O jornalista também aponta semelhanças entre Enéas e o ícone da extrema direita francesa, Jean-Marie Le Pen.
Morto em 2007, alguns anos após ter sido eleito o deputado federal mais votado do Brasil da época, com 1,5 milhão de votos, Enéas Carneiro até hoje inspira a extrema-direita brasileira, diz o texto. “Para Jair Bolsonaro, ele é nada menos do que um ‘herói da pátria’, um ‘profissional brilhante’, um ‘exemplo político a seguir’, que ‘nunca cedeu à pressão’. Uma personalidade ‘firme e corajosa, à frente do seu tempo’”, cita a reportagem.
O político, ícone do conservadorismo nacionalista e cardiologista de profissão, é uma figura conhecida dos brasileiros pelo seu bordão, “Meu nome é Enéas”, lançado quando disputou as eleições presidenciais de 1989. A apresentação, sucinta, e que virou motivo de piada, foi criada porque ele tinha pouco tempo de TV no horário eleitoral gratuito. Mas, apesar da fama local, Enéas continua desconhecido no exterior.
Para Meyerfeld, este desconhecimento é um erro, “pois Enéas tem muito a ver com os rumos do Brasil de hoje”. “Ex-grande líder da extrema direita brasileira, falecido em 2007, ele foi um dos políticos mais surpreendentes de sua época, ao mesmo tempo marginal e popular, preocupante e engraçado. De muitas maneiras, ele pavimentou o caminho para o atual mestre de Brasília”, escreve.
Em seguida, o correspondente do jornal traça um perfil de Enéas. “Mas quem foi esse “herói” a quem Bolsonaro tanto gosta de se referir? Enéas Ferreira Carneiro nasceu em 1938 em uma família pobre de Rio Branco, capital do Acre, perdida nas profundezas da Amazônia, filho de um barbeiro e de uma dona de casa. Aos 9, perdeu o pai e, aos 19, mudou-se com a mãe para o Rio de Janeiro”, escreve.
A comparação com o Bolsonaro não vai muito longe, segundo o Le Monde: “Carneiro, ao contrário do Bolsonaro, não era nostálgico da ditadura e se opunha totalmente à censura da imprensa”, continua Caldeira Neto. “Ele também era um antiliberal frenético, contrário à privatização e, sem dúvida, não teria aprovado a linha do atual governo sobre o assunto. Finalmente, Enéas era um médico, um homem de Ciência, um estranho diante do discurso religioso neopentecostal de Bolsonaro”.
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