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“Ela me escolheu para ser o pai dela”: o dia de um pai no Acre

Tudo começa com a notícia da gestação. Vêm a alegria e o nervoso para conhecer a nova vida que vai se apresentar. E, quando chega o grande dia, seja primogênito ou não, nasce um bebê, e também uma mãe e um pai.

No segundo domingo de agosto, o Brasil inteiro comemora o Dia dos Pais, em homenagem a uma figura fundamental na vida de toda criança, embora infelizmente nem todas possam contar com esse esteio. O que faz dessa data um momento adequado para se refletir sobre uma questão de ordem pessoal, familiar e social: qual é a função de um pai?

Para inspirar esse dia de afeto e comemorações, a história inspiradora de um pai acreano, responsável e carinhoso, o servidor público aposentado Marcos Kinpara.

Missão paternidade
Policial militar da reserva, Marcos Kinpara nasceu como pai três vezes, com as filhas Brendha, Juliana e Danika Kei. As mais velhas cresceram e, hoje, adultas, convivem com o genitor de forma mais autônoma.

Já a mais nova, Danika Kei, de 9 anos, está sob os cuidados compartilhados do pai, da mãe, Joelma, e da madrinha, Maria Ana.

A jornada médica
Em 2013, Marcos e Joelma Lima se alegraram com a chegada de Danika Kei, uma bebê linda e saudável. Até que, aos três anos, foi necessário iniciar uma jornada intensiva para tratamentos de saúde da pequena.

“Ela teve um câncer no cérebro e fomos para [o hospital de] Barretos. Ficamos um ano lá, tivemos o apoio de um rapaz desconhecido, que nos emprestou um carro por um tempo. Ela fez radioterapia e quimioterapia e foi curada”, relata Marcos.

Com a alta médica, a família voltou para Rio Branco. No entanto, em 2019 a pequena precisou voltar para a cidade paulista, após sofrer dois episódios de acidente vascular cerebral (AVC).

“Ficamos mais um ano em Barretos. Foram seis meses no hospital, com traqueostomia e gastrostomia. Ela ficou bem ruim na unidade de tratamento intensivo [UTI]. Mas hoje está se recuperando”, conta o pai.

Forte, alegre e sorridente, atualmente Danika Kei está se recuperando com os tratamentos disponíveis no estado. Faz hidroterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, equoterapia e acompanhamento fonoaudiológico.

“O que eu destaco da Danika é o alto astral dela: já acorda sorrindo, não reclama da vida, não chora e não faz corpo mole, embora tenha uma rotina muito intensa com a escola e os tratamentos. Ela nos inspira e é muito positiva e amorosa”, elogia o pai, orgulhoso da resiliência da filha.

Tantas provações estão influenciando também os sonhos de Danika: ela quer ser médica e ajudar outras crianças.

Pai presente
Embora o início do tratamento tenha sido difícil e marcado por questionamentos existenciais sobre o porquê de tudo aquilo estar acontecendo, Marcos acolheu como missão os cuidados com a filha.

Dessa vez, não uma missão militar, mas afetiva. Com a nova compreensão, ele incentiva outros pais a se fazerem presentes na vida dos filhos.

“É um grande dilema quando descobrimos que temos um filho ou filha deficiente. Pode acontecer com qualquer um, e não podemos entender isso como um sofrimento. Eu compreendi que ela me escolheu para ser seu pai, e é minha missão cuidar dela, para que se recupere ao máximo e seja feliz”, enfatiza.

Além da participação ativa na vida dos filhos, Marcos lembra que é importante que todos os pais e especialmente os de crianças com deficiência somem forças com a mãe na criação e na luta pelos direitos dos pequenos.

Num país em que, segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11 milhões de mulheres criam os filhos sozinhas, Kinpara traz um conselho bastante oportuno: “Tem muito pai que fica envergonhado e deixa só a mãe resolver as coisas. Então quero fazer esse chamamento para os pais participarem. É importante essa interação com as mães”.

Direitos fundamentais
Kinpara se uniu à mãe de Danika, Joelma Lima, na luta pelos direitos da filha, que cursa o ensino fundamental em uma escola pública de Rio Branco.

“Essa questão dos direitos dela, tanto no âmbito federal, como estadual e municipal, precisa de sensibilidade e fiscalização. Acionamos a prefeitura, a Secretaria de Educação e o Ministério Público, porque a escola precisa ser acessível e a prefeitura precisa se adaptar. Somos a voz dela”, explica o pai, que já ganhou uma ação para dispor de meios de acessibilidade na escola onde a menina estuda.

Celebração de Dia dos Pais
Em comemoração ao Dia dos Pais, a pequena Danika Kei sugere que vai haver surpresa, e, pousando o dedo indicador sobre lábios, comunica que há um segredo a ser guardado até a hora certa.

“Comemorar o Dia dos Pais com a Danika é sempre especial. Para a gente, ela é como uma dose de vitamina que tomamos diariamente, é uma lição a força dela. Ela tem uma aura de positividade e alegria. Até quando vai fazer exames está sorrindo. É uma ótima filha”, comemora o pai.

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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