O manejo de castanhais nativos da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, é uma atividade produtiva considerada sustentável, por permitir conciliar conservação ambiental e uso dos recursos naturais, mas envolve riscos e ameaças para sua viabilidade no longo prazo. A comercialização e a oscilação na produção anual de frutos são os aspectos mais críticos na avaliação da sustentabilidade da atividade. As conclusões são de uma pesquisa sobre indicadores para monitoramento da sustentabilidade em sistemas de manejo de castanhais nativos, realizada no Mestrado em Agroecossistemas, na Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis-SC). Os resultados do estudo foram apresentados em seminário virtual, no dia 21 de maio.
Com duração de dois anos (fevereiro de 2018 a fevereiro de 2020), o estudo de caso teve a participação de moradores do Seringal Porvir, em Epitaciolândia, um dos sete municípios acreanos que integram a Reserva Extrativista Chico Mendes, unidade de conservação com cerca de um milhão de hectares. De acordo com Fernanda Fonseca, analista da Embrapa Acre e autora da pesquisa, a partir das percepções dos extrativistas e da contribuição de técnicos e pesquisadores, foram definidos 18 indicadores de sustentabilidade para os sistemas de manejo da castanha e parâmetros para a avaliação de cada indicador, representativos das condições necessárias para garantir sustentabilidade à atividade, aplicados na avaliação de quatro castanhais nativos, em diferentes dimensões.
“Os sistemas de manejo dos castanhais avaliados apresentaram Índices de Sustentabilidade Global (ISG) entre 6,78 e 7,56, em uma escala de 1 a 10. Esse desempenho é considerado aceitável. Entretanto, revela a necessidade de ações de melhoria do processo produtivo para alcançar níveis ideais de sustentabilidade. Os principais problemas identificados estão relacionados com a variação anual na produção de frutos registrada nos últimos anos, baixa diversidade de canais de comercialização, que contribui para a venda de boa parte da produção para atravessadores, e pouca presença de instituições de apoio que garantam a execução de ações estruturantes no sistema produtivo”, afirma.
As recomendações do estudo para melhorar a sustentabilidade dos sistemas de manejo da castanha incluem a realização de pesquisas de longo prazo, que auxiliem na compreensão da relação entre os fatores ambientais associados e a redução na produtividade dos castanhais e permitam verificar a resiliência do sistema frente a eventos climáticos extremos, e o desenvolvimento de parcerias e projetos que permitam aumentar a capacidade de gestão da associação local para buscar mercados diferenciados.
Indicadores de sustentabilidade
Com base nos indicadores de sustentabilidade e nos parâmetros definidos com a comunidade, a pesquisa na Reserva extrativista Chico Mendes avaliou a sustentabilidade do manejo dos castanhais nativos em três dimensões. A avaliação ambiental considerou, entre outros indicadores, a regeneração de novas castanheiras e a presença de castanheiras jovens, a ocorrência de polinizadores e dispersores da espécie e a variação anual na produção de frutos. Para avaliar o aspecto técnico-econômico da atividade foram considerados indicadores como a adoção das boas práticas de manejo da castanha, os canais de comercialização existentes e a renda gerada pela castanha. Na avaliação social, os principais indicadores foram a presença de instituições de apoio, a organização social e a divisão do trabalho e da renda na família.
“Os indicadores de sustentabilidade auxiliam na verificação do ‘estado de saúde’ do sistema, uma vez que permitem identificar os níveis de sustentabilidade das unidades produtivas, os pontos fortes e as fragilidades existentes e ajudam a indicar caminhos para um desempenho desejável. Além de possibilitar o controle de processos produtivos, contribuem para a tomada de decisão com foco na adoção de melhorias. Os sistemas de manejo de recursos naturais são considerados complexos e envolvem múltiplos atores sociais. Por isso, é importante considerar diferentes dimensões na avaliação da sua sustentabilidade, inclusive questões culturais e políticas latentes na comunidade”, explica Fernanda Fonseca.
Efeitos práticos do uso de indicadores
Na Amazônia, o manejo de castanhais nativos é uma atividade realizada de forma tradicional, considerando elementos da cultura extrativista. De acordo com a pesquisa, a manutenção da atividade apresenta desafios e oportunidades para as populações tradicionais e depende do fortalecimento de estratégias de gestão comunitária que visem garantir a sustentabilidade deste recurso natural. Na Reserva Extrativista Chico Mendes, o manejo da castanha está fortemente inserido na reprodução social das famílias envolvidas com a atividade.
Fernanda Fonseca considera os indicadores de sustentabilidade uma ferramenta de grande utilidade para as comunidades, com efeitos práticos na atividade produtiva. Quando bem apropriados e utilizados de forma contínua, esse processo representa uma oportunidade para os extrativistas compreenderem melhor a própria atividade e as múltiplas relações envolvidas, além de permitir prever situações de risco e orientar alternativas para fortalecimento do sistema. “A partir dos resultados gerados, a comunidade poderá refletir sobre as estratégias de gestão envolvidas no manejo da castanha e a necessidade de assegurar sustentabilidade social, econômica e ambiental a esse recurso natural”, ressalta.
Segundo Cleísa Cartaxo, pesquisadora da Embrapa Acre, o extrativismo da castanha gera renda para milhares de famílias rurais, mas, além de retorno econômico, o trabalho com produtos da sociobiodiversidade visa também proporcionar benefícios sociais e ambientais para as comunidades, refletidos na conservação da floresta, manutenção da espécie trabalhada e promoção de bem estar e melhoria da qualidade de vida das famílias produtoras.
“Estudos com foco na sustentabilidade da produção de castanha são essenciais para avançar em aspectos importantes da cadeia produtiva, considerando a sua importância econômica e social para a região amazônica e a base da produção essencialmente extrativa. Contar com indicadores de sustentabilidade dos castanhais manejados, validados pelas famílias extrativistas, permitirá verificar se o nível de coleta da castanha está afetando a floresta de forma negativa e mensurar a adequação das tecnologias utilizadas na atividade de manejo, além de possibilitar conhecer a efetividade do trabalho de pesquisa realizado com as comunidades extrativistas, há vários anos, e proceder a ajustes e adequações nas ações para viabilizar os resultados esperados”, diz a pesquisadora.
Replicação da metodologia
Por contemplar diferentes atributos de sustentabilidade, o conjunto de indicadores para avaliação do manejo de castanhais nativos, gerado pelo estudo no seringal Porvir, pode servir de base para processos semelhantes em outras comunidades. “A metodologia pode ser replicada em outras localidades da Reserva Extrativista Chico Mendes e de outros estados da Amazônia, mas não existem indicadores de sustentabilidade universais. Cada comunidade tem sua realidade, seus valores, sua cultura e particularidades que devem ser consideradas na construção da ferramenta”, diz Fernanda Fonseca.
Concordando com o potencial de uso e validação da metodologia em outras localidades amazônicas, Cleísa Cartaxo pondera que por ser um trabalho participativo, onde o resultado reflete, em boa medida, a visão da comunidade, haverá distinção nos indicadores definidos para cada realidade, especialmente devido a questões culturais. ela acredita que a Embrapa pode apoiar a continuidade do estudo realizado no Seringal Porvir e acompanhar a adoção de ações de melhorias no sistema de manejo de castanhais, assim como contribuir com a aplicação da metodologia em outras comunidades, como estratégia para garantir sustentabilidade na produção de castanha na Amazônia.
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