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Funai diz que indígenas do Acre produzem calçados de borracha

niciativas que impulsionam a autonomia dos indígenas estão cada vez mais presentes nas comunidades espalhadas pelo país. O casal Txãda Shawã, indígena do povo Arara, e Daosha Pássaro Alegre, ambos do estado do Acre, são um exemplo disso. Juntos, eles fundaram a Ararinha Calçados, que produz calçados de borracha de forma sustentável.

Após uma intensa pesquisa sobre o látex orgânico, o casal descobriu tinturas naturais a partir de argila e frutos da floresta, sem agentes petroquímicos e sem resíduos, desenvolvendo um produto totalmente vegano e orgânico de forma autônoma, sem a ajuda de projetos ou parcerias.

O foco é o uso consciente dos recursos naturais, resgatando a identidade seringueira de povos nativos, o que resulta em diversificação da produção e possibilita renda à comunidade, freando o avanço do desmatamento. Num futuro próximo, os indígenas também devem começar a confeccionar bolsas e acessórios.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) entrou em contato com os idealizadores do projeto para saber mais sobre a iniciativa.

Como surgiu a ideia de produzir os Calçados Ararinha?

Daosha – A ideia surgiu após realizarmos uma capacitação de Folha Semi Artefato (FSA), folhas de borracha coloridas e vulcanizadas. A partir daí, visualizei que essas folhas poderiam virar calçados. Txãda Shawã, meu companheiro, buscou látex junto com seu tio, e preparamos as folhas que, na época, não eram com tinturas naturais. A partir daí, comecei a fazer os calçados nos meus próprios pés, o que deu certo.

Qual a relação da produção de vocês com o meio ambiente? Fazem isso de forma sustentável? Qual o tipo de material usado?
Txãda – Trabalhamos com visão ecológica no intuito de preservar cada vez mais a floresta. A coleta do látex é feita de forma sustentável, pelo nosso ancião, Dyã Shawã, conhecido como Varela. Foi o primeiro cacique Shawãdawa e hoje vive na aldeia Arara Encantada.

Ele corta a seringueira, com toda sabedoria passada de pai para filho, com o cuidado de não ofender a árvore, tendo o tempo dela descansar. O látex é extraído com pé de faca e colhido em pequenas tigelas. Depois de recolhido, ele passa pelos processos de vulcanização e tingimento natural. No dia seguinte, passamos na calandra, uma máquina de rolo, e as folhas entram em processo de secagem. Depois, as folhas são utilizadas pelas mulheres para a produção dos calçados.

Como são usados os recursos da venda dos calçados?
Txãda – Somos um instituto que se chama Arara Encantada. Temos 7 famílias morando em uma terra doada por amigos parceiros para trabalhar tanto nos calçados quanto para resgatar e fortalecer nossa cultura. Os recursos estão sendo usados para pagamento dos colaboradores e para comprar insumos, kits de coleta, alimentação. Também utilizamos para a construção da casa de borracha, da casa das mulheres e das famílias e demais infraestrutura necessária, como meios de transporte e comunicação.

Como a pandemia impactou nesse trabalho?
Daosha – A pandemia afetou muito, pois todos que vivem na aldeia Arara Encantada contraíram o vírus, felizmente sem nenhum óbito. Isso atrasou bastante o processo dos calçados, dificultando o rendimento das famílias.

O que representa a concretização desse projeto para vocês?
Daosha e Txãda – O projeto representa uma forma sustentável de manter a floresta em pé, de empoderamento das mulheres, e gera renda para que as famílias envolvidas tenham uma vida digna.

Assessoria de Comunicação/Funai

Edmilson Ferreira
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