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WWF relata o sofrimento no combate ao fogo nas aldeias e unidades de conservação do AC

No dia 22 de agosto de 2019, um incêndio destruiu cinco dos 30 hectares da Área de Proteção Ambiental do Igarapé São Francisco, uma unidade de conservação estadual com acesso pelo ramal História Encantada, no quilômetro 36 da Rodovia Transacreana, em Rio Branco, capital do Acre. O fogo atingiu o Centro Huwã Karu Yuixibu, a maior concentração populacional do povo Huni Kuin fora de suas terras indígenas, e acabou com o roçado onde a comunidade cultivava alimentos.

O trabalho hercúleo liderado pelos próprios indígenas para combater as chamas durou três longas horas. A água, escassa naquela região principalmente durante o “verão amazônico”, foi carregada em baldes. Galhos de árvores serviram como abafadores de fogo improvisados. Com as queimadas em alta nos arredores de Rio Branco e a distância de 36 quilômetros do quartel mais próximo, os bombeiros demoraram para chegar à localidade – o que ampliou os danos, ameaçando até as casas dos Huni Kuin. O que sobrou foi um cenário desolador: o solo tomado por cinzas.

Os prejuízos poderiam ter sido amenizados e as chamas controladas logo no início se os integrantes da comunidade tivessem ferramentas adequadas e fossem treinados como brigadistas. Pensando em prepará-los para esse tipo de ação e em reduzir os danos à biodiversidade local, em junho deste ano, o WWF-Brasil doou para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre (Sema-AC) 696 peças de combate ao fogo – como abafadores, sopradores, bombas-costais, motobombas e caixas d’água – e equipamentos de proteção individual (EPIs) – como máscaras, botas e óculos.

A Sema, por sua vez, se comprometeu a capacitar os brigadistas. Com apoio do Corpo de Bombeiros e do Batalhão de Policiamento Ambiental, cinco moradores do Centro Huwã Karu Yuixibu tiveram aulas teóricas e práticas de combate ao fogo e primeiros socorros no início de agosto. E cada brigadista recebeu um kit com equipamentos. De lá para cá, foram realizados outros quatro cursos. No total, a Sema já treinou 25 brigadistas. Outros 20 ainda serão formados nas próximas semanas.

Os brigadistas atuarão nas nove Unidades de Conservação (UCs) estaduais: nas áreas de Proteção Ambiental Lago do Amapá e Igarapé São Francisco; nas florestas do Antimary, do Rio Gregório, do Mogno, do Liberdade e do Afluente; no Parque Estadual do Chandless e na Área de Relevante Interesse Ecológico Japiim Pentecoste. Juntas, essas unidades somam uma área de 152.000 km2.

Freitas Filho, tenente do Corpo de Bombeiros e um dos orientadores dos treinamentos, salienta que o material doado pelo WWF-Brasil e a capacitação dos brigadistas permitem o combate dos focos de fogo ainda na fase inicial, reduzindo os riscos de expansão das chamas. “Os equipamentos e a formação vão nos ajudar muito, pois os comunitários saberão como agir”, diz.

A capacitação envolve aulas teóricas, que abordam as temáticas da biodiversidade, ciclos biogeoquímicos e conservação do solo e da água, e práticas – sempre com orientação e supervisão de técnicos da Sema e de bombeiros. Uma pequena porção de vegetação é incendiada para que os alunos possam simular o combate real ao fogo, usando equipamentos como abafadores e bombas-costais, além das técnicas de construção de aceiro.

Os brigadistas que estão participando das formações são moradores das UCs. Por conhecerem melhor do que ninguém a área e a realidade dessas comunidades, a tendência é de o resultado ser muito mais eficaz, pois não será necessário esperar horas ou até dias para a chegada de bombeiros em locais remotos e de difícil acesso.

“No ano passado, nós tivemos que lidar com essa realidade do fogo, quando cinco hectares da nossa terra foram queimados. Esse presente que a gente recebeu com grande alegria vai nos ajudar a conservar nossa floresta. É um momento de celebrar, um avanço que a gente está vivendo, em ver nossa qualidade de vida melhorar”, disse Mapu Huni Kuin, liderança do Huwã Karu Yuixibu. “Com a parceria do WWF-Brasil, estamos realizando essas capacitações. É uma ação que vai além da educação ambiental, é uma resposta que chega diretamente aos comunitários”, acrescentou Israel Milani, secretário estadual de Meio Ambiente do Acre.

A situação das queimadas no Acre é uma das mais preocupantes entre os estados da Amazônia Legal. Em agosto, o estado teve o terceiro maior registro de foco de queimadas na região, ultrapassando Mato Grosso e Rondônia. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam 3.578 focos nos 31 dias do mês passado. Entre os estados da região Norte, o Acre é o que apresenta a maior probabilidade de ser afetado por fogo dentro da floresta nativa: 85%, segundo estimativas da Nasa, a agência espacial americana.

Fonte – Do WWF

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