Butantan–
O Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan possui dois exemplares de um inseto bastante peculiar: a mariposa-bruxa (Ascalapha odorata), que figura no imaginário popular como um sinal de morte e azar. Também conhecida como mariposa-negra, bruxa-negra ou somente bruxa, esse bicho é assim chamado por conta de sua coloração escura, dos pequenos padrões desenhados em suas asas e pela superstição de que, caso entre em alguma casa, levará um morador à morte. Nada mais distante da realidade: sua presença é fundamental para a manutenção da diversidade biológica das regiões onde vive.
De acordo com a especialista em Entomologia do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan, Natália B. Khatourian, as bruxas são essenciais para a conservação da biodiversidade, já que não só servem de alimento para outros bichos, como também ajudam na polinização. “Mariposas, a depender da espécie, acumulam pólen em partes do corpo, como nas asas, e o dispersam durante o voo”, relata
Características
Descrita pela primeira vez em 1758, a mariposa-bruxa é um lepidóptero (ordem que inclui borboletas e mariposas), e a única espécie de mariposa do gênero Ascalapha, da família Erebidae. O seu nome científico, que foi influenciado pelo macabro nome popular, vem de Ascálafo, personagem da mitologia grega que cuidava do pomar de Hades, no Submundo.
A mariposa-bruxa pode ser encontrada em grandes quantidades em regiões tropicais e neotropicais, como o sul dos Estados Unidos, a América Central, o Brasil e o Havaí, e costuma viajar na direção do norte durante a primavera e o verão.
É um inseto holometábolo, que realiza uma metamorfose completa em quatro estágios (ovo, larva, pupa e fase adulta), e que privilegia as plantas das quais se nutre para colocar os ovos após a fecundação. A sua alimentação é rica e varia entre néctar, pólen, líquidos de frutos, folhas de leguminosas, excretas e resinas vegetais.
É bem difícil encontrar uma bruxa voando por aí durante o dia, já que esse bicho apresenta hábitos noturnos – é por isso, inclusive, que ela possui coloração mais escura: para se camuflar à noite.
Pode não parecer à primeira vista, mas há muitas diferenças entre a mariposa-bruxa fêmea e o macho. A fêmea é um pouco maior, podendo chegar a 24 cm de largura, enquanto o macho alcança até 12 cm. Outra distinção perceptível é uma exclusiva e sutil linha branca lateral nas asas da fêmea.
Macho e fêmea também possuem variações nos padrões de cor. “A fêmea, a depender da espécie, pode ser mais parda e escura. Já o macho pode ficar mais colorido. Eles se identificam enquanto espécie através de feromônios, danças e outros meios”, relata Natália.
Afinal, dá azar ou não?
A resposta é não. A mariposa-bruxa não causa nenhum acidente ou ocorrência realmente desagradável. Se uma pessoa tocá-la nas asas (que são repletas de escamas) e levar as mãos aos olhos, há a possibilidade de ter uma alergia leve. Mas como deve acontecer com qualquer inseto, o ideal é não incomodar o bicho.
Há diversas versões sobre as possíveis habilidades místicas e superstições que envolvem esse inseto. Enquanto para alguns ele representa a má sorte e mau presságio, para outros a bruxa incorpora a alma de um ente querido que faleceu recentemente e possibilita uma despedida.
Sua representação na mídia não é das melhores (como no livro “O Silêncio dos Inocentes”), mas não se engane — é um animal inofensivo e que precisa ser preservado. Pode deixar essa bruxa solta!
Reportagem: Guilherme Castro
Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan