A modelo Milla Vieira, recém-eleita Miss Universe São Paulo, foi alvo de ataques racistas nas redes sociais após a divulgação do resultado do concurso, realizado na última quarta-feira (24). Dona de uma beleza incontestável, a representante de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, ela agora se prepara para representar o estado no concurso nacional em setembro deste ano. As informações são do G1.
Internautas contestaram a vitória de Milla, uma mulher negra, com comentários racistas como: “Ganhou pela cota, só pode”, “Por que agora tem cota reservada nestes concursos?”, e “Perderam a noção de beleza mesmo, lacração tá f… hoje em dia.”
Em resposta, Milla se pronunciou em seu Instagram: “Por que tanto incômodo? Por que tanto ódio? Internet não é terra sem leis, e os responsáveis serão, SIM, penalizados.”
A empresa responsável pelo Instagram, a Meta, disse que não comentará o caso. Irapuã Santana, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-SP, destacou que a internet é frequentemente vista como um espaço onde as pessoas acreditam que não serão identificadas, o que leva à certeza de impunidade e ao aumento de ofensas. “Existe, num primeiro momento, um descontentamento com a escolha feita, mas isso abriu espaço para questões raciais também.”
Apesar disso, Santana afirmou que a responsabilidade civil é cabível, uma vez que os comentários incluem ofensas pessoais. Já a responsabilidade criminal por injúria racial fica a critério da interpretação das autoridades legais.
Shirley Candido Claudino, advogada e membro da Comissão de Igualdade Racial e da Mulher Advogada da OAB-SP, Subseção Santo Amaro, afirmou que o caso de Milla “ilustra claramente as consequências do racismo estrutural e da hipocrisia social que permeiam nossa sociedade”. Ela recomendou que Milla busque orientação jurídica para tomar as medidas legais necessárias, pois crimes virtuais são passíveis de punições que vão desde multas a detenção.
Além de defenderem a legitimidade do concurso, os organizadores destacaram a beleza e competência de Milla, reafirmando que a decisão dos jurados foi baseada em critérios justos e transparentes. “Sua conquista é um reflexo de sua dedicação e excelência, e deve ser reconhecida e celebrada por todos”, diz o comunicado.
Gerson Antonelli, presidente do Miss Universe Brasil, afirmou que os autores dos comentários racistas serão punidos de acordo com a Lei do Racismo. “Venho, por meio desta, expressar minha indignação e repúdio contra certos indivíduos que usam as redes sociais para cometer crimes, incluindo racismo, pensando que ficarão ilesos de punição”, disse ele. Antonelli destacou que a lei se aplica também aos comentários racistas nas redes sociais, assim como se ocorressem fora do ambiente virtual.
O caso de Milla não é isolado. Em 2011, a angolana Leila Lopes, vencedora do Miss Universo realizado em São Paulo, também sofreu ofensas racistas nas redes sociais, destacando um padrão preocupante de discriminação em concursos de beleza.
Fonte: BNEWS