Se você nasceu entre as décadas de 1980 e 1990, viu o “Castelo Rá-Tim-Bum” (Cultura) em algum momento da infância e guarda na memória a dupla de cientistas, Tíbio e Perônio. Por onde andam Flavio de Souza e Henrique Stroeter, intérpretes dos icônicos personagens?
Tíbio e Perônio falam de uma coisa muito específica. Os outros quadros do ‘Castelo’ falam sobre várias coisas, mas Tíbio e Perônio, não, é ciência. Pode acontecer de alguém que se tornou cientista porque é fã do Tíbio e Perônio. A gente teve muita sorte com esses personagens.
Flavio de Souza, em entrevista.
Um acerto por acaso
O “Castelo Rá-Tim-Bum” nasceu por um toque do destino. A Cultura teve o programa infantil “Rá-Tim-Bum” premiado em um festival de Nova York, mas não conseguiu vender o material por problema técnico com os exemplares. Flavio de Souza e Cao Hamburger foram escalados pelo canal para recriar o projeto.
A gente inventou tanta coisa nova que eles falaram: ‘bom, é melhor fazer um programa novo’. E aí apareceu o ‘Castelo Rá-Tim-Bum’ que não era para existir. O destino queria outra coisa.
Flavio de Souza
Com o novo programa em produção, Henrique Stroeter foi convidado para um teste no papel de Nino na Cultura. “Decorei o texto sem entender muito bem, porque falava do mal, do Godolfredo, e não tinha informação, era difícil. Fiz um bom teste de Nino. O Cao falou: ‘Seu teste foi muito legal, mas eu só queria que você viesse aqui para conversar. Você vai ser irmão gêmeo de Flavio de Souza’. Eu falei: ‘Todo mundo fala que eu sou muito parecido com Flavio de Souza’. Foi muita responsa.”
Flavio de Souza é o responsável pela criação de Tíbio e Perônio. Ele havia criado os personagens Tíbia e Perônia para outro projeto, mas adaptou a ideia, com algumas peculiaridades, para dar vida aos cientistas gêmeos.
Toda a palhaçada é culpa minha. Eu e Cao Hamburger somos fãs do “Tintim”. Na história de Tintim tem uma dupla de gêmeos, que é Dupond e Dupont. Eles são atrapalhados e Tíbio e Perônio foi baseado neles. Tem uma coisa que o Tíbio e Perônio fala muito, que é: “eu diria” e outra fala: “Eu diria mais”, é de Dupond e Dupont. Eu roubei, tá?
Flavio de Souza
Os atores contam que a sintonia entre ambos surgiu desde a primeira troca de olhares já trajados de Tíbio e Perônio. “A gente não ensaiou. Sabíamos o texto, mas não combinamos nada. A única coisa foi o “olá, olá”. O resto foi inventando na hora. Uma coisa meio maluca”, destaca Flavio.
Eu e Flavio somos tímidos, não parece, mas nós somos. Tem uma coisa que eu falo toda vez: “Quando você achar um cara que é dupla de você, agarra, que é muito difícil”. A gente teve essa sorte, do jeito que a gente é, a gente conseguiu fazer.
Henrique Stroeter
“Carinho do público demorou”
Flavio de Souza e Henrique Stroeter afirmam que o reconhecimento do público demorou, pois os fãs tinham em sua memória a imagem dos personagens, e não deles. “Posso te dizer que demorou muito, porque ninguém acreditava éramos Tíbio e Perônio. O nosso público, na época, eram crianças. As mães falavam: ‘Esse é Tíbio e Perônio’, mas o moleque olhava, ria e ia embora. Não acreditava.”, diz Henrique Stroeter.
Quase 30 anos depois do “Castelo Rá-Tim-Bum”, eles ainda ganham afagos de fãs pelas ruas. “Fui comprar um suco num shopping com o meu filho e a cara do rapaz se transformou. Falei: “Meu Deus, o que tá acontecendo?” E ele começou a chorar: “Você fez parte da minha vida”.
Por onde andam Flavio de Souza e Henrique Stroeter?
Flavio de Souza e Henrique Stroeter trabalham como Tíbio e Perônio para a Genera, laboratório especialista na genética brasileira. Os cientistas da empresa, recorda Stroeter, afirmaram que o primeiro impulso para gostar de alguma coisa ligada à ciência havia sido com a dupla. “Isso não tem dinheiro no mundo que pague.”
“Parece que a gente está voltando para a casa de um tio que você não vê há muito tempo. É uma coisa familiar. Tem um monte de gente que fala: ‘Você fez parte da minha infância’. Nunca escutei uma frase tantas vezes como essa”, completa Flavio de Souza.
Henrique Stroeter se dedica ainda a peças teatrais pelo Brasil, sendo seu último trabalho na TV em “A Infância de Romeu e Julieta” (SBT). “Vão ao teatro. Todo mundo achou que, quando acabasse a pandemia, ia voltar todos aos teatros, mas ainda está engatinhando. Precisamos que as pessoas voltem ao hábito de ir ao teatro, museu e de sair de casa.” Já Flavio de Souza dedica seu tempo a leitura de trechos de seus livros nas redes sociais. “Cada vídeo é sobre um livro.”
Flavio e Henrique nutrem o sonho de lançar uma série própria de Tíbio e Perônio. “Estamos há 30 anos na tentativa de ter uma série deles e Flavio já pensou em tudo”, brinca Henrique.