Um dos itens mais exigidos em um carro com câmbio manual é a embreagem. O componente é responsável por fazer o “meio de campo” entre o motor e transmissão, atuando durante as trocas de marcha para igualar a rotação entre essas partes.
Com essa missão, é natural que ela sofra um desgaste natural e precise ser trocada com o tempo – a durabilidade é alta e o mais comum é que isso ocorra próximo dos 60 mil quilômetros rodados. Mas, por se tratar de um mecanismo sujeito à ação do motorista, esse prazo pode ser encurtado ou estendido de acordo com os hábitos ao volante.
Detectar que uma embreagem chegou ao final da vida útil é algo relativamente simples. O que ocorre, geralmente, é que o material de atrito já não promove a mesma fricção, deixando a sensação de que o carro está “patinando” ao trocar de marchas e, muitas vezes, emitindo um cheiro de queimado.
A boa notícia é que a ação dos condutores também pode manter a embreagem sadia por mais tempo. “O que pouca gente fala é que, com bons hábitos, a vida útil da embreagem pode ser até maior do que o previsto”, comenta Almiro Moraes Júnior, membro da Comissão Técnica de Transmissões e do Simpósio Powertrain da SAE Brasil.
Para isso, porém, é preciso evitar alguns hábitos. Confira alguns deles:
1 – Andar com o pé apoiado na embreagem
Esse é um mau hábito que muitos motoristas têm e nem percebem. Geralmente, os carros contam com uma área de apoio para o pé esquerdo, mas é comum ignorar essa solução.
Por mais que a força exercida sobre o pedal não seja grande, a embreagem tende a sofrer, já que carros de passeio “comuns” têm o pedal mais macio e sensível.
“Isso faz com que a embreagem fique em um ponto no qual não está nem acoplada, nem desacoplada. Ela superaquece nessa condição, o que aumenta o desgaste”, explica Júnior.
2 – Segurar o carro na embreagem
Partir com o carro em aclives costuma ser um desafio, especialmente para quem está começando na vida de motorista. Os medos aqui são os mais variados, que vão desde o carro morrer até mesmo algo mais sério, como andar para trás e acabar causando algum acidente.
Alguns modelos contam com freio automático para essa situação, que prorroga a ação de frenagem e dá tempo para que o motorista saia sem ter que ser rápido com os pedais. Mas uma solução que muitos motoristas encontram é segurar o carro na embreagem, aplicando uma rotação no motor e deixando o pedal da esquerda em um ponto de equilíbrio entre o acoplamento e o desacoplamento do componente.
O que ocorre é algo similar com o relatado no item anterior: isso causa um superaquecimento na embreagem e abrevia a sua vida útil. Uma alternativa nesses casos, caso não esteja acostumado a soltar rapidamente o pedal de freio e já acelerar, é usar o freio de mão para evitar que o carro ande para trás, permitindo que se saia com tranquilidade.
3 – Manter a embreagem pressionada ao parar
Seja por pressa ou por (mau) hábito, há motoristas que não desengatam o carro em situações como paradas de semáforo.
Esse tipo de comportamento deve ser evitado por várias razões – uma distração, por exemplo, pode fazer o carro avançar e causar um acidente -, mas uma delas é que a embreagem pode ter componentes afetados pela prática.
“O material de atrito, em si, não sofre nesse caso, mas há um componente chamado colar de embreagem que é um rolamento que empurra as molas do sistema e funciona sempre que pisamos no pedal. Manter o pedal pressionado vai gerar uma carga desnecessária sobre ele e pode abreviar sua vida útil”, aponta Júnior.
4 – Usar marcha errada
Sair da imobilidade em segunda, “pular” marchas em trocas ou usar alguma que faça o motor trabalhar em uma rotação muito baixa – às vezes tentando economizar combustível com isso – também são hábitos que devem ser evitados.
Aqui, há dois problemas principais: sair da imobilidade com marchas mais altas do que o normal exige “queimar” a embreagem, o que causa seu desgaste. Já no caso de pular marchas – tanto em acelerações quanto em redução -, há uma diferença grande entre a rotação do motor e da transmissão, o que faz o componente trabalhar mais do que o necessário.
“O problema é quando se troca marchas para uma que exigiria uma velocidade maior, já que a diferença de rotação entre motor e câmbio acaba causando um deslizamento maior da embreagem do que o ideal. É um problema que também ocorre quando se reduz pulando marchas ou se acelera demais antes de engatar”, alerta Júnior.
Com o carro em movimento, andar com uma marcha mais alta do que a ideal para o momento não afeta a embreagem, mas pode causar desgaste prematuro da transmissão e do motor. Ah, importante: pode ser que o carro até consuma mais nessa situação.
5 – Carga excessiva
Por fim, quanto mais peso o carro estiver carregando, mais a embreagem vai sofrer. Essa é uma regra geral, mas o dimensionamento do sistema leva em conta o limite de carga determinado para o veículo e, sendo assim, andar com passageiros ou porta-malas cheio, desde que dentro desse limite – que pode ser consultado no manual do proprietário – não tende a causar nenhum desgaste fora do previsto.
O problema é quando se excede esse limite e ocorre, especialmente, durante saídas a partir da imobilidade, quando exige-se que o pedal fique mais tempo pressionado em uma posição intermediária entre acoplamento e desacoplamento completos.
Fonte: UOL
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