Por Arison Jardim –
Como já é tradição na Aldeia Apiwtxa, do povo Ashaninka do Rio Amônia, foi realizada no último dia 2 de outubro uma grande reunião com todas as lideranças da comunidade. Em pauta, foram discutidos o andamento dos projetos em execução pela Associação Apiwtxa e Cooperativa Ayõpare, além das ameaças que se aproximam da Terra Indígena, como a Estrada UC-105, que, de forma ilegal, invadiu o território vizinho de Sawawo, no Peru.
Em questão da rodovia, foi informado para os membros da comunidade, das ações que estão sendo realizadas na luta contra este ataque aos povos da região. Francisco Piyãko, uma das lideranças, explicou como ocorreu a reunião do último mês, em Puerto Breu, no Peru, em que instituições e comunidades pediram o acompanhamento do governo Peruano na fiscalização e andamento da UC-105, que está abrindo a floresta sem nenhum projeto ou consulta pública.
“Tivemos representantes nossos, da Apiwtxa, que foram ajudar a comunidade de Sawawo, quando as máquinas invadiram e atravessaram o Rio Amônia. E nós fomos no Congresso que teve em Puerto Breu, também para dar força para Sawawo, mostrar que estamos juntos na luta contra essa estrada. Temos que entender o que está ocorrendo ao nosso redor”, falou Francisco.
Projetos
Parte da reunião foi para discutir o andamento dos projetos executados pela comunidade, seja em parcerias ou pela própria associação. No momento, existem trabalhos sendo realizados com sementes florestais, fortalecimento institucional, piscicultura e outros. “Discutimos, por exemplo, as questões voltadas para a segurança alimentar e produção dos nossos sistemas agroflorestais. E já iniciamos a organização para uma Assembleia Geral, que será realizada em novembro, aqui na Apiwtxa”, explicou Wewito Piyãko, presidente da Associação Apiwtxa.
Além de realizar projetos internos, de forma própria, como a piscicultura, habitação e manejo de tracajás, a Apiwtxa conta com parcerias para outros trabalhos, como a Conservação Internacional Brasil (CI Brasil), que contribuiu nas ações de fortalecimento institucional; e o governo do Estado, por meio do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre (PDSA), no trabalho com as sementes florestais.
Ao fim da reunião, Moisés Piyãko relembrou a evolução da comunidade Apiwtxa, que com muita luta, acabou com a época dos patrões, que com a exploração de madeira ocorrida no século passado, transformou a região, fez com que os povos tradicionais se tornassem mão de obra barata e sem a possibilidade de exercer sua identidade.
“Hoje, nós crescemos e criamos uma história aqui. Tiramos essas coisas ruins que estavam dentro de nós, todos os patrões, tudo isso que estava acabando nosso povo. Nossa família estava bem pouquinho, acho que tínhamos só 30 pessoas dentro desta comunidade”, disse Moisés.