Após seis horas à deriva em uma balsa salva-vidas no meio do oceano Atlântico, o paulista Marcelo Osanai, de 38 anos, foi resgatado quarta-feira passada pela tripulação do navio petroleiro Front Pollux, a cerca de 2.400 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, depois que o barco no qual ele viajava para aquele país, o veleiro suíço Nina Pope, afundou, na madrugada anterior.
Junto com Marcelo estava outro tripulante do veleiro, o suíço-americano Balthasar Wyss, que também nada sofreu no acidente.
Mas o capitão do barco, o suíço Benno Frey, não conseguiu sair a tempo e afundou junto com o veleiro, o que deixou os dois sobreviventes traumatizados.
Chegou ontem à terra firme
O brasileiro desembarcou na Cidade do Cabo na segunda-feira (18), ainda chocado e sem querer falar sobre o naufrágio, que ocorreu durante uma tempestade, com ventos que passavam dos 70 km/h e ondas de mais de cinco metros de altura.
Dois dias antes, os três tripulantes do veleiro, de 15 metros de comprimento, que pertencia ao capitão suíço, haviam feito uma escala na ilha de Tristão da Cunha, no Atlântico Sul, onde passaram o dia, passeando, comendo e fotografando a ilha. Em seguida, levantaram âncora e partiram, rumo à África do Sul, onde o brasileiro desembarcaria e retornaria ao Brasil.
A passagem do veleiro pela ilha foi registrada, com fotos, pelo site oficial de Tristão da Cunha, que, três dias depois, voltou a publicar sobre o trio, desta vez para lamentar o naufrágio do veleiro e a morte do capitão do barco.
O que aconteceu?
Aparentemente, o naufrágio ocorreu porque o veleiro onde estava o brasileiro bateu em algum objeto não identificado no mar (talvez, um container à deriva) e começou a encher rapidamente de água.
As bombas de sucção foram acionadas, mas, por conta das extensões dos danos no casco, não deram conta de expulsar toda a água que entrava.
Os três, então, decidiram abandonar o veleiro, que afundava velozmente, e passar a balsa salva-vidas.
Marcelo e o americano foram os primeiros a embarcar.
Mas, quando chegou a vez do capitão abandonar o veleiro, não houve tempo de soltar o cinto de segurança que o mantinha atado ao barco, procedimento obrigatório no caso de tempestades como a que eles enfrentavam. Ele foi sugado para o fundo do mar, junto com o barco.
Tudo isso aconteceu diante dos olhos do brasileiro e do americano, que nada puderam fazer para evitar a tragédia. Por isso, até agora, traumatizados, eles preferem não comentar sobre o caso.
Quem é o brasileiro?
O paulista Marcelo Osanai, um especialista em comércio digital e velejador ocasional, havia embarcado no Nina Pope no dia 27 de fevereiro, no Rio de Janeiro, após aceitar uma proposta para ajudar na navegação do veleiro até a África do Sul.
Como estava em um ano sabático, após uma longa carreira em uma empresa de pesquisas de mercado, a Ebit/Nielsen, aceitou.
Marcelo pretendia desembarcar na Cidade do Cabo e passar mais alguns dias visitando a África do Sul, onde chegou nesta segunda-feira, a bordo do navio que o resgatou no meio do Atlântico.
No porto, foi recebido por membros da Embaixada Brasileira na África do Sul, já que perdera tudo no naufrágio, inclusive documentos.
Hoje, Marcelo recebeu um novo passaporte para poder retornar ao Brasil, de avião, mas ainda não sabe quando irá fazer isso.
‘Ele está traumatizado’
“Ele está bastante traumatizado, especialmente pelas circunstâncias da morte do capitão do barco”, diz o pai de Marcelo, Nelson Yassuo, que vive em São Paulo e está em contato com Marcelo através de outro filho, que vive na Suíça, mas viajou para a África do Sul para ajudar o irmão.
“Mesmo comigo, ele ainda tem muitas dificuldades em tocar no assunto”, diz o pai do náufrago brasileiro, que só escapou com vida do naufrágio porque, na balsa, havia um equipamento portátil que emite pedidos de socorro com a localização do instrumento — e, por sorte, o sinal foi detectado pelo Centro de Coordenação de Resgate Marítimo da Cidade do Cabo, a quase de 2 500 quilômetros de distância.
Imediatamente, o órgão disparou pedidos de ajuda aos navios que estivessem por perto, apesar da violenta tempestade.
Como foi feito o resgate
O petroleiro Front Pollux, que vinha da Argentina para a África do Sul, recebeu o pedido, desviou do seu rumo e tratou de tentar encontrar a balsa dos náufragos, algo nada fácil em meio a grandes ondas e fortes ventos.
Visualmente, era impossível achar uma pequena balsa no mar, naquelas condições meteorológicas.
Mas, uma vez mais, os sinais emitidos pelo localizador ajudaram a tripulação do navio a localizar a balsa, seis horas após o naufrágio. O navio, então, se posicionou de forma a barrar o vento, para que o resgate pudesse ser feito.
Tanto o brasileiro quanto o americano estavam fisicamente bem, mas em estado de quase choque, por causa da morte do capitão do barco.
Veja o vídeo do resgate:
Fonte: UOL