Contribuir para o fortalecimento da cadeia produtiva de hortaliças do Juruá. Com este objetivo, o projeto “Tecnologias sustentáveis para o fortalecimento da horticultura na Amazônia – Hortamazon”, executado pela Embrapa, no âmbito do Fundo Amazônia, atua em parceria com agricultores familiares da região, para viabilizar os cultivos e o acesso a conhecimentos tecnológicos necessários para a produção e geração de renda. Iniciado no final de 2018, o projeto contempla três propriedades rurais dos municípios de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul.
No primeiro ano de atividades, as ações priorizaram a formalização de parcerias e a estruturação de Unidades de Observação (UD) nas propriedades contempladas. O Hortamazon apoiou a implantação fornecendo materiais e insumos e orientando a formação dos cultivos. Alguns produtores trabalham com apenas uma cultura e já estão comercializando a safra, outros optaram por uma produção diversificada, que inclui folhosas, pimenta-de-cheiro e salsa entre outras hortaliças, ainda em fase inicial.
De acordo com Daniel Lambertucci, especialista da Embrapa Acre, responsável pelas ações de transferência de tecnologias no Juruá, esses agricultores já atuavam com horticultura e frequentemente buscavam o escritório da Empresa para adquirir conhecimentos e solicitar apoio para melhorar a produção. Para o projeto, esse perfil proativo é um diferencial. “Apesar do suporte material proporcionado na fase inicial da parceria, os produtores caminham sozinhos e com tecnologias adequadas estão conseguindo tornar o cultivo de hortaliças uma atividade rentável”, diz.
Produção de pepino
Na Chácara Vô Raimundo, propriedade rural com oito hectares, localizada em Mâncio Lima, o cultivo de pepinos iniciado há um ano, é o foco da produção. A experiência com hortaliças começou em 2008, com a cultura do tomate, mas devido aos prejuízos causados por ataques frequentes de doenças, especialmente a murcha bacteriana, a família abandonou a atividade. Bruno Oliveira e o pai (Romoaldo) sempre foram agricultores, mas perceberam que para permanecer na agricultura era necessário obter conhecimentos técnicos. Com esse pensamento, decidiram estudar agronomia e, após a graduação, voltaram a trabalhar na propriedade.
“Buscávamos uma alternativa de renda que permitisse aproveitar a antiga estrutura da casa de vegetação, construída para o cultivo de tomate. Verificamos que existe muita demanda por pepino no mercado local e resolvemos investir na cultura, com um cultivo inicial de 240 plantas. A partir da interação com profissionais da Embrapa, veio a proposta para participarmos do projeto e isso fez toda a diferença. Hoje, com 1.500 plantas, em uma área de meio hectare, produzimos 20 caixas de pepinos por mês, com uma renda média mensal de 2,5 mil reais. A produção é insuficiente para atender estabelecimentos comerciais de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul”, explica o agricultor, ressaltando que a meta é chegar a cinco mil plantas até 2021.
“A forma empreendedora como esses produtores praticam horticultura chamou a nossa atenção e passamos a acompanhar a atividade na propriedade, uma vez que está plenamente alinhada aos objetivos do Hortamazon, por envolver a produção familiar de hortaliças. Nos conhecíamos desde a época da graduação, quando realizamos algumas ações conjuntas com a Universidade Federal do Acre, e eles sempre demonstraram compromisso com as atividades que participavam. Então, não tivemos dúvida da seriedade do trabalho na propriedade e oficializamos a parceria”, conta Lambertucci.
Manejo contínuo
Estudos revelam que o pepino é uma cultura exigente em relação ao manejo, principalmente quanto à adubação e oferta de água, que devem ser equilibradas para garantir boa produtividade e frutos de qualidade. Junto com o pai, Bruno Oliveira cultiva variedades de pepino comum, em campo aberto, e pepino japonês em ambiente protegido (estufa). Os agricultores apostaram no mulching, técnica de cobertura do solo com uso de lona plástica, que protege as raízes das plantas do excesso de água, na época chuvosa, e ajuda a manter a umidade do solo no verão, evitando o estresse hídrico.
A irrigação por gotejamento é utilizada diariamente, no verão, e em momentos com baixa ocorrência de chuvas no inverno, e também possibilita a fertirrigação, para garantir a aplicação de adubos e fertilizantes na dosagem adequada à necessidade das plantas. “Assim, evitamos desperdício de insumos e água e minimizamos a demanda por mão de obra na lavoura, com redução de custos na produção. Por ser uma cultura de ciclo curto e rápido crescimento, o manejo do pepino deve ser contínuo, seja cuidando da adubação e irrigação dos cultivos, seja realizando tratos culturais como desbaste das plantas, tutoramento, poda e controle preventivo de pragas e doenças entre outras práticas”, explica Bruno Oliveira.
Segundo o agricultor, algumas variedades de pepino comum e do tipo japonês demoram em torno de 50 dias para produzir, mas com práticas adequadas de manejo consegue antecipar a colheita. “Realizamos a primeira colheita com 36 a 40 dias da semeadura e colhemos de 10 a 13 frutos por planta do pepino japonês e entre cinco e sete frutos por planta da variedade comum. O cultivo escalonado, em lotes de 500 plantas, permite uma produção contínua, com oferta de frutos e geração de renda o ano inteiro. A parceria com a Embrapa agregou conhecimentos e possibilitou melhorar a cultura”, enfatiza.
Foto: Bruno Oliveira
Pandemia e Comercialização
A chegada do coronavírus trouxe insegurança e incertezas para agricultores de diferentes cadeias produtivas, em função das restrições para comercialização da produção, devido à necessidade de distanciamento social para proteger a saúde de produtores e consumidores. A família Oliveira acreditava que as vendas reduziriam, mas se surpreendeu com a mudança de comportamento dos consumidores.
“O mercado local sempre foi excelente consumidor de pepino, mas nesse período de pandemia, por ficarem muito tempo em casa as pessoas passaram a investir mais em alimentação, incluindo as olerícolas. A demanda pelo produto em pontos de revenda aumentou e se isso aconteceu é porque o consumo das famílias também cresceu, impactando positivamente a venda da produção”, destaca Bruno Oliveira.
Agenda de capacitações
Em 2020, o foco das ações do Hortamazon são as atividades de capacitação sobre diferentes aspectos da produção e hortaliças. Estão previstos quatro cursos para produtores e técnicos da extensão rural, que poderão multiplicar os conhecimentos junto às comunidades rurais, e três Dias de Campo, um em cada propriedade parceira do projeto, para mostrar os resultados da produção e compartilhar conhecimentos. Entretanto, devido à pandemia da covid-19 todas as atividades foram reprogramadas para o primeiro semestre de 2021.
Segundo Lambertucci, diante da impossibilidade de atender a todos os produtores da região, de forma individual, uma estratégia eficiente para ampliar o acesso a informações tecnológicas é utilizar as Unidades Demonstrativas como ambiente de aprendizagem em cursos de formação de multiplicadores de conhecimentos. “Temos consciência das dificuldades que os agricultores enfrentam para produzir e que a transferência de tecnologias é um processo lento. Investir em capacitação e unir esforços com outras instituições de pesquisa e fomento são caminhos possíveis para encurtar a distância entre quem produz e o conhecimento necessário para melhorar a produção”, avalia.
Sobre o projeto
O Hortamazon faz parte do conjunto de 19 projetos que compõem o Projeto Integrado da Amazônia, financiado pelo Fundo Amazônia com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Coordenado pela Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM), atua nos estados do Amazonas, Acre, Maranhão, Mato Grosso, Roraima e Pará.
O projeto investe na melhoria dos sistemas de produção de hortaliças no bioma amazônico, por meio da transferência de tecnologias sustentáveis para aumento da produção, com melhoria na renda e qualidade de vida das famílias de agricultores. No Acre, as ações se concentram no Juruá, região ainda com pouca tradição no cultivo de hortaliças. “A dependência do mercado consumidor local em relação a outros estados, encarece esses produtos e limita o acesso. Queremos melhorar a produção para ampliar a oferta de hortaliças a preços mais justos e aumentar o consumo no campo e na cidade”, afirma Lambertucci.