Astério Moreira

Era uma vez um profeta chamado Chico…

Era uma vez um seringueiro chamado Chico. Seu nome foi dado em homenagem a São Francisco de Assis ou das Chagas, não se sabe ao certo. Mas o certo é que o seu destino estava traçado para ser um profeta, como disse Jesus de Nazaré, “sem honras na sua própria terra”. Morreria apedrejado com 60 caroços de chumbos 3T no peito esquerdo, onde está o coração.

Em uma tarde chuvosa de um distante dezembro, ele foi brutalmente assassinado. Sua voz foi silenciada e suas últimas palavras não foram: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”. Quando foi alvejado por disparo, prestes a tomar banho no quintal de sua própria casa, ele ainda conseguiu correr, caindo ao lado de sua filha de apenas três anos de idade, murmurando: “Fui atingido”. Era humano, não um deus.

O choque em seus olhos refletia a crueza da realidade. Seu sangue manchava o solo, enquanto ele tentava se agarrar à vida. O olhar inocente de sua filha naquele instante, tornou-se a última imagem gravada em sua memória. Instantes eternos. Talvez Deus o tenha permitido ver o futuro através dos olhos da filha. Futuro em que hoje agonizamos à beira de um fim terrível e implacável com inundações, fogo, tufões e frio extremos.

O seringueiro Chico ganhou notoriedade por liderar “empates” (ações para impedir o desmatamento com o objetivo de criar pastagens). No entanto, essa não era sua principal missão. Seguindo o exemplo de profetas que o precederam e foram atingidos por balas, chumbo e pólvora, como um indivíduo chamado Wilson, o seu propósito transcendia os conflitos agrários.

Infelizmente, muitos não conseguiram compreender a sua luta. A verdadeira missão era a preservação da floresta, a proteção da biodiversidade e o respeito à vida em toda sua plenitude do planeta que hoje arde em chamas.

Enxergava o valor intrínseco da natureza conectada ao homem e ao futuro em sua perfeição. Sem um clima equilibrado e estável não há rios, florestas, pastagens nem vida. Todos sucumbiremos.

Como a voz do que ecoava no deserto, convocando as pessoas ao arrependimento nas áridas terras da Judeia, às margens do rio Jordão, não o entendiam. A cobiça, a ganância e o poder cegam o entendimento dos homens.

Ainda assim, seu legado prevaleceu, uma luz na escuridão, inspirando gerações a buscar a verdade e resistir ao mal, mesmo diante do mais terrível dos perigos. Porém, não foi o suficiente. O machado continua posto à raiz da árvore.

Hoje, encontramo-nos em um ponto crítico, um ponto de não retorno. O planeta Terra aquece de maneira semelhante a uma panela de pressão. As florestas exuberantes darão lugar a desertos. Em breve, os oceanos podem chegar a um ponto de ebulição. O seringueiro Chico estava ciente dessa realidade. Tentou nos alertar, mas o matamos todos os dias em que destruímos a natureza e a vida. Chico, o profeta, denunciou e lutou contra a destruição florestal, entendendo que cada árvore derrubada era um passo para o nosso caos climático.

Acredita-se que Marte, o planeta sem vida, em tempos antigos, era semelhante à Terra, adornado por belos rios, cachoeiras, vastos oceanos e florestas exuberantes. Talvez, esse seja o destino que nos aguarda.

No entanto, é incerto se restará alguém para registrar que, há milhões de anos, a vida florescia em um pequeno planeta azul. Infelizmente, todos pereceram, vítimas de sua própria autodestruição.

E assim, Marte se tornou um espelho do futuro, um aviso para a Terra que mata seus profetas. Era uma vez um seringueiro chamado Chico…

P. S. Esse texto não tem a intenção de ofender ninguém!

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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