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Cleide Elizabeth escreve sobre as vozes do interior: “experiências humanas como fonte de inspiração para a criação artística”

A possibilidade de olhar para o interior, de si, do outro, e, a partir de experiências humanas e memórias, construir a base para a imaginação e a criatividade no processo de criação artística é algo que permite mobilizar funções psíquicas como percepção, emoção, e de forma significativa contribuir para a formação humana. Isso é o que nos proporciona a peça teatral Vozes do Interior.

A peça, criada a partir de experiências vividas pelo grupo de teatro acreano Estrela Altaneira, em viagens a comunidades no interior do Acre, e das histórias contadas pelas pessoas dessas comunidades, nos convida a acompanhar os personagens Francisco Firmo e Chiquinha do Pandeiro a uma jornada em busca de encontrar Chica Brejeira, a mãe de Chiquinha.

De forma simples, mas com maestria, Francisco Firmino e Chiquinha conseguem conduzir o espectador pelos rios da Amazônia, apresentando histórias e seres que habitam o cotidiano da vida na região. Que rios são esses? Ora, pode ser o Juruá, Moa, Croa, ou aquele rio que guardamos na memória, repleto de histórias que a gente ouviu ou viveu.

Fez-me lembrar do tempo quando, ainda criança, minha família deslocou-se de Rio Branco até Manaus. De lá embarcou em um navio com destino a Belém, para que meu irmão e eu pudéssemos conhecer a avó paterna. Foram cinco dias de viagem, iniciando pelas enigmáticas águas do Rio Negro, passando pelo Amazonas, até encontrar o azul turquesa das águas do Rio Tapajós.

Ao longo da viagem, curumins em mini canoas nos abordavam por algum souvenir. Faziam festa quando, do navio, lançávamos biscoito e refrigerante. Na proa, o vento a balançar-me os cabelos, as brincadeiras no convés, são ainda lembranças vivas de um momento memorável em família.

Especial foi perceber que, no espaço de cena, não necessariamente palco ou tablado, a luz, o teatro de sombras, a música marcante, a percurssão trazidas pela voz e mãos de Francisco Firmino e Chiquinha comunicam de tal forma, que aguçam as mais remotas lembranças.

Ao fim do espetáculo, em roda de conversa com os atores, a plateia teve a oportunidade de saber mais a respeito do processo de criação e expressar sentimentos, emoções despertadas. Para a grande maioria, Vozes do Interior reforça o quanto a arte pode ser transformadora. Essas revelações são feitas também pelo vendedor pracista que prestigiou a apresentação em Rio Branco. Por meio do espetáculo pôde-se reviver as subidas e descidas pelos rios do Acre, vendendo suprimentos, aviamentos. Momentos em que, segundo relato do espectador, por vezes, mesmo com dinheiro no bolso, não havia onde comprar comida e a farofa trazida na viagem era o alimento do viajante.

Depois de estrear em Rio Branco a produção segue em turnê. Já esteve no Amazonas, retornou para apresentação nas comunidades que inspiraram a criação da peça. Nos próximos dias estará em Rondônia, deixando por aqui o gosto de queremos mais. Bis? Sim, queremos. Que venha então a nova temporada, em breve.

Cleide Elizabeth Santos é publicitária, jornalista com mestrado em Educação e assessora de comunicação na Agência de Negócios do Estado do Acre

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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