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Na COP, o que está em jogo é nosso direito à compensação financeira pela preservação, e não o de destruir a Amazônia

Enquanto acontecem as rodadas de negociação da COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, quando se debate o que os países, sob a chancela da ONU, farão para conter o célere e perigoso aquecimento do planeta, uma questão precisa ser respondida especificamente para nós, moradores da Amazônia: quando e como seremos compensados pela manutenção da floresta em pé? Quando nosso direito a uma vida digna e próspera será reconhecido nas conversas e decisões que moldam o futuro?

Primeiro, é preciso entender a relação entre os debates da COP (Convenção das Partes) e nossa região. A questão é essa: para conter a mudança climática é preciso zerar o desmatamento nas regiões de florestas tropicais, como a Amazônia, já que essas florestas são fundamentais para a manutenção do equilíbrio do clima, respondendo por grande parte do estoque e, boa parte das vezes, pela captura de carbono – o principal dos gazes estufa em ação na atmosfera.

As florestas tropicais são responsáveis, ainda, pela estocagem de água, pelo regime de chuvas em regiões próximas e por elevadíssimos estoques de biodiversidade, guardando grande quantidade de material genético ainda não catalogado pela ciência. A preservação das densas e ricas florestas tropicais úmidas ainda existentes, como a Amazônia, na América do Sul, a Floresta do Congo, na África, e as florestas da Indonésia, na Ásia, é parte fundamental do esforço a ser feito para se evitar que a temperatura média do planeta suba acima dos 1,5 graus, previsto no Acordo de Paris. A questão é que até aqui muito se falou e pouco foi realizado.

A Amazônia é a joia da coroa quando o assunto é mudança climática e conservação de biodiversidade. Aproximadamente 15% da diversidade biológica do planeta está aqui. Grande parte da água doce também. Particularmente importante para o Brasil é saber que da Amazônia sai a água que garante chuvas nas plantações de larga escala do Centro-Oeste e do Sul do país, o cinturão-de-ouro do agronegócio. A manutenção das florestas de cá deveria ser prioridade dos barões do agronegócio de lá. Aqui vale um registro: é de estranhar que o setor agro quase sempre se posicione ao lado de grileiros, madeireiros, garimpeiros e toda sorte de desmatadores e destruidores de florestas, não é mesmo? Infelizmente, o interesse imediato de certos setores ainda é converter novas áreas de florestas em terra nua de alto valor financeiro e rápida liquidez, garantidora de elevados financiamentos bancários a juros subsidiados.

Outra razão para o esforço na contenção do desmatamento da Amazônia é que ele, junto com as queimadas, faz com que nossa região sozinha responda por quase um terço de toda a emissão de gases estufa do Brasil. Conter o desmatamento, portanto, é tanto função de preservação da natureza quanto de redução das emissões. A questão, então, é como fazer para que a população local não seja penalizada em seu legítimo esforço de produzir riquezas e melhorar de vida. O debate precisa girar em torno de como seremos compensados econômica e socialmente pela renúncia em fazer uso da conversão de bens naturais em riqueza material de usufruto imediato – como praticamente todas as demais sociedades humanas fizeram ao longo da história – em nome da manutenção do equilíbrio do clima do planeta.

Aqui cabe outro esclarecimento importante: não é ético o argumento que afirma sermos dotados do direito de fazermos o que bem entendermos de nossa região, dada nossa condição de moradores do território. Nossa responsabilidade, em termos éticos, é cuidar de um patrimônio cuja importância vai muito além de nossas vidas e domínios. Agora, não pode ser objeto de discussão ou controvérsia o fato que somos dotados do direito a compensações. A questão é quem pagará essa conta, quando e como.

Nisso, o papel de nossas lideranças, sejam elas políticas, empresariais ou institucionais, é o de pressionar o Estado Nacional e a comunidade internacional pelo aporte de recursos financeiros, tecnologias e meios materiais que possibilitem o desenvolvimento da região, elevando o patamar de vida do povo, ao mesmo tempo, em que seja garantida a proteção do meio ambiente.

O que me parece um debate enganador é o argumento da extrema-direita e de certos segmentos sociais que reivindicam o direito à destruição das florestas para a abertura indiscriminada de pastos e áreas de monoculturas de soja e milho. Esse é um debate já ultrapassado. Estudos científicos mostram até mesmo que parte considerável de nosso solo não suporta tais atividades. Ainda assim, nos últimos tempos, no Acre, falar em preservação ou em sustentabilidade, apresentar qualquer questionamento ao interesse do setor agrário em destruir a legislação e os órgãos de proteção do meio ambiente, virou motivo de ira infinita.

O fato é que esse debate precisa voltar a ser feito, a ficar aberto. Sob pena de ficarmos presos ao atraso e impossibilitados de nos conectarmos com o mundo; nesse momento, ou assumimos as posições corretas quantos aos nossos interesses nas discussões mundiais, ou seremos tragados pelo fluir da história; como no passado, quando levaram daqui sementes de seringueiras e fizeram falir nossa fonte de riquezas.

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