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Estudo mostra mais de 800 mortes em chacinas na Amazônia; veja situação do Acre

Revista Cenarium —

Um levantamento inédito realizado pela Rede Liberdade e pela Clínica de Direitos Humanos do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), parte de uma contribuição apresentada à Organização das Nações Unidas (ONU), revela um panorama alarmante da violência nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. O estudo, intitulado Mapa de Chacinas: regiões Norte e Nordeste, contabiliza 489 chacinas entre 1988 e 2023, das quais 150 ocorreram na região Norte, o que resultou em 826 vítimas fatais até o dia 28 de setembro de 2023.

O Pará lidera em número de chacinas, com um total de 69 eventos, dos quais 22 ocorreram na capital Belém, 6 em Marabá e 5 em Ananindeua. O Amazonas registrou 29 chacinas, seguido por Rondônia e o Acre, com 16 cada. Tocantins contabilizou 9 chacinas, enquanto Roraima apresentou 6 casos, e o Amapá, 3 chacinas.

Para Amarílis Costa, diretora-executiva da Rede Liberdade, esses números evidenciam um padrão de violência estrutural contra populações vulneráveis. “Há uma violência direcionada e uma omissão persistente das autoridades em proteger essas comunidades. Esse cenário exige uma resposta urgente e um comprometimento do Estado”, afirma.

A pesquisa revela ainda que as chacinas atingem de forma desproporcional comunidades negras, quilombolas e indígenas, o que indica uma seletividade dos homicídios. Sem dados oficiais detalhados sobre o perfil racial das vítimas, os pesquisadores estimam que a maioria desses crimes ocorre em territórios majoritariamente negros. De acordo com Rodrigo Portela, consultor e um dos pesquisadores do estudo, a violência se concentra desproporcionalmente nessas comunidades. “Este estudo mostra que comunidades inteiras permanecem desprotegidas, e o Estado falha em oferecer políticas de reparação para as famílias das vítimas”, observa.

O estudo também destaca que a ausência de um monitoramento unificado e de medidas de responsabilização reforça a invisibilidade das chacinas. Sem informações detalhadas sobre as vítimas — como raça, idade e condição social — e sem um banco de dados oficial, a compreensão desses eventos permanece incompleta. Os pesquisadores observam que a década de 1990 teve uma subnotificação de chacinas devido à limitação dos dados disponíveis, baseados principalmente em registros secundários e jornalísticos. Somente a partir de 2011, com o aumento da cobertura midiática e o uso mais frequente do termo “chacina” para descrever esses eventos, a base de dados se consolidou e permitiu uma compreensão mais precisa da escala do problema. Essa lacuna histórica, segundo eles, dificulta uma resposta mais direcionada às comunidades afetadas.

Diante dessa falta de dados e da impunidade persistente, os autores do levantamento reforçam a necessidade urgente de um acompanhamento mais efetivo e de uma estrutura de segurança pública que proteja essas populações. “O dado mais importante que se obteve é o de apagamento dessas vítimas, que, ao nosso ver, serve para a manutenção de um projeto de destruição material de corpos e populações julgados como descartáveis e supérfluos, caracterizados como vidas matáveis e sem valor”, conclui o documento.

O estudo completo está disponível em: https://redeliberdade.org.br/publicacoes/mapadechacinas/.

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