Jornal da USP —
De acordo com relatório publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em março de 2021, a taxa de desmatamento dentro de territórios reconhecidos formalmente como reservas florestais indígenas é 2,5 vezes menor no Brasil, por exemplo. O estudo conclui que devem ser ampliadas a segurança e posse das áreas indígenas e de comunidades tradicionais para reduzir as emissões de carbono.
Mas o que são comunidades tradicionais? Segundo o Manual Caiçara de Ecoturismo de Base Comunitária, eles são grupos que possuem culturas diferentes daquelas que são predominante na sociedade e se reconhecem como tal, se organizando de formas distintas e utilizando recursos naturais a partir de conhecimento, inovações e práticas criadas por eles mesmos. Esse modo de vida é baseado em um desenvolvimento sustentável, que não agride o meio ambiente, ao mesmo tempo em que permite a vivência desses povos, representados por caiçaras, indígenas, pescadores artesanais, ribeirinhos, entre outros.
Nesse sentido, surge o Turismo de Base Comunitária (TBC), uma maneira de viajar que garanta as necessidades dos destinos, das comunidades locais e dos viajantes. Ele tem como foco o apoio à conservação dos biomas e objetiva a garantia de renda para esses grupos isolados, além de reforçar a sua valorização cultural e oferecer experiências únicas aos turistas.
“O TBC é uma estratégia de resistência, inclusive de fortalecimento territorial, que se realiza como um movimento político-social”, afirma Milena Manhães Rodrigues, doutoranda em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. Ela ainda complementa que esse turismo está relacionado com lutas por direito à moradia, posse de terra e permanência territorial.
Para além disso, o Turismo de Base Comunitária é um modelo de gestão que, fundamentalmente, possui uma economia solidária, protagonismo comunitário e o modo de vida manifestado pelas narrativas de vivências e memórias. Ou seja, não é apenas o ato de viajar ou “só mais um passeio”, o TBC busca ser um ato político e uma forma de mudança na concepção que a sociedade possui sobre essas comunidades tradicionais.
Por exemplo, há diversos exemplos de TBC no Brasil, como a Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (Turisol) ou a Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede Tucum). “É um turismo mais aconchegado, do acolhimento, com mais conexão com o lugar, com a cultura e com as pessoas, que possibilita para quem vivencia essas experiências conhecer a história do Brasil profundo, aprendendo com os modos de vida locais, no encontro entre visitantes e visitados”, ressalta Milena.
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