Rastreabilidade diz onde há necessidade de regularização ambiental

Durante o segundo dia de evento do lançamento do “Diálogo sobre a sustentabilidade e a rastreabilidade da cadeia da carne bovina e do couro”, transmitido em dezembro de 2022, o Coodenador de Projetos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Lisandro Inakake, falou sobre o papel que a rastreabilidade desempenha dentro das cadeias produtivas.

“Ela [rastreabilidade] possibilita identificar onde estão as necessidades para a regularização ambiental e fundiária; permite direcionar as políticas públicas e identificar e segregar fazendas que apresentam desmatamento, invasão de terras públicas, trabalho escravo, dentre outras irregularidades, assegurando aos compradores a origem da carne e a qualidade atribuída ao que se consome”, explicou Inakake.

Trazendo a perspectiva do produtor para o debate, o pecuarista de Paragominas, no Pará, Mauro Lúcio afirmou que a rastreabilidade é fundamental para o negócio como ferramenta de gestão. “Ao saber a origem dos animais, descubro quem são os meus melhores fornecedores ao observar os animais que ganham mais peso e aqueles que não estão ganhando. Isso só é possível se cada um deles tiver uma identificação”.

Ainda de acordo com Lúcio, o discurso de que é necessário desmatar para gerar emprego e renda não condiz com a realidade atual. “O que precisamos é investir em tecnologia nas propriedades para produzirmos muito mais. Assim, é possível buscar novos mercados e ter preços mais competitivos para poder dar continuidade ao negócio”, apontou.

A importância da regularização ambiental e da cooperação

Após discussões com os principais fabricantes de couro baseados no Brasil, a diretora de Assuntos Econômicos da Divisão de Cooperação Econômica e Comércio Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE), Maria Teresa Pisani, e o especialista em Soluções de Blockchain da UNECE, Andrea Redaelli, falaram sobre os elementos-chave para o sucesso da sustentabilidade na indústria de carne e de couro.

Os principais foram: a cooperação entre as várias partes interessadas (governo, indústria – incluindo agricultores, frigoríficos e curtumes -, associações e sociedade civil); incentivos para garantir que os produtores não precisem aumentar o desmatamento para obter crescimento contínuo; educação sobre melhores práticas para maximizar o rendimento e encorajar o crescimento e reintrodução de espécies nativas; apoio independente no local para ajudar os agricultores com infraestrutura e equipamento; e, por fim, um sistema eletrônico que utilize mecanismos existentes.

Segundo os dois integrantes da UNECE, a tecnologia blockchain está sendo aplicada na rastreabilidade em outras cadeias, como a do algodão.

A Diretora de Sustentabilidade da Friboi/JBS, Liège Vergili, destacou a necessidade de avançar em temas que ficaram “congelados” ao longo dos anos, como a validação do CAR (Cadastro Ambiental Rural), e a conclusão da implementação do Código Florestal.

Vergili destacou que o Brasil, apesar de ser um país tão grande com tantos desafios para se adequar à agenda da sustentabilidade, também possui uma capacidade produtiva enorme. “Para isso, é necessário que façamos parcerias. Nesse sentido, contamos com a indústria, não só de carne bovina, mas de diversas outras voltadas a diferentes insumos da cadeia pecuária. Precisamos e temos estimulado diversos financiamentos, pagamentos por serviços ambientais, além das parcerias público-privadas”.

O Gerente Sênior de Sustentabilidade da Durli Couros, Ivens Domingos, reforçou a necessidade de uma agenda positiva que discuta, entenda e enderece os problemas. “Não podemos abandonar a capacitação dos produtores, mas sim transmitir as informações e dados para essa construção que sejam baseados na ciência. Parcerias e financiamentos nos ajudarão a vencer essas questões, não será uma empresa ou um setor que, sozinho, conseguirá enfrentar todos os desafios”.

O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Governo do Estado do Pará (Semas-PA), Mauro Ó de Almeida apresentou a plataforma de rastreabilidade SeloVerde, desenvolvida pelo governo do Pará. Esta plataforma é uma das iniciativas inovadores que permite o cruzamento de dados de diversos sistemas de controle e gerenciamento existentes no Brasil, para informar, sobretudo, se a produção agropecuária está de acordo com a base do CAR, se adequando às diretrizes ambientais.

“Ela não é a panaceia para todas as questões, mas um instrumento importante para dar, principalmente, transparência à cadeia produtiva, garantindo a confiabilidade do nosso mercado. É importante que haja interação entre as outras plataformas que já existem e que todas conversem entre si para dar uma certificação geral”, disse o secretário.

Confira as apresentações dos palestrantes:

Mauro Lúcio, Pecuarista de Paragominas, no Pará

Ivens Domingos, Gerente Sênior de Sustentabilidade da Durli Couros

Lisandro Inakake, Coodenador de Projetos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA)

Maria Teresa Pisani, Diretora de Assuntos Econômicos da Divisão de Cooperação Econômica e Comércio Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (UNECE) e Andrea Redaelli, Especialista em Soluções de Blockchain da UNECE

O evento

A série “Diálogo sobre a sustentabilidade e a rastreabilidade da cadeia da carne bovina e do couro” é uma realização da União Europeia, por meio do Programa AL INVEST Verde, com apoio do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

O objetivo é reunir os principais atores para discutir a sustentabilidade e a rastreabilidade das cadeias de valor da carne bovina e do couro no Brasil, identificando as melhores práticas e iniciativas futuras, com foco em cadeias de suprimentos para a União Europeia.

No total, serão cinco workshops que acontecerão ao longo de oito meses. Ao final, será feito um estudo técnico que irá consolidar todas as informações reunidas durante o período, dentre outras iniciativas que possam contribuir para o objetivo.

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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