Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta quinta-feira (01/09), mostra que os rendimentos habituais reais médios do trabalho apresentaram queda de 5,1% no segundo trimestre de 2022, em comparação com o mesmo trimestre de 2021, uma queda menos acentuada que a do trimestre anterior, de 8,7%. Dados mensalizados pelo Ipea revelam que o rendimento médio real em junho foi igual ao observado no mês anterior e 1,5% maior que o observado no fim do primeiro trimestre. Já a taxa de domicílios sem renda do trabalho retornou para os 22,2% observados no final de 2021.
O pior impacto da queda nos rendimentos no segundo trimestre de 2022 ocorreu entre os trabalhadores do setor público: reduções de 9,8% na renda habitual e efetiva frente ao mesmo período de 2021. Por sua vez, os empregados no setor privado, que no trimestre anterior haviam observado uma melhora na margem, tiveram uma queda da renda no segundo trimestre de 2022 (cerca de 4,5%). Os trabalhadores informais apresentaram um aumento da renda efetiva, com acréscimo de 6% para aqueles por conta própria e de 1,5% para os sem carteira assinada.
A queda maior da renda entre os servidores públicos se reflete, em parte, na maior redução dos rendimentos dos domicílios de renda mais alta. Ao mesmo tempo, explica parcialmente a diminuição da desigualdade de renda captada pelo índice de Gini nos últimos trimestres. Após o pico de desigualdade causado pela pandemia, o índice se reduziu continuamente em 2021. No segundo trimestre de 2022, porém, houve uma reversão dessa tendência de queda, tendo o Gini subido de 0,510 para 0,515 para a renda domiciliar do trabalho e de 0,481 para 0,489 para a renda individual.
Apesar da redução dos rendimentos habituais médios observada nos últimos meses, dado o contexto da pandemia, a recuperação da população ocupada mais que compensou o impacto negativo na massa salarial real habitual. No segundo trimestre de 2022, a massa habitual foi 4,8% superior à de um ano atrás (somando R$ 255,7 bilhões, valor R$ 11,7 bilhões maior que no ano anterior) e houve um crescimento de 6% da massa efetiva, em comparação com o ano anterior, totalizando R$ 258,4 bilhões.
O recorte regional indica que as maiores quedas na renda efetiva, frente ao mesmo período do ano passado, foram registradas no Sudeste e Sul: 4,5% e 5%, respectivamente. Apenas a região Norte apresentou aumento da renda no segundo trimestre de 2022 (0,8% da renda habitual e 1,3% da renda efetiva).
Os trabalhadores mais jovens tiveram pequeno aumento da renda efetiva no início de 2022, mas voltaram a ter queda na renda no segundo trimestre. Somente os trabalhadores de 25 a 39 anos apresentaram aumento da renda efetiva (0,4%) entre abril e junho. Sob a ótica do ensino, as quedas da renda efetiva foram mais intensas entre os trabalhadores com maior nível de escolaridade (3,9%).
A análise dos rendimentos efetivos e habituais recebidos pelas mulheres nos quatro últimos trimestres revela quedas superiores às dos homens. No segundo trimestre, por exemplo, elas tiveram redução de 4,7% na renda efetiva, contra 3,1% dos homens, e de 6% na renda habitual, ante 4,1% deles.
Seguindo o padrão durante a pandemia, a maior parte dos setores apresentou aumento da renda habitual durante 2020 e queda da renda efetiva. As atividades mais dependentes da circulação de pessoas sofreram maior redução da renda efetiva em 2020: transporte, comércio, construção, serviços pessoais e coletivos, alojamento e alimentação. É justamente esse maior impacto que explica a recuperação da renda efetiva nesses setores após a segunda metade do ano de 2021.
Essa característica foi mantida na primeira metade de 2022: os setores mais formais e com trabalhadores mais qualificados apresentam maior queda da renda, com destaque para a administração pública (renda habitual 11,3% menor no segundo trimestre de 2022), educação e saúde (redução de 11,9%), além da indústria (6,5%) e serviços profissionais (4,7%). Por sua vez, setores mais informais e de menor qualificação mostraram crescimento da renda, como transporte (5,8%), construção (5,1%), serviços pessoais e coletivos (4%) e alojamento e alimentação (4,6%).
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