Novas pesquisas confirmam que tartarugas gigantes nadavam no Acre e em grande parte da Amazônia  há 12 milhões de anos       

É a primeira vez que tais restos de chifres são encontrados, embora a espécie tenha sido descrita pela primeira vez em 1976. Na época, os cientistas descobriram apenas fragmentos de conchas de S. geographicus.

 

Nos pântanos e rios do norte da América do Sul, há 12 milhões de anos, algumas das maiores tartarugas que já viveram travaram batalhas épicas por companheiros e território. Novos fósseis desenterrados na Colômbia e na Venezuela revelam que os 1100 kg de machos da espécie, Stupendemys geographicus, carregavam chifres incomuns na frente de suas conchas de 2,4 metros de comprimento, que eles provavelmente usaram para lutar entre si e afastar os crocodilos mais de três vezes o seu tamanho.  

Segundo os autores de um novo estudo, a Stupendemys geographicus tinha uma distribuição geográfica ampla, num grande arco que ia do estado do Acre ao norte da Venezuela, passando pelo Peru e pela Colômbia. A equipe liderada por Edwin Cadena, da Universidad del Rosario, de Bogotá, acaba de publicar os dados sobre o supercasco da espécie e sobre outros fósseis escavados recentemente na revista especializada Science Advances. Também participa do estudo Orangel Aguilera-Socorro, da UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói (RJ). 

Ao mesmo tempo, uma análise detalhada das gigantescas mandíbulas das tartarugas sugere que elas podem não ter sido os predadores ferozes que alguns cientistas presumiram, mas sim comer moluscos de casca dura e frutas grandes. 

É a primeira vez que tais restos de chifres são encontrados, embora a espécie tenha sido descrita pela primeira vez em 1976. Na época, os cientistas descobriram apenas fragmentos de conchas de S. geographicus. 

Nos últimos 6 anos, porém, o paleontólogo Edwin Cadena, da Universidade Del Rosario e seus colegas descobriram vários fósseis completos de S. geographicus no norte da Venezuela e no deserto de Tatacoa, na Colômbia, que pela primeira vez incluíram fragmentos de uma mandíbula. Esses fragmentos coincidiram com pedaços de mandíbula de fósseis no Brasil e no Peru que foram atribuídos a outras espécies. 

As mandíbulas são iguais o suficiente para que todos os restos devam ser classificados como S. geographicusCadena e seus colegas propõem em um artigo publicado hoje na Science Advances 

Isso significa que essa espécie, que pesava quase o mesmo número de um hipopótomo, percorreu uma grande faixa de território, desde o noroeste do Brasil, passando pelo Peru, Colômbia e até a costa da Venezuela. Na época, a região era uma vasta série de rios e zonas úmidas chamada sistema Pebas. 

 Apesar de suas semelhanças com os fósseis mais antigos, várias das maiores conchas novas têm uma característica única: carregam chifres proeminentes em suas frentes. Os chifres, um dos quais com uma longa cicatriz do lado “são realmente impressionantes e bizarros”, diz Walter Joyce, paleontólogo da Universidade de Fribourg, que não participou da pesquisa. 

 Os pesquisadores concluem que os chifres pertenciam aos machos de S. geographicus, que podem tê-los usado para lutar entre si. Joyce concorda que eles provavelmente eram uma característica masculina. Essa idéia é apoiada por evidências de tartarugas modernas, observam os autores. Alguns machos brigam por companheiros, com o objetivo de virar o oponente de costas. Como o S. geographicus era em grande parte aquático, é provável que eles tenham lutado de maneira diferente, diz Joyce. Mas pouco se sabe sobre o comportamento do parente vivo mais próximo de S. geographicus, uma tartaruga “bizarra” que vive no meio da floresta amazônica. 

As peças recém-descobertas da mandíbula também sugerem que o S. geographicus pode não ter sido o predador parecido com uma tartaruga que estudos anteriores sugeriram. Os novos fósseis têm uma superfície ampla no céu da boca para trituração, sugerindo que o animal poderia ter usado suas mandíbulas poderosas para triturar conchas de moluscos. A grande abertura da tartaruga – com quase 30 centímetros de largura – também pode permitir que ela engula grandes frutos da palma e espalhe suas sementes, como algumas tartarugas fazem hoje. 

Uma dieta tão variada pode ter ajudado o animal a crescer tanto quanto ele, diz Cadena. Esse tamanho provavelmente foi uma defesa útil contra as criaturas semelhantes a crocodilos de 10 metros que também vivem no sistema Pebas, acrescenta ele. Várias conchas de tartarugas fósseis têm marcas de mordida, e uma tem evidência direta de quase um erro: um dente semelhante a um crocodilo ainda incorporado na concha. 

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Edmilson Ferreira
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