que trabalhava como motorista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) na unidade, dez dias após a confirmação de seu diagnóstico. Com tempo e cuidados, a família se recuperou e ela voltou ao trabalho.
Mas o medo ainda não acabou. De máscara, touca, avental e propé, Fátima conta que lava as mãos com frequência e utiliza álcool em gel durante o trabalho. Ao chegar em casa, lava suas roupas separadas das da família e toma banho. Diz que os equipamentos de proteção individual (EPIs) a fazem se sentir mais segura para trabalhar. “Tranquila, não, mas a vida tem que seguir”, afirma.
O continente americano teve o maior número de profissionais da saúde infectados pelo novo coronavírus em todo o mundo, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço da OMS na região. No total, 570 mil pessoas que atuam em saúde foram infectadas e 2.500 morreram desde o início da pandemia. A maioria das infecções no continente aconteceram no Brasil, que soma 270 mil casos entre profissionais, número superior ao dos EUA (140 mil) e do México (cerca de 100 mil).
O UNOPS, organismo das Nações Unidas especializado em infraestrutura, compras e gestão de projetos, em parceria com o Ministério Público do Trabalho em Rondônia e no Acre, comprou mais de 2,9 milhões de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para estes estados. Parte dos EPIs foram destinados ao Hospital Geral de Feijó e estão sendo usados por Fátima e seus colegas. UNOPS e MPT estão comprometidos com a proteção de profissionais de saúde para que possam exercer seu trabalho em condições seguras.