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Pessoas ainda confundem HIV e Aids; entenda diferenças e novos tratamentos

Há mais de 40 anos, o mundo assistia ao surgimento de uma doença desconhecida, que debilitava o sistema imunológico a tal ponto que o organismo não conseguia se defender de doenças oportunistas que fatalmente levavam à morte.

Os primeiros casos, identificados nos Estados Unidos entre homens que faziam sexo com homens, tornaram a doença conhecida pela alcunha pejorativa de “peste gay”. Pagamos caro por isso, já que além de estigmatizarmos ainda mais grupos já socialmente vulneráveis, pessoas que não pertenciam a eles se sentiram imunes à infecção e, por fim, acabaram contraindo o vírus.

Nas décadas seguintes, a história da pandemia de HIV comprovou o que especialistas e ativistas pelos direitos da população LGBT afirmavam desde o início: um agente transmitido sexualmente nunca fica restrito a determinado grupo, pois o comportamento sexual humano é diverso.

Hoje, mesmo após os diversos erros, podemos afirmar que houve inúmeros avanços no enfrentamento à pandemia, sobretudo em relação ao tratamento.

HIV x Aids

Ainda assim, é comum que pessoas confundam HIV e Aids. Por isso, é preciso esclarecer as diferenças.

O HIV, o vírus da imunodeficiência humana, é transmitido pelos fluidos sexuais e pelo sangue de uma pessoa que vive com o vírus. Também pode ser transmitido de mãe para filho durante a gravidez ou parto (transmissão vertical), se a mãe tiver o vírus e não estiver em tratamento adequado.

Quando não tratado, o HIV pode eventualmente causar a Aids, a síndrome da imunodeficiência adquirida, caracterizada por um conjunto de sintomas causados pela queda da taxa dos linfócitos CD4, células muito importantes na defesa imunológica do organismo.

Enquanto uma pessoa pode viver muitos anos com HIV sem desenvolver Aids, a falta de tratamento adequado pode eventualmente enfraquecer o sistema imunológico, permitindo o surgimento de doenças oportunistas que caracterizam a síndrome.

Por outro lado, uma pessoa em tratamento contra o HIV pode vir a nunca desenvolver Aids e levar uma vida normal. Inclusive, se ela seguir o tratamento corretamente, sua carga viral pode ficar indetectável, a ponto de ela deixar de transmitir o vírus, o que significa que tratamento também é prevenção.

Prevenção do HIV

Eu conheci a epidemia da Aids, na década de 1980 e 1990, de perto. Hoje o tratamento, totalmente gratuito e disponível pelo SUS para toda a pessoa com o vírus, mudou completamente a história da doença.

O tratamento da infecção pelo HIV, por exemplo, era extremamente limitado, restringindo-se a medicamentos antirretrovirais (havia apenas os inibidores da transcriptase reversa) que, usados isoladamente, tinham um impacto discreto na mortalidade geral dos pacientes, que morriam de infecções oportunistas como pneumonia e tuberculose pouco tempo depois de receberem o exame positivo.

Esse cenário mudou radicalmente a partir de meados da década de 1990, quando um novo grupo de drogas passou a ser estudado, os inibidores da protease. Associados aos antirretrovirais já utilizados, o tratamento conhecido como “coquetel” demonstrou um efeito antiviral capaz de melhorar a imunidade e a consequente resposta a infecções oportunistas, reduzindo significantemente a mortalidade dos pacientes com HIV/Aids.

A expansão do acesso ao tratamento do HIV reduziu pela metade as mortes relacionadas à Aids no mundo, passando de 1,3 milhão em 2010 para 630 mil em 2023.

Por fim, é possível viver com o HIV sem nunca ficar doente. Além disso, hoje existem várias formas de prevenção, além do preservativo: a PrEP, utilizada de maneira preventiva por pessoas em risco contínuo de exposição ao HIV; e a PEP, indicada após uma possível exposição ao vírus, sendo uma opção de emergência que deve ser iniciada em até 72 horas após a prática sexual. Ambas estão disponíveis pelo SUS.

“Hoje, a comunidade científica internacional e a OMS reconhecem o programa brasileiro de tratamento como o mais avançado do mundo, um modelo para os países em desenvolvimento”, disse Drauzio Varella, um dos primeiros médicos brasileiros a tratar a Aids, em artigo publicado no Portal Drauzio.

HIV e Aids no Brasil

No Brasil, estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas vivam com o HIV, de acordo com o Ministério da Saúde. Em 2022, o Ministério da Saúde registrou 10.994 óbitos tendo o HIV ou a Aids como causa básica, 8,5% menos do que os 12.019 óbitos registrados em 2012. Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram de Aids por dia em 2022.

O dia 1º de dezembro é o Dia Mundial de Luta contra a Aids, e para aproveitar a data, é preciso reafirmar que nada nos deixa mais vulneráveis a uma infecção sexualmente transmissível, ou IST, do que o preconceito.

Qualquer pessoa com vida sexualmente ativa pode se expor a uma IST, por isso é preciso pensar na prevenção, que inclui testagens regulares para as infecções, incluindo para o HIV. Isso vale para qualquer pessoa sexualmente ativa, sem exceção.

Enquanto cada pessoa sexualmente ativa não assumir a responsabilidade por sua prevenção de IST, o que passa, muitas vezes, pelo uso de mais de uma estratégia de prevenção, continuaremos vulneráveis a infecções que podem ser prevenidas e tratadas.

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