Cerca de 300 alunos das escolas públicas Manoel Braz de Melo e Augusto Severo, localizadas na zona rural de Cruzeiro Sul (AC), mergulharam em uma jornada educacional por meio do jogo interativo “A Vila da Farinha”. O evento de lançamento aconteceu no dia 27 de setembro e aproximadamente 20 escolas públicas da região receberão os jogos. Desenvolvido pela Embrapa Acre, o material didático visa a melhorar o aprendizado de jovens da região sobre as Boas Práticas de Fabricação da farinha de mandioca, o produto mais tradicional do Vale do Juruá.
Para a estudante Gisele Rocha, da Escola de Ensino Médio Manoel Braz, o jogo mostra bem como produzir uma boa farinha. “A gente tem uma casa de farinha e sabe a importância de higienizar tudo, porque é algo que vamos ingerir. Se não tiver o devido zelo, como limpar os objetos adequadamente, pode ocorrer infecções ou outros problemas”, afirma.
O acervo “A Vila da Farinha” é composto por um tabuleiro e um baralho com perguntas e respostas que desafiam os participantes a aprender sobre as Boas Práticas de Fabricação na produção de farinha de mandioca. Além de fornecer informações cruciais sobre o processo de produção da farinha, reúne elementos gráficos que representam fielmente a realidade rural, incluindo as unidades de produção, como as casas de farinha, e personagens que representam diversas comunidades envolvidas no processo produtivo, incluindo indígenas, agricultores familiares e mulheres que desempenham um papel vital nesse processo.
Segundo Fabiano Estanislau, analista de comunicação da Embrapa Acre e responsável por coordenar a produção do jogo, essa ferramenta lúdica poderá ser utilizada pelos professores como material didático, especialmente com alunos que estão concluindo o ensino fundamental. “Nossa intenção é possibilitar que estudantes aprendam brincando e possam compartilhar esses conhecimentos com suas famílias e comunidades. Aprimorar esse aprendizado pode contribuir para melhoria da qualidade da farinha de mandioca e valorização do produto no mercado, proporcionando mais renda para os produtores e segurança para os consumidores”.
Para a coordenadora da Educação do Campo da Secretaria Estadual de Educação, o jogo é muito enriquecedor. “Porque a gente tem a oportunidade de usar o jogo para trabalhar a cultura do aluno, a história e, principalmente, a realidade em que eles estão inseridos. A maioria dos alunos aqui da zona rural são produtores de farinha para consumo ou venda. E eles vão poder conhecer e melhorar a produção e levar ao consumidor um produto de qualidade superior”, declarou.
O jogo “A Vila da Farinha” foi desenvolvido no âmbito do projeto em rede “Tecnologias para agregação de valor e produção sustentável de mandioca por produtores familiares na Amazônia – MandioTec”. Financiado com recursos do Fundo Amazônia, em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o projeto tem como objetivo fortalecer a produção sustentável de mandioca em municípios do Juruá. O jogo também faz parte do projeto “Agregação de valor e qualidade aos produtos derivados da mandioca”, executado pela Embrapa Acre.
Composta pelos municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo, a região do Juruá é o principal polo produtor de farinha de mandioca no Acre. No entanto, outras regiões do estado, como Baixo Acre e Purus, também têm uma tradição significativa na produção de farinha. “As Boas Práticas de Fabricação são procedimentos padronizados essenciais para atender às exigências da legislação sanitária na produção de farinha de mandioca, e os conhecimentos disponibilizados pelo jogo podem beneficiar produtores em diferentes partes do estado”, destaca a pesquisadora Joana Maria Leite, da Embrapa Acre.
Em 2017, a farinha de Cruzeiro do Sul se tornou o primeiro derivado da mandioca com Indicação Geográfica no Brasil, na modalidade Indicação de Procedência. A modalidade se refere ao nome de um país, cidade ou região conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
A Central Juruá, cooperativa de produtores de farinha, é a detentora do selo e atuou em conjunto com a Embrapa, o Sebrae e outras instituições para obtenção do selo, com mais de uma década de pesquisas conjuntas que geraram informações sobre as características da produção artesanal da farinha de mandioca e contextos históricos do território que auxiliaram o processo.