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Conforme a pesquisa sobre a antiga ocupação humana avança na região da floresta amazônica, cai por terra aquela tradicional ideia de uma região intocada, de uma floresta idílica e inexplorada antes da chegada dos europeus.

A descoberta nos anos de 1970 de enormes geoglifos na região do Acre (Brasil), já apontava para um sofisticado manejo de terra e, consequentemente, da paisagem. Da mesma forma, a criação de açudes de peixes e drenos para água tinham a mesma função: a de adequar a natureza às necessidades de agrupamentos humanos. Hoje, as evidências de gigantes aldeias interligadas por caminhos pré-colombianos mostram que muitos desses locais podiam abrigar até 1 milhão de indígenas.

Agora, recentes pesquisasda Universidade de Nothumbria (Reino Unido) e Universidade da Flórida Central (EUA), trouxeram novos dados da floresta de Llanos de Mojos (Bolívia). A região atualmente é utilizada para pecuária, mas os pesquisadores notaram vestígios de açudes de peixes e agricultura de povos pré-colombianos. O que não se sabia ainda, era o quão antigo eram esses vestígios. Para análise de resultados, Neil Duncan (paleobotânico da UFC-EUA) extraiu alguns núcleos de terra de 1,5 metros de profundidade, de diferentes lugares, encontrando neles partículas microscópicas de tecido vegetal e vestígios de queima de madeira. A datação dessas partículas remete a 3.500 anos atrás, ou seja, muito antes da chegada de qualquer europeu. Segundo Bronwen Whitney (Universidade de Northumbria), “esta é a primeira vez que conseguimos mostrar no passado como as pessoas gerenciavam suas terras e recursos hídricos em um sistema acoplado”.

Ao mesmo tempo, na floresta tropical no nordeste do Peru, a pesquisadora Dolores Piperno (Smithsonian Tropical Research Institute – Panamá) buscava evidências do antigo impacto humano na floresta tropical durante a pré-história. Através da arqueologia botânica, Piperno afirma que o manejo da floresta pela população indígena foi sustentável, sem perdas ou disturbios nas espécies animais por vários milênios, independente do tamanho de suas aldeias. Da mesma forma utilizada em Llanos de Mojos, a equipe de Piperno recolheu camadas de sedimentos em busca de fitólitos – registros minúsculos do que cresceu na floresta tropical ao longo de milênios – que podem nos indicar a intensidade com que a floresta foi manipulada pelos antigos povos.

Mais do que evidenciar a antiguidade da ocupação humana na floresta tropical amazônica, Piperno busca provar que o conhecimento dos povos da floresta são fundamentais para o salvamento da atual biodiversidade existente na floresta, orientando a seleção das espécies corretas que podem ser plantadas sem agressão do meio ambiente: “os povos indígenas têm um conhecimento tremendo sobre sua floresta e seu meio ambiente, e isso precisa ser incluído em nossos planos de conservação”.

Dalton Delfini Maziero é historiador, escritor, especialista em arqueologia e explorador. Pesquisador das culturas pré-colombianas e história da pirataria marítima. Visite a Página do Escritor (https://clubedeautores.com.br/livros/autores/dalton-delfini-maziero)

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