Circulando no Brasil desde 1983, a dengue está distribuída pelo país inteiro. Uma série de condições permitem que isso aconteça: espaços adequados para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue; presença de hospedeiros suscetíveis — que não tem imunidade à doença por não terem sido infectados pelos diferentes sorotipos do patógeno — e condições climáticas favoráveis. Após a infecção, os sintomas da dengue variam a depender da gravidade do quadro e podem confundir, por serem inespecíficos. Por isso, é importante compreender a dinâmica da doença e as diferentes formas de se prevenir dela.
A principal preocupação das autoridades sanitárias é a presença disseminada do mosquito-da-dengue fêmea, o único que pode transmitir a doença. Ele se beneficia de espaços como depósitos domiciliares, lixo a céu aberto e terrenos alagadiços de pouca profundidade para se reproduzir. Estações chuvosas, com alta concentração de água parada, e temperaturas elevadas ao longo do ano são essenciais para a sobrevivência das larvas.
Com uma grande população de vetores circulando, há outro problema: a variedade de sorotipos. No Brasil, circulam os quatro sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), sendo o DENV-1 e o DENV-2 os mais incidentes atualmente. Se uma pessoa for infectada por um deles, a imunidade atua contra aquele sorotipo específico, mas não protege contra os outros. Depois, se ela for infectada por outro sorotipo, provavelmente desenvolverá uma forma mais grave de dengue.
“Nosso corpo reconhece esses quatro vírus como sendo completamente diferentes. Então se eu tiver dengue pelo tipo 1, eu posso ter dengue pelo tipo 2, pelo 3 e pelo 4. A dengue é quatro vezes diferente. Esse é o principal motivo pelo qual as epidemias são sempre explosivas”, relata o médico infectologista Érique Miranda, gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan.
Quando devo procurar um médico? Conheça os principais sintomas da dengue
Os sintomas de dengue começam com uma febre alta, acima de 38°, de início abrupto e acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo, nas articulações e fraqueza. Também pode ocorrer prostração, dor atrás dos olhos, erupção, coceira na pele, manchas vermelhas pelo corpo, náuseas, vômitos e dores abdominais. Vale ressaltar que, ao contrário de gripes, resfriados e Covid-19, não há quadro respiratório, como catarro e tosse.
A viremia (medida da presença de vírus no organismo) é mais alta nos primeiros sete dias de infecção. Depois desse período, ela diminui para dar espaço à resposta imunológica (quando o corpo começa a produzir anticorpos capazes de combater a doença). Nessa etapa, cerca de 5% dos pacientes podem desenvolver uma resposta agressiva do organismo e uma piora no quadro de saúde, com a ação exacerbada dos anticorpos.
Como os sintomas da dengue são inespecíficos, o diagnóstico é baseado na epidemiologia (se há uma epidemia de dengue na região em que o paciente vive, por exemplo), hemograma e exames específicos (ELISA, PRTN50, IH, NS1 e RT-PCR). Ao apresentar os primeiros sintomas, a recomendação é procurar uma unidade de saúde: a rapidez do diagnóstico é vital para a eficácia do tratamento.
Érique lembra ainda que existem os sinais de alarme, que sinalizam o extravasamento de plasma ou hemorragias – quadros que podem levar o paciente a choque grave e óbito. As formas graves da doença, como a síndrome do choque da dengue e a dengue hemorrágica, incluem dor abdominal intensa e contínua, náuseas, vômitos persistentes e sangramento de mucosas. Se não houver tratamento, a doença pode levar à morte.
Os grupos mais vulneráveis às formas críticas da dengue são crianças menores de dois anos, gestantes, idosos, hipertensos e pacientes com doenças cardiovasculares, respiratórias, hematológicas, doença renal crônica, diabetes mellitus e doenças autoimunes.
Como prevenir?
A prevenção eficiente consiste no combate ao vetor do vírus da dengue, o mosquito Aedes aegypti: eliminação e/ou controle de depósitos de água domiciliares, eliminação de lixo a céu aberto e investimento em saneamento básico de qualidade.
Métodos individuais incluem uso de repelentes à base de DEET (N-N-dietilmetatoluamida), IR3535 ou de Icaridina (exceto em crianças com menos de dois anos) nas partes mais expostas do corpo, principalmente durante o dia, utilização de roupas que cubram regiões vulneráveis à picada do mosquito, e mosquiteiro.
Alternativas complementares envolvem o uso de produtos para extinguir infestações em estado prematuro ou avançado que utilizam larvicidas e inseticidas. Outra opção é o controle biológico, como a criação de peixes beta em ambientes com água parada, uma vez que a dieta desses animais inclui larvas de mosquito. Há ainda o uso de mosquitos modificados geneticamente para interferir na procriação das fêmeas e gerar filhotes machos, que não transmitem a doença.
Vacina, a prevenção mais eficaz
Nos últimos anos, o Instituto Butantan vem trabalhando no desenvolvimento de uma candidata a vacina tetravalente e de dose única contra a dengue, resultado de uma parceria com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) e American Type Culture Collection (ACTC), também dos Estados Unidos.
O diferencial do imunizante do Butantan é que ele é composto por vírus geneticamente atenuados, responsáveis por promover proteção contra os quatro sorotipos de dengue de uma só vez. O ensaio clínico envolveu 17 mil voluntários e encontra-se na fase final do acompanhamento de cinco anos de todos os vacinados.
Reportagem: Guilherme Castro
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