Com foco na proteção do solo e dos recursos hídricos, o Ministério da Agricultura detalhou, na Câmara dos Deputados, o Programa Águas do Agro, com lançamento previsto para este semestre. Já o MapBiomas, que reúne pesquisadores de ONGs e universidades, anunciou a organização de mais de 30 anos de dados históricos dos incêndios florestais, na coleção “Cicatrizes do fogo no território brasileiro”.
Também na reunião, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Universidade Federal do Acre (Ufac) fizeram novos alertas diante da iminência de incêndios florestais ainda mais intensos do que os do ano passado. O debate ocorreu em audiência da Comissão Externa sobre Queimadas nos Biomas Brasileiros.
O sinal da chegada da nova temporada de incêndios florestais foi mostrado pela professora da Universidade do Acre Sonaira da Silva, doutora em ciências florestais tropicais. Por meio de imagens de satélite da segunda semana de agosto, era visível a presença de fumaça entre as nuvens na região da Amazônia Legal.
“No sul do Pará e em regiões de Rondônia e do Acre, a gente vê a formação de muita fumaça e como os ‘rios voadores’ – esses ventos predominantes – levam, além de água, a fumaça para uma escala regional. Quando tem muita fumaça e ela se mistura à formação de nuvens, as partículas podem competir com a formação de gotas de água e inibir a formação de chuva”, explicou.
Aquecimento global
Sonaira da Silva também lembrou dos extremos de seca e de enchente no Acre cada vez mais frequentes, devido ao crescente cenário de desmatamento, queimadas e uso inadequado do solo. Só neste ano, sete cidades do estado foram alagadas nas cheias dos rios acreanos, enquanto outras duas cidades já estão, neste momento, com alerta de crise hídrica.
Diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar citou o novo relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU, divulgado neste mês com alertas sobre o avanço acelerado do aquecimento global e o risco de irreversibilidade de alguns de seus efeitos.
Diante da dificuldade de mitigar as condições ambientais, Ane Alencar apela que o governo intensifique, pelo menos, o controle dos outros dois elementos dos incêndios florestais: as pessoas, responsáveis pelas fontes de ignição, e o material combustível, representado pelas folhas e galhos secos deixados para trás nos processos de desmatamento em curso.
“A gente viu o alerta muito forte do IPCC sobre as condições ambientais, que é um dos elementos principais para o fogo ocorrer. Mas a gente pode controlar a fonte de ignição com comando e controle e incentivo às boas práticas”, afirmou.
Ane Alencar ajudou a elaborar a coleção “Cicatrizes do fogo no território brasileiro”, que será lançada pelo MapBiomas no próximo dia 16 com informações para a compreensão do histórico e da dinâmica das queimadas no País.
Coordenadora de conservação de solo e água do Ministério da Agricultura, Soraya de Araújo antecipou detalhes do Programa Águas do Agro, que o governo pretende lançar, ainda neste ano, com foco em desenvolvimento sustentável e preservação da biodiversidade e dos recursos hídricos.
O programa reconhece que os incêndios florestais aumentam as emissões de gases poluentes, comprometem a cadeia alimentar e aumentam a erosão do solo e o assoreamento de córregos e rios, com forte impacto na produção agrícola. Segundo Soraya, o programa terá ações de capacitação, assistência técnica e gerencial, além de amplo monitoramento.
“É para todos os biomas, justamente para a gente melhorar as questões física, química e biológica do solo, melhorar a infiltração da água, fazer com que o ciclo hidrológico se cumpra e manter a umidade do solo. Nesse sentido, a gente vai ter um solo mais saudável e mais rico em matéria orgânica. Teremos uma produção melhor, mantendo a biodiversidade e diminuindo um pouco do impacto dos incêndios florestais”, explicou.
Monitoramento dos riscos de incêndio
Pesquisador do Inpe, Fabiano Morelli anunciou o aprimoramento dos instrumentos que monitoram os riscos de incêndios florestais no País. Ele pediu investimentos no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) a fim de permitir avanços em estudos específicos sobre impacto do fogo, métodos de mitigação das queimadas e desenvolvimento de novos produtos de monitoramento por satélite.
Além do CNPq, a coordenadora da comissão especial, deputada Professora Rosa Neide (PT-MT), pediu investimentos também por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“Recursos para o CNPQ e para a Capes no Brasil são tão importantes quanto o ar que respiramos. Só as pesquisas nos mostram o caminho. O País não pode ser o maior produtor de grãos do mundo e, daqui a pouco, nós termos a maior área desértica do mundo porque não soubemos tratar o solo e a água que temos com o devido cuidado”, disse a deputada.
Rosa Neide pediu sugestões para aperfeiçoar o projeto de lei (PL 11276/18) que cria a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. Ela disse ter conversado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para tentar acelerar a tramitação da proposta, que oferece soluções para impedir as queimadas descontroladas.
Fonte: Agência Câmara de Notícias
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