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Ampliando conhecimento do café clonal no Vale do Juruá


Agricultores familiares, técnicos da extensão rural, pesquisadores e estudantes dos municípios de Mâncio Lima e Cruzeiro do Sul participaram de Dia de Campo sobre produção de café no Juruá, realizado pela Embrapa Acre, nos dias 13 e 14 de junho. O evento abordou tecnologias e informações técnicas para as diferentes etapas da cultura, com foco no cultivo das variedades de cafés clonais conhecidas como Robustas Amazônicos. Em Mâncio Lima a atividade foi realizada na Chácara Vô Raimundo, uma das primeiras propriedades rurais da região a investir na produção de cafés Robustas. Em Cruzeiro do Sul, o encontro aconteceu no Projeto de Assentamento Rural Familiar (PAF) Recanto, localizado no Ramal 12.

Segundo o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologias da Embrapa Acre, Daniel Lambertucci, o evento atendeu demandas de produtores que apostam na cafeicultura e necessitam atualizar conhecimentos para melhorar o desempenho das lavouras e a qualidade do café produzido. Tanto Cruzeiro do Sul como Mâncio Lima apoiam a cadeia produtiva do café, desde 2018, por meio de programas para o fortalecimento da produção conduzidos pelas prefeituras locais.

“Os agricultores contemplados por essas políticas municipais fizeram da cafeicultura uma atividade econômica rentável. Mas a cultura requer a adoção de práticas adequadas para garantir bons resultados na produtividade e grãos de qualidade. Por meio dessas atividades de campo podemos demonstrar conhecimentos técnicos de forma prática, nos cultivos conduzidos nas propriedades rurais. Ao mesmo tempo, contribuímos com a capacitação de profissionais que acompanham os produtores”, destaca o gestor.

Os Dias de Campo fazem parte das ações contempladas por emenda parlamentar aprovada pelo deputado federal Jesus Sérgio, executadas pela Embrapa, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri). As prefeituras municipais, a Universidade Federal do Acre (Ufac/campus Floresta) e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) foram parceiras no evento.

Compartilhamento de experiências

Além de palestras sobre manejo nutricional do cafeeiro, podas na condução das lavouras e Boas Práticas de colheita e pós colheita, em cada município, os participantes também conheceram práticas com a cafeicultura. O agricultor Francisco Romualdo da Silva, da Chácara Vô Raimundo, abriu as portas da sua propriedade para compartilhar a sua experiência. Ele cultiva café há quatro anos, em uma área de apenas 1,2 hectares, com plantios escalonados.

“Temos dois mil pés de café que já estão na terceira safra, e outro plantio com a mesma quantidade onde estamos realizando a segunda colheita. A média de produção na cultura é de 120 sacas por hectare, resultado excelente possibilitado pelo uso de clones indicados pela pesquisa, incluindo materiais recomendados pela Embrapa. Também utilizamos um balanceamento nutricional adequado e um sistema de irrigação eficiente. Toda a produção é destinada ao processamento do Café Vô Raimundo, marca registrada pela família, que já está no mercado acreano”, explica.

O projeto familiar da Chácara Vô Raimundo envolve todas as etapas da produção, iniciando com a formação de mudas para os plantios. O café processado é distribuído para diferentes pontos de vendas de Mâncio Lima, outros municípios do Juruá e na capital, Rio Branco.

O agricultor familiar Jairo Meireles Carioca, morador do Projeto de Assentamento Rural Familiar (PAF) Recanto, no Ramal 12, em Cruzeiro do Sul, também recebeu os participantes em sua propriedade. Natural do Espírito Santo, ele veio de Rondônia para o Juruá, onde conheceu os cafés clonais e aposta na produção com essas variedades desde 2017.

“Com a ajuda da prefeitura e do Senar implantei os primeiros cafezais e não me arrependo. Muitos produtores do ramal, na época, não acreditaram que minha experiência daria certo e hoje também investem na cultura. Isso mostra que o café já é uma realidade na região e pode trazer mais renda e melhor qualidade de vida para os produtores”, afirma.

Expansão da Cultura
Em 2017, a Embrapa, por meio de pesquisas desenvolvidas em parceria com a Ufac, recomendou 10 clones de cafés Robustas Amazônicos para a região do Juruá. Esse material genético permite produtividade superior a 100 sacas de grãos por hectare e tem contribuído para o fortalecimento da cultura no Estado. Além disso, a Empresa tem investido em pesquisas para melhoria do manejo de irrigação em cafeeiros, técnica que potencializa o desempenho produtivo dos cafés clonais.

Nos últimos seis anos, a cafeicultura no Juruá teve uma expansão anual expressiva, com a substituição de antigos cafezais seminais por cultivos formados com as variedades clonais Robustas Amazônicos. Nos últimos dois anos, foram plantados cerca de 250 hectares de café na região e, segundo estimativas de órgãos municipais de incentivo e apoio à produção, na próxima safra a área plantada com a cultura poderá triplicar. Esse avanço é fruto de ações conjuntas de diferentes instituições, em parceria com os produtores.

Para a secretária de Produção e Abastecimento de Mâncio Lima, Alana de Souza, o município tem condições climáticas muito favoráveis para o cultivo de café clonal. Eventos técnicos, como esse, contribuem com conhecimentos sobre práticas adequadas nas diferentes etapas da produção, principalmente adubação e irrigação, essenciais para garantir alta produtividade e qualidade dos grãos.

“Procuramos investir em uma atividade agrícola que garantisse a geração de trabalho e renda para as famílias da região. Inspirados pelo sucesso da cafeicultura em Rondônia, buscamos capacitação técnica e investimos na aquisição e distribuição de mudas de qualidade. Este ano, já foram distribuídas 440 mil mudas e superamos nossa meta de um milhão de pés cultivados. Com o uso de clones indicados pela pesquisa, alcançamos números recordes na produção”, finaliza.

Região tem potencial
O professor Leonardo Tavella, do Campus Floresta da Ufac, em Cruzeiro do Sul, instituição parceira da Embrapa nas pesquisas com cafeicultura no Juruá, foi um dos palestrantes no Dia de Campo. Ele acredita que a união de esforços entre essas instituições, as prefeituras e os produtores rurais tem sido fundamental para o êxito na implantação e condução dos cultivos de café clonal.

“Atualmente, temos uma base genética de plantas bem significativa no Juruá. São mais de 20 clones, sendo dez desenvolvidos e testados pela Embrapa. Já estamos na quarta colheita e a média de produção é de 85 sacas por hectare, em cultivo sequeiro. Em lavouras irrigadas, a produtividade pode superar 100 sacas por hectare”, afirma.

O técnico da Fazenda Experimental da Ufes/São Mateus, Alex Campanharo, palestrou sobre nutrição do cafeeiro, envolvendo o preparo do solo, adubação de formação e adução de produção. Na sua opinião, esses conhecimentos ajudam a evitar erros em etapas cruciais da cultura, como o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas, e asseguram bons resultados na produtividade.

“Quando o produtor investe em adubação adequada, de acordo com a necessidade de nutrientes do solo, e realiza um bom manejo nutricional de acordo com as exigências da planta, ele gera condições para a lavoura ser produtiva. Isso reduz riscos de perda e proporciona respostas mais positivas na colheita”, enfatiza.

Campanharo visitou propriedades produtoras de café de Mâncio Lima e conversou com agricultores com diferentes níveis de tecnificação. Para o especialista, embora a maioria dos produtores atue com pequenos cultivos e pouco uso de tecnologias, há um cenário muito promissor para a cafeicultura na região. Mesmo com o apoio de instituições locais, é necessário ampliar os serviços de assistência técnica.

“A região tem potencial para a cafeicultura e oferece a possibilidade de agregar valor à produção, com um café diferenciado, em função das condições climáticas propícias da Amazônia. Embora a produção seja essencialmente de base familiar, já existem viveiristas credenciados que fornecem mudas de qualidade e também orientam sobre práticas de manejo. Outro ponto positivo é a existência de uma cooperativa ligada ao setor cafeeiro, em Mâncio Lima, que já reúne cerca de 90 produtores, e representa um grande suporte para a cultura na região”, destaca.

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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