A reportagem de Daniel Biasetto, de O Globo, relata que no momento em que as entidades indígenas cobram mais ações do governo no combate à Covid-19 nas aldeias, inclusive com a aplicação de mais recursos, a Fundação Nacional do Índio (Funai) abriu um processo interno para ministrar um curso de Pós-Graduação em Antropologia que vai custar R$ 236 mil aos cofres do órgão. O valor, segundo especialistas, seria suficiente para construir uma nova base de proteção aos índios isolados do Acre, que vivem uma drama após contato revelado pelo Globo e podem ser dizimados caso tenham se contaminado.
Com objetivo de “formar servidores públicos que queiram se especializar nesta área do conhecimento humano”, a Funai escalou o chefe para índios isolados e de recente contato, missionário Ricardo Lopes Dias, para coordenar o curso e dar aulas. O Globo teve acesso ao planejamento do curso e à tabela de valores a serem pagos aos professores e coordenadores. Pelo trabalho, além do salário que já recebe pela função que exerce, Ricardo vai embolsar R$ 77,7 mil.
Ricardo, que é antropólogo, chegou a ter a sua nomeação suspensa pelo Justiça Federal, mas o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, concedeu liminar para que ele siga no cargo. O Ministério Público Federal (MPF) recorreu da decisão. O MPF questiona o fato de Ricardo ser ligado à Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), movimento missionário que atua nas aldeias desde os anos 1960, o que cria um conflito de interesses com o cargo que ocupa.
Além de Ricardo, o “especialista” em Antropologia Cláudio Eduardo Badaró será um dos coordenadores e professores do curso denominado Curso de Pós-Graduação Lato Sensu: Cultura, Sociedade e Contemporaneidade. Ele vai receber um pouco menos que o colega: R$ 72,7 mil.
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