O Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Alto Rio Juruá promoveu, essa semana, dois dias de qualificação na aldeia Caucho, no município de Tarauacá, no Acre. O treinamento, realizado em conjunto com a equipe de educação permanente e o Polo Base de Tarauacá, teve como foco promover o uso das práticas medicinais indígenas.
O evento contou com a participação de diversos povos originários, entre eles os Yawanawa, Huni Kuî (Kaxinawá) e Nuku Kuî (Katukina), que vieram das aldeias Colônia 27, Gregório, 18 Praias, Nova Aldeia e Carapanã. Esses povos trouxeram consigo uma rica diversidade de conhecimentos tradicionais que foram compartilhados e integrados ao longo da capacitação.
Durante o treinamento, os participantes produziram uma série de remédios naturais, incluindo xaropes para tratamento de problemas respiratórios, repelentes para afastar insetos e suplementos ricos em ferro, destinados a combater a anemia. Todas as preparações foram feitas com ervas e plantas medicinais coletadas nas próprias comunidades, ressaltando a autonomia e a sustentabilidade das práticas tradicionais.
O encontro também foi marcado pela forte presença de lideranças tradicionais, como pajés, parteiras e curandeiros, além de agentes de saúde indígenas, todos com profundo conhecimento das propriedades terapêuticas das ervas da floresta. Entre as atividades práticas, os participantes realizaram banhos de ervas e defumações, rituais usados há gerações pelos povos indígenas para cura e equilíbrio do corpo e do espírito. Esses rituais, que envolvem o uso de plantas com propriedades medicinais e espirituais, são considerados parte fundamental do tratamento de diversas doenças, trazendo alívio e bem-estar aos participantes.
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Foto: divulgação/Dsei Alto Rio Juruá
A farmacêutica indígena e ponto focal de Medicinas Indígenas do Dsei, Artemizia Nukini, liderou a capacitação. Artemizia destacou a relevância da ação para a saúde indígena e o fortalecimento cultural. Para ela, as aulas promoveram uma intensa troca de saberes. “Essa capacitação vai além da produção de remédios naturais. Ela é uma forma de reafirmarmos a importância das nossas práticas tradicionais, que são eficazes, seguras e fazem parte da nossa identidade como povos indígenas. Valorizar nossos saberes é uma forma de resistência e de cuidado com a saúde das nossas comunidades”, declarou.
Artemizia Nukini frisou que o encontro reflete um esforço crescente para resgatar, preservar e expandir o uso da medicina tradicional indígena, integrando esses saberes ao contexto atual da saúde pública. “Além de oferecer alternativas sustentáveis e naturais para o tratamento de doenças, com essa iniciativa o Dsei Alto Rio Juruá demonstra o comprometimento com a valorização cultural, mostrando que é possível construir pontes entre o saber ancestral e o conhecimento técnico-científico, em benefício do bem-estar das comunidades indígenas”, pontuou.
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