Junho de 2024 – O Dia Mundial da Vacinação é celebrado no dia 9 de junho. A data ressalta a importância das vacinas na prevenção de doenças e na promoção da saúde, principalmente, em bebês e crianças. Contudo, o Brasil, que já foi referência mundial em cobertura vacinal infantil, hoje amarga dados abaixo do ideal.
Houve uma queda na cobertura vacinal em menores de dois anos, no período de 2015 a 2021, para oito imunizantes do calendário nacional recomendado para a faixa etária. É o que aponta a Revista Paulista de Pediatria, a partir de dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Em 2021, todas as vacinas analisadas, incluídas no calendário vacinal do Sistema Único de Saúde (SUS), tiveram cobertura abaixo de 74% no país, sendo que as metas, dependendo do imunizante, chegam até 95%.
A baixa cobertura vacinal em bebês e crianças tem sido uma preocupação constante do Governo brasileiro, de órgãos de saúde internacionais, das sociedades científicas e das organizações não governamentais, dentre elas, a ONG Prematuridade.com, única instituição dedicada, em âmbito nacional, à prevenção do parto prematuro e à garantia dos direitos dos prematuros e de suas famílias. Dentre as iniciativas da ONG, está a sensibilização da sociedade para maior atenção à saúde dos bebês que nascem antes de 37 semanas de gestação, os prematuros. Dados da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) apontam que esses bebês têm de cinco a dez vezes mais chances de adquirir uma infecção, em comparação com crianças que nascem a termo.
O vice-presidente da SBIm, Dr Renato Kfouri, que também é Conselheiro Científico da ONG Prematuridade.com, reforça que “para os prematuros em especial, estar com o calendário vacinal em dia pode ser uma questão de vida ou morte. Assim como os pais e pessoas que têm contato direto com o bebê também precisam estar vacinados”. Dr Renato lembra ainda que “algumas imunizações, indicadas e disponíveis para prematuros, devem ser feitas mesmo que o bebê ainda esteja internado, e elas devem ser aplicadas sempre de acordo com a idade cronológica do bebê”.
Particularidades do calendário de vacinas para prematuros
O calendário vacinal dos prematuros possui algumas especificidades e, por isso, pais e responsáveis devem estar ainda mais atentos. Por exemplo, bebês que nascem antes de 33 semanas ou com menos de 2kg precisam de quatro doses, em vez de três, da vacina contra Hepatite B. E para receber a BCG, que protege da tuberculose, eles têm que ter atingido 2kg.
Existem também imunizantes especialmente indicados para prematuros, como o palivizumabe, um imunobiológico que previne a infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), causador de cerca de 80% dos casos de bronquiolites em crianças menores de dois anos. Até completarem um ano de vida, os prematuros que nascem antes de 29 semanas de gestação, além dos bebês com cardiopatias e doenças pulmonares crônicas, recebem, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cinco aplicações mensais do imunobiológico, durante os meses de maior circulação do VSR, dependendo da região onde o bebê vive. Os planos de saúde devem cobrir a aplicação das doses do palivizumabe para esses grupos.
No Distrito Federal, na Bahia, no Paraná e no Maranhão, prematuros menores de 32 semanas têm direito a essas aplicações, o que tem um impacto muito positivo para a população destes estados. Estudos demonstram que, da mesma forma que bebês nascidos com menos de 29 semanas, os prematuros menores de 32 semanas são muito beneficiados pelo uso do medicamento. Garantir que ainda mais bebês estejam protegidos diminui as sequelas respiratórias e o número de internações, evita a sobrecarga dos sistemas de saúde, tanto em ocupação de leitos quanto em custos.
Há ainda uma vacina especialmente recomendada para os prematuros, a vacina hexavalente. Ela também está disponível pelo SUS para prematuros que nascem antes de 33 semanas ou com menos de 1,5kg. É uma vacina combinada acelular, ou seja, protege contra várias doenças em uma única aplicação (difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae tipo b, hepatite B e a poliomielite) e, por ser desenvolvida com partículas, em vez de células inteiras, causa menos reações adversas e, se as reações acontecem, elas são muito mais leves.
O fato de diminuir o número de picadas e de efeitos colaterais, melhora a adesão da família ao esquema vacinal do bebê. A hexavalente está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), serviços públicos presentes em todos os Estados do país. O esquema vacinal consiste em quatro doses, aos 2, 4, 6 e 15 meses de vida do bebê. A ampliação dos critérios de aplicação da hexavalente ocorreu no ano passado, por meio do PNI; anteriormente, estava disponível apenas para bebês com menos de 31 semanas ou com peso ao nascer inferior a 1 kg.
“Tivemos avanços, mas ainda há muito a ser feito. Estamos trabalhando para a garantir equidade para os prematuros também no quesito imunização e isso inclui a ampliação não apenas dos critérios de inclusão para recebimento do palivizumabe e da hexavalente, como a facilitação do acesso da população a esses cuidados tão importantes, seja por meio do investimento na melhoria do atendimento prestado pelos CRIE, na implementação de mais unidades do CRIE nos estados, até a disponibilização das vacinas nas Unidades Básicas de Saúde e outros locais da Atenção Primária”, afirma a diretora executiva da ONG Prematuridade.com, Denise Suguitani. “São estratégias importantes na garantia do melhor cuidado do ponto de vista de prevenção e proteção da saúde dos prematuros”, ressalta
Avanços nas vacinas
A vacina hexavalente acelular passará a ser produzida no Brasil. O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) assinou, em janeiro deste ano, um acordo de transferência de tecnologia para a produção nacional do imunizante. Vacinas combinadas acelulares como esta contribuem para o avanço da cobertura vacinal, pois permitem a simplificação do calendário, colaborando para o aumento das taxas de cobertura contra doenças infecciosas.
Há também previsão da chegada no mercado brasileiro de dois imunizantes importantes na prevenção ao VSR. O nirsevimabe, já aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é recomendado para todas as crianças até 1 ano de idade, sendo aplicado em dose única, um mês antes ou durante a sazonalidade do VSR na região onde o bebê vive. Na segunda sazonalidade, é indicado para crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade com necessidade de suporte médico, imunocomprometimento grave, fibrose cística e cardiopatias congênitas não corrigidas. Também estará disponível, em breve, uma vacina, já licenciada pela Anvisa, aplicada em gestantes no segundo ou terceiro semestre gestacional, e que previne infecções pelo VSR em recém-nascidos.
Fonte: Predicado Comunicação