Cerca de 20 extrativistas, moradores das florestas nacionais do Macauã e São Francisco, interior do Acre, participaram de uma oficina de manejo do cacau silvestre, promovida pelo projeto Nossabio entre os dias 6 e 8 de abril. O Nossabio compõe o Legado Integrado da Região Amazônica (Lira), uma iniciativa idealizada pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) para aumentar a efetividade de gestão das áreas protegidas da Amazônia.
A oficina contou com apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e foi ministrada pelo técnico agroflorestal Francisco Ony, que abordou aspectos importantes para o cultivo e manejo do cacau silvestre, como limpeza das árvores e dos piques, poda e sombreamento. Os participantes tiveram aula teórica e prática e ainda receberam kits para adoção de boas práticas. Cada kit é composto por bota, terçado, foice, podão, lima chata, serrote, tesoura de poda e machado.
De acordo com o instrutor, essa é uma atividade pioneira nas Flonas e, por isso, apresenta diversos desafios, a começar pelo distanciamento e difícil acesso. “Tudo isso pesa muito para o desenvolvimento da atividade, mas a comunidade tem potencial para o manejo do cacau e conseguimos identificar que tem um fruto diferenciado, o que agrega mais valor a esse trabalho. Agora, vai depender do esforço e dedicação de cada um”, considera Ony.
O empenho de toda equipe do projeto Nossabio surtiu efeito entre os extrativistas por apresentar uma alternativa de trabalho e renda na própria comunidade em consonância com a conservação da floresta. “A gente nunca tinha trabalhado com cacau, mas agora vamos fazer de acordo com o que foi ensinado. Quando chegar na minha área, vou saber o jeito certo de trabalhar com o pé de cacau, junto da natureza todo o tempo”, conta o jovem extrativista Odivan Almeida.
As comunidades das Flonas Macauã e São Francisco já receberam apoio da SOS Amazônia para o desenvolvimento da cadeia de valor da borracha nativa e agora, por meio do Projeto Nossabio, recebem incentivo para o fortalecimento da cadeia do cacau silvestre e implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), consorciando espécies florestais e frutíferas.
“Cada família vai receber apoio para plantar meio hectare de SAF, sendo o carro-chefe o cacau silvestre. A partir de maio, faremos a identificação e mapeamento da área de cada família, com orientações para iniciar o processo de plantio e produção de mudas até o fim do ano”, relata Adair Duarte, coordenador de Projetos da SOS Amazônia. A proposta é que as famílias possam aliar o manejo do cacau nativo com o cultivo do fruto nos SAFs, de modo a aumentar a produção.
Ainda estão previstos a criação de um núcleo de beneficiamento do cacau, o pagamento de ajuda de custo para o manejo do fruto, entrega de kits, oficina de boas práticas e beneficiamento das amêndoas, além de assistência técnica e extensão rural e florestal. As ações também são replicadas na Floresta Nacional do São Francisco.
O Projeto Nossabio foi aprovado em dezembro de 2019, por meio do Legado Integrado da Região Amazônica (Lira), programa brasileiro de conservação idealizado pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), com recursos do Fundo Amazônia e da Fundação Gordon e Betty Moore. O programa foi concebido para aumentar a efetividade de gestão das áreas protegidas da Amazônia, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas, bem como estruturar cadeias de valor a partir de produtos da sociobiodiversidade.
Cerca de 315 famílias são contempladas em cinco Unidades de Conservação (UCs): Reserva Extrativista Chico Mendes, Reserva Extrativista do Cazumbá-Iracema, Floresta Nacional de São Francisco, Florestal Nacional do Macauã (no Acre) e Parque Estadual de Guajará-Mirim (em Rondônia). A SOS Amazônia é responsável pela gestão operacional do projeto em estreita ligação com organizações sociais, cooperativas e associações extrativistas de cada uma das unidades.
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