Apesar das dificuldades impostas pela pandemia de COVID-19, o ano de 2020 foi empolgante para a astronomia. Além de missões espaciais históricas e eventos raros, também foi o aniversário de 30 anos do Telescópio Espacial Hubble. Assim, nada mais justo do que trazer uma retrospectiva com as melhores fotos tiradas pelas lentes do Hubble durante todo este ano.
A galáxia IC 5063, localizada a 156 milhões de anos-luz da Terra, tem uma sombra peculiar. A imagem mostra um contraste de luz e sombra que podemos comparar com o efeito que vemos quando a luz do Sol atravessa nuvens e cria faixas claras e escuras. Alguns astrônomos propõem que esse efeito encontrado na foto do Hubble seja causado por poeira cercando o buraco negro supermassivo localizado no centro desta galáxia.
No coração dessa galáxia existe, de fato, um buraco negro supermassivo, que parece estar cercado por um disco de poeira que não bloqueia totalmente a luz causada pelo disco de acreção. Como há alguns espaços nessa região, a luz flui e forma raios brilhantes em forma de cone.
Em meados de dezembro, astrônomos divulgaram os resultados da observação do anel de Einstein de GAL-CLUS-022058-38303, localizado no sudeste da constelação de Fornax, a Fornalha. Essa formação recebeu o apelido de “Anel Derretido”, e se trata de um dos maiores e mais completos anéis de Einstein já descobertos no universo. Ele foi criado por uma galáxia distante que, por mero acaso, está alinhada diretamente atrás de uma galáxia no centro de um aglomerado de galáxias.
Esse alinhamento resulta em um efeito chamado lente gravitacional. Nesse caso, a lente ocorre em uma galáxia elíptica a 4 bilhões de anos-luz de distância de nós. No anel, podemos ver duas galáxias extremamente distantes, que talvez estejam interagindo e, assim, formam arcos duplos com diferentes cores. Sem a lente gravitacional ampliando e distorcendo a luz desses objetos longínquos, provavelmente não poderíamos observar o que acontece por lá.
Um anel de Einstein ocorre quando a luz de uma galáxia ou estrela passa por um objeto massivo a caminho da Terra. A diferença para uma lente gravitacional comum é que a fonte, a lente e o observador estão todos alinhados, fazendo com que a luz resultante se pareça com um anel.
Você está olhando para um berçário de estrelas, um dos incontáveis locais onde estrelas nascem através do colapso de nuvens de gás e poeira. Neste caso, trata-se de uma nuvem que faz parte de uma categoria conhecida como Glóbulos Gasosos Flutuantes em Evaporação (ou frEGGs, na sigla em inglês). Este objeto fotografado se chama J025157.5+600606.
Quando uma nova estrela massiva começa a brilhar ainda dentro da nuvem molecular fria a partir da qual se formou, sua radiação energética pode ionizar o hidrogênio da nuvem e criar uma grande bolha quente de gás ionizado”, explica o site do Hubble. Dentro dessa bolha de gás quente estão os frEGGs, glóbulos compactos de poeira e gás, alguns dos quais formando estrelas de baixa massa. O limite entre o frEGG e a bolha de gás quente é visto nas bordas roxas/azuis brilhantes nesta imagem.
Também conhecida como galáxia de Rubin, esta é a maior galáxia espiral já descoberta, com aproximadamente 800.000 anos-luz de diâmetro e cerca de 10 vezes mais estrelas do que a Via Láctea. Seu brilho aparente, no entanto, é relativamente baixo, e isso é perceptível através de sua barra, que é bem fraca, assim como parte de seus braços espirais.
Essa galáxia não evoluiu através de colisões ou interações com outras galáxias, por isso a estrutura de seus braços e discos é quase perfeita. Entretanto, surpreende a presença de uma pequena barra, característica que pensava-se existir apenas através de pequenas perturbações gravitacionais provocadas por satélite e galáxias vizinhas, coisa que não aconteceu neste caso.
O apelido “Rubin” é em homenagem à astrônoma Vera Rubin. Foi ela quem mediu o tamanho e a rotação desta galáxia, em 1980, um trabalho que ajudou a trazer evidências sobre a existência da matéria escura.
O cometa C/2019 Y4 (ATLAS), que prometia fornecer um espetáculo no céu noturno de maio, acabou se desfazendo em pedaços e não pode mais ser visto nem mesmo através de telescópios terrestres. Contudo, os cientistas que tinham acesso ao Hubble puderam observar os detritos do cometa.
As imagens obtidas pelo Hubble em 20 e 23 de abril são as mais nítidas até o momento da divisão do núcleo sólido do cometa. Foram identificados até 30 fragmentos separados através do telescópio orbital.
A nebulosa NGC 6302, também conhecida como Nebulosa da Borboleta, é peculiar porque exibe um padrão distinto em forma de S, formado por causa do gás soprado em alta velocidade por ventos estelares de alguma estrela. O “S” aparece apenas quando capturado pelo filtro da câmera Hubble que registra emissão no infravermelho próximo, emitido por átomos de ferro ionizados. É algo raro de se encontrar em nebulosas planetárias.
Com mais de 3 anos-luz de envergadura e temperatura superficial aproximada em mais de 200.000 °C, a nebulosa planetária está localizada a 4.000 anos-luz de distância e tem a NGC 6302 como sua estrela central.
Nesta foto, o Hubble mostrou o planeta Júpiter, revelando algumas mudanças em sua atmosfera. Uma delas aconteceu na mancha que fica logo abaixo da Grande Mancha Vermelha — a Oval BA, também é conhecida como Mancha Vermelha Jr. Nos últimos anos, ela estava perdendo a coloração vermelha que apresentou em 2006, mas agora o núcleo dessa tempestade parece estar escurecendo. Isso pode significar um lento processo que levará o vermelho de volta a esta mancha desbotada.
Além disso, pouco acima da linha do equador, há uma nova tempestade branca e esticada viajando ao redor do planeta a cerca de 560 km/h. Ela veio à tona em 18 de agosto de 2020 e os astrônomos descobriram mais duas delas que apareceram mais tarde, na mesma latitude. A observação do Hubble veio bem a tempo de mostrar a evolução dessa estrutura branca.
Essa imagem que lembra um véu delicado e colorido é, na verdade, uma pequena parte da onda de uma explosão de supernova na constelação do Cisne (Cygnus). O “véu” é formado pela interação entre materiais ejetados e materiais de baixa densidade. Apesar de ter ocorrido há 15 mil anos, a formação continua se expandindo. Por isso a parte mais visual dessa supernova é conhecida como Nebulosa do Véu.
A supernova original do Cisne explodiu há 10.000 e 20.000 anos. Era uma estrela que tinha 20 vezes mais massa do que o nosso Sol e chegou no final de sua vida. Desde a explosão, os restos da supernova seguem em expansão, e já se alcançaram 60 anos-luz do seu centro.
Nem mesmo o Hubble escapou da interferência dos satélites Starlink, da SpaceX, duranate suas observações. Enquanto o telescópio orbital buscava objetos no cinturão de Kuiper, um satélite da empresa de Elon Musk passou a 80 km de distância pelo campo de visão do Hubble, criando uma faixa de 189 pixels de largura na imagem.
Embora não haja risco aparente de colisão — as trajetórias dos satélites e do Hubble são constantemente monitoradas e os operadores estão sempre prontos para uma eventual manobra de emergência —, os Starlinks incomodam muitos astrônomos que tiveram suas observações comprometidas com a passagem dos satélites.
Essa imagem foi selecionada pela equipe do Hubble como destaque durante a comemoração do aniversário deste ano. Trata-se de duas nebulosas; a gigantesca NGC 2014 (laranja) e a NGC 2020 (azul). Juntas, elas fazem parte da Grande Nuvem de Magalhães. A imagem, capturada em luz visível, é apelidada de “Recife Cósmico” porque se assemelha a um mundo submarino.
Ali, as estrelas jovens e brilhantes são pelo menos 10 vezes mais massivas que o Sol, mas elas terão vida curta – apenas alguns milhões de anos, enquanto o nosso Sol somará até 10 mil milhões de anos.
Fonte: CanalTech e Starts With a Bang
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