Para muitos pacientes que esperam na fila de transplantes, receber um novo órgão é a única chance de sobreviver. Mas, nos bastidores, um longo processo é necessário a fim de garantir a disponibilidade dos órgãos, papel exercido pela Central de Transplantes do Acre, vinculado à Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre).
De acordo com Celiane Alves, coordenadora da Central de Transplantes do Acre, todo o processo de captação de órgãos é regulado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que estabelece diretrizes para a captação, distribuição e transplante de órgãos. No Brasil para você ser doador de órgãos basta você avisar a sua família.
“Nós entendemos que o falecimento de um ente querido é um momento de extrema dor, mas, ao mesmo tempo, há outras pessoas sofrendo pois precisam de um órgão para sobreviver ou até mesmo para voltar a enxergar, como é o caso das córneas. Por isso, fazemos esse apelo para que as pessoas conversem sobre isso com seus familiares e pedimos que as famílias sejam solidárias e que autorizem a doação de órgãos, porque a gente só vai poder organizar e ofertar o órgão se a família autorizar”, instrui a responsável pela Central de Transplantes.
“No momento da doação, o quadro já é irreversível e os caminhos para o corpo já sem vida são a doação de órgãos ou o enterro dos órgãos. Infelizmente, aqui, temos tido alguns doadores, mas as famílias têm recusado”. A fala é do médico cirurgião do aparelho digestivo e especialista em transplantes, Tércio Genzini, responsável técnico pelos transplantes de fígado na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), unidade transplantadora do estado.
Apesar de ser referência na Região Norte quando o assunto é transplante de órgãos, o Estado lida com a recusa de doação e acaba tendo que recorrer a outros estados, a exemplo do vizinho Rondônia, para suprir a demanda e continuar salvando vidas. “É um pouco triste, porque aqui nós estamos no estado da Região Norte com o maior programa de transplante num hospital público, um programa de grande sucesso que faz diferença no país”, complementa o médico.
Apesar da grande recusa por parte da população, o Estado tem conseguido superar os desafios e continua salvando vidas. Atualmente, a Fundhacre realiza transplantes de fígado e córnea e foi habilitada recentemente a realizar transplantes de rim. São 96 transplantes renais, 329 de córnea e 88 hepáticos realizados, sendo o mais recente efetuado no último sábado, 15 , em uma paciente de 47 anos, moradora da zona rural de Cruzeiro do Sul. O total é de 513 procedimentos, consolidando o Acre como líder de transplantes na região.
Para o sucesso dos procedimentos, a Fundhacre conta com uma equipe multiprofissional. No Serviço de Transplantes da unidade, mais especificamente no Ambulatório de Transplante Hepático e Cirurgias Hepatobiopancreáticas, são atendidos, em média, 180 pacientes por mês, o que confere melhor acompanhamento ao paciente.
“Aqui no ambulatório atendemos pacientes em pré e pós-operatório de transplantes de fígado e também alguns com doenças graves do fígado e do pâncreas. Ontem, por exemplo, operamos uma paciente com câncer de pâncreas, uma cirurgia bem complexa, que foi muito bem-sucedida, e há dois dias tivemos um transplante de fígado. Hoje temos outro transplante de fígado, então isso é coisa que acontece nos melhores hospitais do país e mostra a capacidade do hospital de absorver a mais alta complexidade em cirurgia. Para isso, é necessária uma equipe multidisciplinar muito capacitada. São necessários recursos técnicos disponíveis e o envolvimento de toda a assistência hospitalar. E tem dado muito certo nosso programa de transplantes, com sucesso acima de 90%, comparado aos melhores índices do país. Temos feito em pacientes com diversos graus de gravidade e isso é uma coisa que traz muita satisfação e alegria para todos nós”, relata o médico.
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