“Capitã de todos esses homens da morte”, “peste branca”, “tísica”. Estes são alguns dos nomes pelos quais a tuberculose já foi conhecida no passado. Embora esta enfermidade conviva com os homens desde a antiguidade, quando o médico alemão Robert Koch descobriu que a sua origem era uma bactéria, a Mycobacterium tuberculosis (ou bacilo de Koch), em 1882, ela era a causa de morte de 1 em cada 7 pessoas que viviam nos Estados Unidos e na Europa.
Hoje a comunidade científica festeja os resultados dos esforços para conter a doença no mundo, mas a OMS (Organização Mundial de Saúde), em 2018, estimou que 1,5 milhão de pessoas, em todo o globo, ainda morrem em decorrência da tuberculose.
Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, ela é um sério problema de saúde pública, e os dados do Ministério da Saúde revelam que, aqui, todos os anos, os casos somam 70 mil, e os óbitos chegam a cerca de 4.500.
Apesar de se relacionar a fatores socioeconômicos [Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz em 1984, e sobrevivente da tuberculose, disse que ela é filha da pobreza, seu pai e provedor], a doença é prevenível e curável.
E boa parte do sucesso da prevenção e do tratamento cabe a você, que deve estar atento aos sintomas, tomar a iniciativa de buscar ajuda o mais rápido possível, bem como aderir ao plano terapêutico sugerido pelo médico.
Entenda a tuberculose
Trata-se de uma doença infecciosa causada por um tipo de bactéria chamada Mycobacterium tuberculosis —que é transmitida por meio de aerossóis (partículas líquidas minúsculas) produzidos pela tosse, espirros ou fala.
Existem ainda duas outras bactérias parecidas, e menos comuns: a Mycobacterium africanum e a Mycobacterium bovis, que podem provocar enfermidade semelhante.
Como isso acontece?
A infecção se dá de pessoa a pessoa. Ao entrar em contato com o doente, você pode ser infectado, e tal infecção está diretamente ligada ao grau e duração dessa exposição.
A OMS estima que em cerca de ¼ da população mundial a tuberculose seja latente, isto é, o bacilo conseguiu entrar no organismo, mas se mantém contido pelo sistema imunitário. Assim, a doença não causa sintomas e nem pode contaminar outras pessoas.
Contudo, em situações como a imunossupressão (redução das reações de defesa do corpo), a enfermidade pode ser ativada.
Quando as “redes de proteção” do organismo falham, a bactéria atinge os pulmões, causando a tuberculose pulmonar, a forma mais comum da doença.
Mas a patologia também pode acometer outras partes do seu corpo, quando será denominada tuberculose extrapulmonar. Nessa modalidade, os gânglios linfáticos (situados no pescoço, na barriga, no tórax), a pleura (membrana que reveste o pulmão), além de ossos e articulações, fígado, baço, o sistema nervoso central (SNC), e até a pele e os rins podem ser atingidos.
Importante saber que, para transmitir a tuberculose, é preciso estar doente.
Quem precisa ficar atento
A tuberculose pode acometer homens e mulheres, em qualquer idade.
Pessoas que tenham seu sistema imunitário comprometido, como infectados pelo HIV, indivíduos malnutridos, com diabetes, que fazem uso de tabaco e álcool, além de grupos que vivem aglomerados ou confinados (como os privados de liberdade), bem como a população que vive em situação de rua, são os mais suscetíveis.
As condições a seguir também aumentam o risco para a doença. Confira:
Câncer de pescoço e cabeça
Leucemia e Linfoma de Hodgkin
Doença renal grave
Desnutrição (peso corporal baixo)
Uso contínuo de fármacos específicos (corticosteroides, imunossupressores, como os usados em transplantes de órgãos)
Uso de drogas
Veja como reconhecer os sintomas
O principal sintoma da tuberculose é a tosse —seca ou produtiva (com secreção e, por vezes, com estrias de sangue), que persiste por mais de 3 semanas.
Você também poderá observar as seguintes condições:
Perda de peso
Febre vespertina (ao final do dia)
Sudorese noturna
Falta de ar
Cansaço
Perda de apetite
Dor no peito
Quando procurar ajuda?
Ao identificar os sinais e sintomas acima descritos, e que não passam por mais de 3 semanas, procure um médico para avaliação.
Lembre que, apesar de algumas das manifestações da tuberculose serem semelhantes aos de uma gripe comum, esta última é sempre aguda —isto é, não dura muito tempo.
Geralmente, o primeiro profissional procurado é um médico da UBS (Unidade Básica de Saúde), que será capaz de identificar a doença.
Na hipótese da presença de fatores complicadores, como a coinfecção com o HIV, intolerância ou resistência ao tratamento padrão, além de outras doenças —o paciente será encaminhado para um infectologista ou pneumologista.
Como é feito o diagnóstico
O médico ouvirá seu relato, levantará seu histórico de saúde e fará o exame físico.
Diante da suspeita diagnóstica da tuberculose, serão solicitados exame de imagem —a radiografia do tórax, e os seguintes testes laboratoriais:
Baciloscopia (pesquisa o bacilo da tuberculose nas amostras do catarro); é também chamada de BAAR (abreviação para Bacilo Álcool Ácido Resistente)
Teste rápido molecular para tuberculose
Cultura de micobactéria
PPD (sigla para Derivado Proteico Purificado – que observa a reação do organismo contra proteínas do bacilo da tuberculose)
Como saber se eu tenho tuberculose latente?
Quando um paciente recebe o diagnóstico de tuberculose, o médico deve investigar a doença nas pessoas de sua convivência, ou entre aquelas com as quais ele teve contato prolongado.
Para esse fim, ele solicitará o teste PPD, também conhecido como Teste tuberculínico ou Reação de Mantoux —que identificará a presença, ou não, da infecção.
Esse procedimento é essencial. Quando a tuberculose é latente, ela poderá avançar na presença de alguma condição em que haja a queda das defesas do corpo, como uma infecção por HIV ou o uso de medicações imunossupressoras.
O que esperar do tratamento
O objetivo dele é a cura. A terapia padrão é medicamentosa, e combina alguns antibióticos com diferentes mecanismos de ação. Espera-se que eles matem a bactéria, e ainda previnam que ela se torne resistente a um ou mais fármacos.
O esquema básico de tratamento dura 6 meses. A primeira fase, chamada de intensiva, tem duração de 2 meses; a segunda fase é a de manutenção, e dura 4 meses.
Em geral, caso o paciente siga todas as orientações médicas, o resultado é o desaparecimento da doença.
A tuberculose latente precisa ser tratada?
Sim. E ele se dá por meio da quimioprofilaxia —um tratamento preventivo— no qual se usa uma das medicações da terapia da tuberculose para evitar que a doença se desenvolva.
Essa estratégia só pode ser feita em pacientes não doentes. O uso do antibiótico, de forma inadequada, poderia levar à resistência a esse tipo de medicamento – o fármaco deixa de fazer efeito para você ou é necessário o uso de doses cada vez mais altas.
O tratamento é seguro?
Sim. E, em geral, é bem tolerado.
A maioria das pessoas não tem efeitos colaterais. Podem ocorrer, no entanto, alguns efeitos brandos, como desconfortos gastrointestinais (que podem ser controlados), formigamentos, ou até alguns graves, como a hepatite medicamentosa.
O que acontece se eu não me tratar?
Como o tratamento dura 6 meses, por vezes, as pessoas desistem de tomar os remédios. Nesses casos, o risco da tuberculose progredir aumenta. Além disso, podem ser observados:
Maior tempo de duração da doença
Ausência do efeito esperado dos remédios
Presença de mais efeitos colaterais com a substituição dos fármacos do tratamento básico
Baixa resposta aos novos medicamentos
Progressão do contágio entre familiares e comunidade, o que inclui a resistência aos antibióticos
A doença pode voltar, mesmo depois do tratamento?
Sim. Pode ocorrer uma infecção por um novo bacilo ou reativação de um quadro anterior. Tal situação é mais comum entre imunodeprimidos ou populações mais suscetíveis como pessoas em situação de rua, que vivem em ambiente carcerário ou situação de extrema pobreza.
Estou grávida? Posso ser tratada?
Sim. O tratamento de gestantes é possível, desejável, e é realizado com segurança para a futura mãe e seu bebê, e ainda tem a finalidade de prevenir o contágio após o nascimento.
Na gestação, o tratamento está bem indicado em todas as fases e a adesão à terapia deve ser impecável. O mesmo para o momento do aleitamento materno. Neste caso, o monitoramento próximo da lactente é essencial para evitar efeitos adversos dos medicamentos.
Dá para prevenir?
Sim. Criada há 100 anos, a vacina BCG, até hoje, é a única usada no mundo todo para prevenir a tuberculose.
Além disso, para precaver-se do contágio evite:
Aglomerações
Compartilhamento de espaço com pessoas infectadas
Permanecer em locais pequenos e sem ventilação
Tomei a BCG na infância, posso ter tuberculose?
Sim. A vacina reduz o risco de adoecer e de ter formas mais graves da doença. Apesar de as evidências científicas serem controversas, uma revisão dos resultados de 12 estudos mostrou proteção contra doenças pulmonares em percentuais de 44% a 99%, em 11 deles, enquanto apenas 1 mostrou não haver proteção.
No momento, várias novas vacinas contra a enfermidade estão em desenvolvimento. Os dados foram publicados pelo prestigiado jornal New England Journal of Medicine.
Tenho tuberculose. Como posso evitar o contágio dos outros?
Em primeiro lugar procure ajuda de profissionais da área da saúde e siga suas orientações. Além disso, adote as seguintes medidas:
Tome seus medicamentos na forma e tempo indicados pelo médico. Depois de algum tempo de tratamento, a capacidade de infectar outras pessoas se reduz. Contudo, é o médico que poderá dizer-lhe o momento de voltar à vida normal
Proteja sua boca ao tossir, espirrar e até sorrir com um lenço. Descarte-o imediatamente em local seguro
Faça isolamento social e evite contato com outras pessoas. Se for possível, durma em local separado da sua família, ao menos nas primeiras semanas do tratamento
Mantenha a casa arejada
Fontes: Rafael Mendonça Rey dos Santos, médico de família; Giovanni Breda, médico infectologista; Orjana Araújo de Freitas, médica pneumologista. Revisão Técnica: Giovanni Breda.
Referências: Ministério da Saúde; OMS (Organização Mundial da Saúde); CDC (Centers for Disease Control and Prevention); Ahmad Zaheen, Barry R. Bloom. Tuberculosis in 2020 — New Approaches to a Continuing Global Health Crisis. N Engl J Med 2020; Rotimi Adigun; Rahulkumar Singh. Tuberculosis. StatPearls. NCBI. 2019.
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