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Trilha Chico Mendes: o turismo de base comunitário fortalecendo a economia do Acre

Por SOS Amazônia –

Fortalecer o turismo de base comunitária é uma alternativa para conciliar o desenvolvimento econômico e a proteção dos recursos florestais. Criada em 2008, a Trilha Chico Mendes passa por uma reestruturação em seu percurso, com o objetivo de potencializar seus atrativos turísticos e ampliar sua capacidade de receber visitantes. O processo é conduzido pelo Nossabio – Territórios Conservados, projeto desenvolvido pela SOS Amazônia, que faz parte do Legado Integrado da Região Amazônica (LIRA/IPÊ)*.

Com recursos do Nossabio, foram construídos um ponto de almoço e dois redários para pernoite, onde os visitantes podem atar rede ou montar barraca. Essas estruturas são de madeira, com cerca de 24 metros quadrados e cobertas por palha ou cavaco (pedaços de madeira). Também foram construídos três banheiros de alvenaria, com sistema de captação de água e bomba com placa solar.

Além das obras, estão previstas ações de capacitação dos guias e dos moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes para condução e acolhimento dos turistas. O trabalho do guia e dos condutores locais é sensibilizar o visitante para a importância da conservação da floresta em pé. Nesse sentido, as oficinas promovidas pela SOS Amazônia alertam para a conscientização ambiental, com foco também na coleta e destinação adequada de resíduos sólidos.

A comunicação é outro eixo relevante dos investimentos, com a produção de folders, banners, spots e até aplicativo de celular, que irá apresentar os atrativos da trilha e depoimentos dos moradores.

Participam das ações a Associação dos Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes em Brasileia e Epitaciolândia (Amoprebe), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Secretaria de Empreendedorismo e Turismo do Acre. “A assessoria e as orientações desses parceiros são fundamentais para realizarmos essas atividades na Trilha Chico Medes”, conta Adair Duarte, coordenador de Projetos da SOS Amazônia.

Redário de madeira coberto por cavaco para pernoite dos turistas (Foto: SOS Amazônia)

Corredor ecológico
Há anos, a Resex Chico Mendes figura entre as Unidades de Conservação mais ameaçadas do país, como resultado da atividade pecuária e da ocupação ilegal de terras. Nesse cenário, a trilha também sofre pressão do desmatamento e, em seu trajeto, atravessa áreas de pastagem. Para reverter esses impactos, a SOS Amazônia vai concentrar esforços para recuperação florestal em alguns trechos desmatados, por meio do projeto Faça Florescer Floresta, executado através de parcerias corporativas e doações espontâneas no site.

Atânia Araújo, técnica em Agroecologia, explica que a proposta é compor corredores ecológicos, com espécies frutíferas e florestais, em uma faixa de 20 a 30 metros a cada lado da trilha. “O trabalho terá início com a captação de imagens de drone e georreferenciamento das áreas em que será feita a recuperação da cobertura vegetal”, diz.

Adair Duarte complementa que, nas áreas de plantio, serão implantados Sistemas Agroflorestais (SAFs), isto é, o consórcio de espécies florestais, frutíferas e agrícolas. “Entre benefícios ambientais e econômicos, os SAFs contribuem para a segurança alimentar das comunidades, já que sua produção pode ser manejada, comercializada e consumida para subsistência. Com o crescimento das espécies arbóreas, o plantio se recompõe à paisagem florestal”, avalia.

Seringueira, símbolo do extrativismo na Amazônia, é uma das espécies florestais encontradas na Trilha Chico Mendes (Foto: SOS Amazônia)

Cultura e natureza
Todo o percurso da trilha está localizado no município de Brasileia, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, Unidade de Conservação Federal sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A trilha tem início na colocação do senhor Dimas e termina na colocação do senhor Anacleto Maciel, totalizando 45 quilômetros, divididos em três dias de caminhada.

O visitante percorre diferentes ambientes dentro do bioma Amazônia, como áreas abertas, de várzea e de floresta, bem como transpor pequenos rios e igarapés. No caminho, árvores de grande porte (como a samaúma e o cumaru ferro), árvores medicinais (como a copaíba e a andiroba), além das icônicas seringueira e castanheira, símbolos do extrativismo na Amazônia, no passado e no presente. Com sorte e olhar atento, é possível contemplar diferentes espécies da fauna local, como aves e mamíferos.

Além do contato com a natureza, a Trilha Chico Mendes tem um diferencial: a região foi palco de um momento decisivo na história do Acre e de toda a Amazônia, com o movimento socioambiental liderado por Chico Mendes, nas décadas de 1970 e 1980, contra o desmatamento e o avanço da pecuária. Ainda hoje, ao pernoitar na casa de extrativistas, é possível relembrar momentos marcantes dos empates e ouvir histórias sobre o modo de vida na floresta, suas lendas e mistérios.

Embora seja uma trilha de médio percurso, é necessário ter cautela porque existem animais peçonhentos e obstáculos da natureza, que fazem parte da aventura e a tornam ainda mais desafiadora e instigante.

Projeto Nossabio
*O Projeto Nossabio foi aprovado em dezembro de 2019, por meio do Legado Integrado da Região Amazônica (LIRA), programa brasileiro de conservação idealizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), com recursos do Fundo Amazônia e da Fundação Gordon e Betty Moore. O programa foi concebido para aumentar a efetividade de gestão das áreas protegidas da Amazônia, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, bem como estruturar cadeias de valor a partir de produtos da sociobiodiversidade, como açaí, borracha e cacau.

Cerca de 315 famílias são contempladas em cinco Unidades de Conservação (UCs): Reserva Extrativista Chico Mendes, Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional de São Francisco, Florestal Nacional do Macauã (no Acre) e Parque Estadual de Guajará-Mirim (em Rondônia). A SOS Amazônia realiza o projeto em estreita ligação com organizações sociais, cooperativas e associações extrativistas de cada uma das unidades.

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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