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Agência Pública

Raimundo Lopes, morador do seringal Catuaba, na zona rural de Rio Branco, se recusou a fazer teste para identificar se estava infectado com Covid-19 quando começou a sentir os primeiros sintomas da doença, que se assemelhavam aos de um resfriado. Quando uma tosse seca o afligiu, ele seguiu batendo o pé, argumentando que deveria ser apenas uma reação à fumaça que inundou todo o município da capital do Acre entre julho e setembro do ano passado.

Motorista de carros da prefeitura de Rio Branco, aos 77 anos, Lopes seguiu trabalhando e aspirando fumaça até sua esposa, Francisca Holanda, de 76 anos, insistir na visita ao hospital. Ele foi internado no dia 18 de setembro no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), onde ficou por uma semana. “Ele já tem vários problemas de saúde e não se cuida, aí toda a família ficou muito preocupada”, relatou à reportagem a neta de Raimundo, Isabele Cristina Bezerra dos Santos.

Mesmo aos 17 anos, Isabele conta que também sofreu com as queimadas históricas de 2020. Foram 265 mil hectares de áreas queimadas entre janeiro e a primeira semana de novembro no estado amazônico, 39,13% a mais do que no mesmo período de 2019 – marca que supera o recorde de fogo visto pelo estado no século 21. Na capital do estado, as imagens da fumaça bloqueando completamente a luz solar na cidade viralizaram nas redes sociais.

Não à toa, o Acre foi o estado que mais sofreu com queimadas em 2020 em toda a Amazônia Legal. Comparativamente à área, é também o local com mais focos de incêndio no ano passado no bioma da Amazônia, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

A engenheira agrônoma Sonaira Silva, professora da Ufac e coordenadora do projeto Acre Queimadas, destaca que, desde 2004, o impacto da fumaça na saúde da população do Acre é objeto de pesquisas científicas. “Artigos mostram como essa questão já era uma constante. Há estimativas inclusive de mortalidade precoce devido à fumaça, então já era uma preocupação antes da Covid-19”, diz.

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