Comitê médico teme retrocesso vacinal no Brasil

O Brasil é hoje um dos países com o maior número de mortes associadas à Covid-19 por milhão de habitantes do mundo, de acordo com o Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Passados mais de ano e dois meses da confirmação do primeiro caso, a pandemia do SARS-CoV-2 segue provocando alterações profundas no comportamento social e em nossas atividades preventivas de saúde.

O sinal de alerta tem de continuar aceso – uma responsabilidade que é de todos nós, os cidadãos. Preocupa-nos, aos médicos, que a imunização rotineira contra diversas doenças não tenha sido compreendida pela população como serviço essencial, imprescindível, e que, portanto, deve ser mantido mesmo durante a crise sanitária1.

Já em queda nos anos recentes, as coberturas vacinais foram fortemente impactadas em 2020, quadro que não mudou neste início de 2021. Assim, vemos sob ameaça importantes avanços, como a eliminação da poliomielite, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, o controle da coqueluche, difteria e de tantas outras doenças. É real o risco de reintrodução neste cenário de baixas coberturas vacinais2.

Devido à alta transmissibilidade e seu potencial de gravidade, o sarampo, ainda com circulação ativa em alguns estados do país, é outra preocupação. Aqui e mundialmente.

Interromper a vacinação rotineira, em especial de lactentes, crianças menores de 5 anos, gestantes e outros grupos de risco, bem como as estratégias de seguimento e contenção de surtos (sarampo e febre amarela, por exemplo), pode levar a retrocesso de altíssimo custo humano. No curto, médio e longo prazos, as consequências tendem a ser mais graves do que as causadas pela própria pandemia da COVID-191.

Enquanto os sistemas de saúde se mantêm sobrecarregados, tanto a mortalidade direta causada pela COVID-19, como a mortalidade causada por doenças imunopreveníveis e tratáveis, aumentam de forma significativa2.

Alertas do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e da OMS (Organização Mundial da Saúde), sugerem que, em consequência da COVID-19, mais de 117 milhões de crianças de 37 países podem deixar de receber a vacina que protege do sarampo. Campanhas de vacinação contra essa doença foram adiadas em mais de 24 países, o que representa risco ainda maior de manutenção desses surtos3,4.

A disseminação do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e a rápida expansão da COVID-19 em todo o mundo impõem a necessidade de distanciamento físico e de isolamento. Estas e outras medidas com o intuito de limitar a transmissão do vírus devem ser consideradas na definição de estratégias seguras para reestimular a vacinação de rotina.1,5,6

A vacinação é uma das prioridades em saúde pública e deve ser assegurada com a adoção de estratégias que preservem a segurança dos profissionais da saúde, da comunidade, dos cuidadores e que se enquadrem nas regras de distanciamento definidas para cada período da pandemia5.

O plano de ação precisa incluir a localização e o seguimento das pessoas que não forem vacinadas (busca ativa) e a avaliação das lacunas na vacinação, a fim de recuperar os atrasos vacinais.

A condução de campanhas de vacinação em massa para conter surtos requer das autoridades de saúde locais a análise individualizada da situação epidemiológica.

Atenção especial precisa ser dispensada à vacinação das crianças no primeiro ano de vida, controle de surtos, vacinação da gestante e idosos e à rotina de vacinação de pacientes portadores de doenças crônicas, bem como às campanhas nacionais de vacinação, como a do vírus influenza (gripe).

Todos os profissionais envolvidos na vacinação devem ser capacitados e receber treinamento sobre a relevância de manter a imunização de rotina de maneira segura. A propósito, cabe a cada gestor definir, de forma responsável, as estratégias para manter as atividades de imunização, evitando aglomerações, considerando o cenário atual de transmissão da COVID-19 e a capacidade instalada disponível.
Esse cenário exige ações imediatas para a retomada das coberturas vacinais, o que. Isso implica na adaptação dos calendários, respeitando as recomendações para cada faixa etária, considerando a multivacinação, ou seja, a aplicação do maior número possível de vacinas na mesma visita, além do encurtamento do tempo entre uma visita e outra, guardando intervalos mínimos entre as doses de uma mesma vacina e entre diferentes vacinas).
Assim sendo, o risco de recrudescimento de doenças graves é uma ameaça real e, portanto, precisamos avançar e estimular a cobertura vacinal de doenças imunopreveníveis.
Por fim, o CEM COVID_AMB vem reforçar que flexibilização exige responsabilidade. Todos devemos seguir à risca as medidas preventivas de distanciamento social. Baixar a guarda em momento de tamanha gravidade é favorecer uma terceira onda, cuja virulência pode ser ainda maior do que as duas iniciais, que tantas perdas humanas causaram.
Neste momento, cabe a todos seguir as melhores evidências científicas e cumprir papel cidadão. Vidas humanas importam e são o que temos de mais caro.

Edmilson Ferreira
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Edmilson Ferreira

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