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Pesquisa revela modos de cultivo e plantas alimentícias indígenas no Acre

“Os Kaxinawá têm uma agricultura que dialoga muito mais com a floresta do que a convencional. Conhecer todo esse processo é uma oportunidade de gerar soberania alimentar e uma agricultura sustentável para Amazônia”, conclui o pesquisador Tomaz Lanza. Seu estudo de doutorado registrou os modos de cultivo, de uso da terra e espécies alimentícias consumidas pelo povo Huni Kuin, também conhecido como Kaxinawá. A pesquisa foi desenvolvida no programa de pós-graduação em Agronomia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em parceria com a Embrapa Acre.

Os dados foram coletados entre os anos de 2016 e 2020 na Terra Indígena (TI) Kaxinawá de Nova Olinda, localizada no Alto Rio Envira, no município de Feijó, interior do Acre. Lanza realizou visitas de campo nas áreas de produção agrícola e entrevistas com indígenas de ambos os sexos, desde jovens a idosos.

Também fez um diagnóstico socioeconômico da comunidade, a fim de compreender a forma com que o conhecimento vem sendo difundido entre as diferentes famílias no decorrer do tempo. A maior parte das pessoas que trabalham com agricultura são jovens entre 18 e 40 anos e a média das famílias é composta por três filhos. Com as conversas e com outras técnicas de observação, elaborou um calendário de sazonalidade de produção das plantas alimentícias silvestres.

De acordo com o pesquisador, uma das motivações para o trabalho é dar visibilidade a essas experiências que são transmitidas pela oralidade de geração para geração. “Esses indígenas fazem agricultura há séculos, estão aí, resistindo, se alimentando bem. Não vi problemas de desnutrição, de falta de alimento. Uma agricultura ancestral muito produtiva, diversificada e com certeza se eles continuarem nesse processo, terão muito alimento”.

Sistemas e espécies cultivadas

Para a realização do inventário, Lanza fez quatro viagens e 35 entrevistas com famílias que trabalhavam com agricultura nas cinco aldeias que compõem a TI Kaxinawá de Nova Olinda. As incursões duravam entre 15 e 30 dias e contavam com apoio e participação efetiva dos indígenas.

O estudo identificou quatro sistemas de cultivo principais: corte e queima, ou roçado, que envolvem as culturas de ciclo curto como milho e macaxeira, cultivados em área de capoeira ou mata virgem; agricultura de praia, atividade peculiar entre os Kaxinawá, com plantações de amendoim, melancia e feijão; os bananais às margens do rio, onde predominam solo argiloso; e os quintais agroflorestais ao redor das casas, compostos principalmente por espécies frutíferas.

Ao todo, foram encontradas 115 espécies vegetais comestíveis, sendo que 50 delas são cultivadas nesses sistemas agrícolas. Algumas espécies ganham destaque pelo número de variedades identificadas: 20 de banana, 19 de mandioca e 11 de milho.

Em relação às plantas alimentícias silvestres, existentes na mata, foram catalogadas 65 espécies que são utilizadas e manipuladas por meio extrativismo. “A maioria dessas plantas são árvores de grande porte, principalmente as palmeiras. Percebi que eles não fazem grandes colheitas pois costumam consumir os frutos no dia a dia durante as caçadas e andanças nas trilhas”, explica.

Lanza acredita que a variedade de espécies contribui para a soberania alimentar da comunidade pesquisada, por meio de uma agricultura diversificada e resiliente. Alguns alimentos são provenientes da cidade, mas a maior parte da alimentação é oriunda dos roçados cultivados pelos próprios indígenas.

“O caminho de desenvolvimento agrícola da Amazônia passa pela diversificação dos sistemas agroflorestais, principalmente nesse momento em que culturas de grande escala estão entrando na Amazônia, como a soja e a cana”, conclui.

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